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Vila Nova de Famalicão
Domingo, 9 Março 2025
José Carvalho
José Carvalho
José Carvalho é famalicense, nasceu em 1972, e exerce a profissão Controller de Gestão. Os seus passatempos preferidos são a jardinagem e caminhadas.

Viagens na minha terra

Famalicão é um triste exemplo de esbanjamento de recursos. No centro da cidade substituiu-se pedra que não se desgastou no tempo que lá esteve. O motivo? Talvez vaidade.

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José Carvalho
José Carvalho
José Carvalho é famalicense, nasceu em 1972, e exerce a profissão Controller de Gestão. Os seus passatempos preferidos são a jardinagem e caminhadas.

Famalicão

E eu pergunto aos economistas-políticos, aos moralistas, se já calcularam a quantidade de ‘Natureza que é forçoso condenar à destruição, quantas florestas temos de abater, quantos rios temos de envenenar, quantas montanhas temos de desmoronar, quantos animais temos de extinguir ou explorar sem dó nem piedade’, para produzir um rico.

Variação sobre a famosa frase de Almeida Garrett, in Viagens na Minha Terra.

 

Há poucas semanas decidi percorrer os trilhos junto à pedreira da Portela. O cenário é deprimente.

Ponderei fazer uma fotorreportagem, mas acabei por me ficar por uma crónica com fotografias. Para além da zona de extração, com um impacto na paisagem visível a muitos km de distância – por exemplo da freguesia de Calendário –, esta área é polvilhada de tesouros deprimentes. Pelo caminho, encontramos um contentor de uma extinta marca de charcutaria e depósitos abandonados de inertes com alcatrão e sem qualquer tratamento.

Somado a este desmazelo, incúria, atentado ambiental (fica ao critério do leitor escolher o epíteto) temos a estrutura industrial que, obviamente não sendo bonita, poderia ter outro cuidado no seu enquadramento paisagístico (palavra demasiado pomposa para descrever como disfarçar este excremento).

Porque não ter o espaço organizado e rodeado por uma cortina arbórea / arbustiva?

Não me parece que esteja a pedir muito. Afinal, quem delapida o património de todos, para benefício próprio, pode dar alguma coisa em troca (só um pouquinho).

Para a reação, respondo desde já que sim!, a minha casa é feita de pedra e betão. Mas também devolvo a provocação: Portugal é um dos maiores exportadores mundiais de Pedra, muita dela sem qualquer valor-acrescentado (blocos inteiros ou paralelos), e isso compara mal com a pequenez do nosso país.

Por outro lado, esbanjamos recursos. Nesta matéria Famalicão é um triste exemplo. O centro da cidade foi recentemente (quase) totalmente pavimentado em granito. Para além de um erro estratégico em tempo de alterações climáticas (ok, ok, vou poupar o leitor ao choradinho das ilhas de calor, das impermeabilizações dos solos e das outras temáticas tão caras aos amigos ambientalistas), o que fizemos no centro da cidade foi substituir pedra velha por pedra nova.

Ora, à escala do tempo geológico isto é verbo-de-encher! A pedra não se desgastou no tempo que lá esteve.

O motivo? Talvez a vaidade. O querer deixar uma marca no centro da cidade para a “eternidade”, uma obra de regime. Como dizem os cartazes “Famalicão é obra”.

Sacrificamos muito do nosso concelho às pedreiras, às indústrias de pneus, de produtos químicos, exploração florestal e centrais fotovoltaicas. Por outro lado, vivemos esta estranha dualidade, estamos no pódio dos exportadores, sentimos que há muito dinheiro a circular, mas continuamos a ser um concelho em que as famílias auferem rendimentos que ficam abaixo da média nacional.

Eu sei que não quero ir por aí.

Agora que temos menos de 8 meses para discutir que futuro queremos para a nossa terra, sabe a muito pouco assistir às visitas dos candidatos às empresas, rematado pelo discurso redondo do apoio incondicional à economia.

Não seria mais importante discutir que economia queremos para o nosso concelho e como a conseguiremos construir? Como acrescentar valor ao território? Como espoletar um processo regenerativo do ambiente em que vivemos, envolvendo as indústrias, os trabalhadores e os restantes stakeholders* (Toma!, vai buscar… que moderno que eu estou. Em inglês isto já parece um documento da Câmara Municipal).

Não vamos conseguir agradar a todos. Temos de fazer escolhas.

* parceiros, parte interessada no assunto

 

 

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José Carvalho é famalicense, nasceu em 1972, e exerce a profissão Controller de Gestão. Os seus passatempos preferidos são a jardinagem e caminhadas.
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