Comemorar-se-á, de amanhã a oito dias, mais um Dia Internacional da Mulher.
Oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, é comemorado desde o dealbar do século XX.
A data, simboliza a reivindicação pela igualdade de género e de oportunidades e celebra as conquistas obtidas, entre as quais se inclui o direito ao voto que o filme “As sufragistas” com Carey Mulligan, Helena Bonham Carter e Meryl Streep, bem retrata.
Sem preocupação de qualquer tipo de alinhamento, deixo aqui um breve apontamento a algumas daquelas que marcam e marcarão o presente e o futuro próximos.
Ngozi Okonjo-Iweala
Ex número dois do banco Mundial, é a primeira mulher a liderar a Organização Mundial do Comércio, sediada em Genebra, na Suíça e que tem como função mediar as relações comerciais da quase totalidade dos países do mundo. Já tinha sido a primeira a desempenhar as funções de ministra das Finanças e dos Negócios Estrangeiros no seu país, a Nigéria.
Loujain al-Hathloul
A ativista saudita, após 1001 dias na prisão, onde foi sujeita a infame tratamento, foi libertada a 12 de fevereiro. Foi o rosto da oposição à lei que decretava a proibição de as mulheres sauditas poderem conduzir (entretanto revogada).
Gabriela Gomes
Professora do Departamento de Matemática e Estatística da Universidade de Strathclyde (Glasgow), matemática especialista em epidemiologia.
Cenários, previsões, projeções, curvas, picos… Numa palavra: modelação matemática.
Gerou controvérsia ao declarar que a imunidade de grupo se atinge aos 20%, ao invés de outros que defendem um valor de 70%. Alicerçou a sua tese na heterogeneidade da população. Para já, os resultados não coincidem com as previsões. Bom seria que tivesse tido razão.
Sarah Al Amiri
Há uma intromissão na exploração espacial. E, nesta conquista de Marte, a visibilidade é no feminino. A ministra das Ciências Avançadas dos Emirados Árabes Unidos é o rosto de uma prova de capacidade inédita, para o seu país e para o mundo árabe. É a responsável científica da missão da sonda Al-Amal (Esperança) até Marte.
Suella Braverman
Esta procuradora-geral britânica, fruto do parto previsto para março, provocará uma alteração legislativa para colmatar as leis vigentes arcaicas e antiquadas. Uma nova lei da maternidade também será dada à luz!
Marina Abramović
A avó da performance, será a primeira mulher a expor na Royal Academy of Arts, instituição com mais de 250 anos de história. Vai chamar-se “After Life”e inaugura em setembro. “The artist is present”, MoMA, NY, talvez tenha sido a sua peça mais bem-sucedida.
Aguarda-se o que virá…
Naomi Bekwith
Vai tornar-se a primeira negra a assumir as funções de diretora artística do museu Guggenheim de Nova Iorque. Curiosamente a ex-diretora demitiu-se acusada de racismo.
Angela Merkel
A chanceler alemã, carinhosamente tratada por ‘Mutti’ (aquela que faz os problemas desaparecerem, que protege), está de partida. Escolhido o seu sucessor na CDU, Armin Laschet, com eleições para setembro deste ano, partirá após ter encarnado o espírito de coesão e solidariedade europeu, sonhado por Jean Monnet, ao ter sido fundamental no alcançar do consenso para a aprovação do Fundo de Recuperação europeu (750 mil milhões de euros), batizado de “Próxima Geração UE” para a crise da Covid-19, importante para a recuperação económica pós-pandemia.
Cidadã da UE desde 1989, altura da queda do muro de Berlim, esta doutora em química quântica formada em física, ficará também para a história como a primeira mulher na chefia do governo da Alemanha e a primeira chanceler provinda da Alemanha Oriental.
Nicole Sturgeon
Acérrima europeísta. No rescaldo de um Brexit claramente chumbado na Escócia, a primeira-ministra retoma a ambição de voltar à Europa. Aguarda a secessão do Reino Unido, tornando a Scotland independente. A 31 de dezembro, anunciou no Twitter: “A Escócia voltará em breve, Europa. Mantenham a luz acesa.” Aguardemos as eleições de maio.
Gitanjali Rao
Depois de Greta Thunberg ter sido eleita personalidade do ano em 2019, esta jovem de apenas 15 anos foi designada “Miúda do ano” pela mesma conceituada revista, a Time.
“Observar, fazer brainstorming, pesquisar, construir e comunicar” foi o que disse numa entrevista após a distinção. Dedicada às ciências, já criou sistemas úteis para os dias de hoje: tecnologia para detetar água potável contaminada e uma aplicação que utiliza inteligência artificial para detetar cyberbullying. Diz ter como desígnio, para além de querer criar os seus próprios dispositivos para resolver os problemas do mundo, ser fonte inspiradora para que outros façam o mesmo.
Ursula von der Leyen
62 anos, médica, aristocrata e Mãe de família (tem 7 filhos).
A primeira mulher Presidente da Comissão Europeia.
Entrou na política já tarde, mas exerceu alguns cargos ministeriais onde deixou a sua marca.
Defensora de que “sem crianças não há futuro”, aplicou políticas de incentivo à natalidade e à família.
Em funções desde dezembro de 2019, prometeu ser ousada e corajosa sempre que a Europa assim o exigisse. Iniciou o mandato com o lançamento do Pacto Ecológico Europeu, que estabelece um roteiro para tornar a Europa no primeiro continente com impacto neutro no clima até 2050. Um assunto que voltará ao topo da agenda no pós-covid.
No entanto, surgiu a crise inaudita, a pandemia de Covid-19 e, com ela, a tragédia humana, os confinamentos e a recessão económica. Von der Leyen estabeleceu pontes aéreas humanitárias e tratou de assegurar o acesso, à data, a doses de uma futura vacina.
Para uma população de 446 milhões de habitantes, assegurou já a compra de mais de mil milhões de vacinas. Revés desta empreitada, a incapacidade para assegurar o fornecimento atempado.
Amanda Gorman
A muito jovem poetisa afro-americana de 22 anos, protagonizou 5 minutos esplendorosos na tomada de posse mais esperada, a de Joe Biden, ao dizer o poema “The hill we climb”, (“A colina que escalamos”). Ligada à moda, foi a 7 deste mês, mais uma das protagonistas no intervalo da SuperBowl. Três dos seus livros são dos mais vendidos na Amazon. Nasceu mais uma estrela!
Zita Martins
Numa época em que o Homem está novamente virado para o Espaço, esta lisboeta tem um dos curriculum mais notáveis no panorama da ciência nacional. Primeira astrobióloga portuguesa e uma das maiores especialistas do mundo.
Licenciada em Química, com doutoramento em Astrobiologia pela Universidade de Leiden. Cientista convidada da NASA. Resolveu um dilema para o qual a comunidade científica procurava resposta há mais de 40 anos.
Co-investigadora de duas missões espaciais (OREOcube e EXOcube), que foram instaladas na Estação Espacial Internacional com o objetivo de testar materiais que permitam detetar a existência de vida em Marte em futuras missões espaciais automáticas ou tripuladas ao planeta vermelho.
Após 15 anos de investigação, ensino e divulgação da ciência fora do país, é Professora Associada de Cosmoquímica e Astrobiologia no Instituto Superior Técnico.
Zhang Zhan
Advogada dedicada ao jornalismo, foi a responsável por reportar, em fevereiro de 2020, o surto inicial do Covid-19 em Wuhan. Denunciou a detenção de repórteres independentes e a perseguição a familiares das vítimas. Fez greve de fome. Foi sujeita a tortura e maus-tratos.
Surgiu em tribunal de cadeira de rodas. No final do ano, foi condenada a 4 anos de prisão por “provocar conflitos e perturbar a ordem pública”. Foi a primeira pessoa a ser condenada por denunciar o que se passou na China no início da pandemia.
Cindy Cohn
Num tempo em que se incentivou a utilização de apps de rastreamento de contacto, a pandemia permitiu testar até onde estamos dispostos a ir na partilha de dados pessoais.
As pessoas sabem defender a sua privacidade? No futuro as pessoas estarão dispostas a partilhar mais dados pessoais para sistemas como estes se lhes prometerem uma maior proteção e eficácia?
Esta diretora executiva da Fundação Fronteira Eletrónica (EFF na sigla em inglês), uma organização criada para lutar e defender os direitos digitais de pessoas de todo o mundo, está focada na privacidade e segurança. Defende a encriptação. Uma vigilante!
Nathalie Becquart
A irmã francesa que será a primeira mulher a ocupar o cargo de subsecretária do Sínodo dos Bispos, por escolha do Papa Francisco. A nomeação desta freira gaulesa reflete uma maior abertura da Igreja à participação das mulheres. Definitivamente um sinal histórico. Percursor. Testemunho do desejo de reforma do Papa.
Jacinda Ardern
Primeira-ministra da Nova Zelândia (NZ). Iniciou o segundo mandato já em plena pandemia e adquiriu posição de relevo mundial pelas estratégias implementadas para fazer face ao surto epidémico: fecho de fronteiras, testes alargados, rastreamento eficaz e confinamento. Impôs um dos mais rigorosos do mundo. Ainda a 14 de fevereiro fechou Auckland, com 1,65 milhões de habitantes, durante 3 dias, fruto da testagem positiva de uma única família, com apenas três pessoas. Leu bem: três pessoas! O que é facto é que a NZ, com cerca de 5 milhões de habitantes, teve menos de 2400 infeções e cerca de 25 mortes por Covid-19. Revelou tenacidade, persistência e firmeza. Capaz!
Marta Pinto
Nesta época em que não haverá páscoa, mas em que ambicionamos ter verão, esta master distiller leiriense, recebeu na Internacional Wine & Spirit Competition a medalha de ouro pelo seu Azor Gin Reserva. A produzir destilados é a única portuguesa e completa o duo mundial, com Joanne Moore.
Este gin, com ingredientes insulares, ananás, limão galego e raiz de angélica, é sujeito a cinco destilações com base de zimbro e cardamomo.
Kamala Harris
A primeira vice-presidente negra dos Estados Unidos. Como referenciado no sítio da Casa Branca “…uma mulher com uma carreira para o povo: derrubando barreiras e lutando pelas famílias trabalhadoras…”.
Poderá ser o 50º presidente dos USA!
Kaja Kallas
A primeira mulher à frente do governo da Estónia. Uma das muitas chefes de governo no norte da Europa: a norueguesa, Erna Solberg, a finlandesa, Sanna Marin, a dinamarquesa, Mette Frederiksen, a lituana, Ingrida Simonyte e a islandesa, Katrín Jakobsdóttir são as outras a desempenhar idênticas funções.
Para uma média de 32% na UE, só na Finlândia e na Suécia é que a percentagem de mulheres está acima do número de homens: 58% e 52%, respetivamente.
Maria Manuel Mota
A dois meses de completar 50 anos, é uma das mais prestigiadas cientistas portuguesas. Elegeu para seu compagnon de route académico, o Plasmodium, parasita responsável pela malária.
Coordenou a criação do kit de teste serológico para a Covid-19, made in Portugal.
Pode ser encarada como a face visível de outras tantas portuguesas empenhadas quer na ciência em geral (Elvira Fortunato, Ana Rita Araújo, Patrícia Costa Reis, as Joanas (Carvalho, Cabral e Caldeira), Isabel Ferreira, Mónica Bettencourt-Dias, Florbela Costa,…, quer na “guerra” contra o SARS-CoV-2 (Helena Florindo, Marta Nunes, Diana Lousa, Maria João Amorim,…,) na senda daquela que nos deixou no ano transato, a eminente professora, escritora e imunologista, Maria de Sousa.
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