Sou um famalicense da periferia. Faço parte dessa grande maioria de pessoas que não vive junto à Fundação Cupertino de Miranda, nem à sombra dos Paços do Concelho. Vivo neste paradoxo: tenho morada na Freguesia de Famalicão, pelo menos o meu IMI correspondente a este “estatuto”, mas isso não basta para ter passeios na minha rua e muito menos para ambicionar um espaço público qualificado onde dê gosto passear ou estar com amigos.
Por respeito àquilo em que acredito (na democracia participativa), há mais de 10 anos que faço chegar as minhas questões à Junta de Freguesia de Famalicão, hoje União de Freguesias de Famalicão e Calendário, seja através de exposições escritas, reuniões e por fim em várias intervenções nas Assembleias de Freguesia.
Ao cabo de mais de 10 anos de alertas e sugestões, até ao momento, consegui uma mão cheia de nada e um comentário que diz tudo: “Teve azar no sítio que escolheu para viver”. Esta foi a opinião expressa pela Sra. Presidente da Junta no Assembleia do passado sábado e que vale por si só.
Tive azar no sítio que escolhi para viver… Vivo num lugar que passou a ser conhecido por Mões, em tempos uma zona operária e de transição entre a “Vila” e o norte agrícola do concelho. Mal visto e pouco valorizado, este lugar nunca foi prioridade para o poder local. Infelizmente não faltam lugares como este no concelho, ou melhor, esta é a regra: Famalicão faz-me lembrar aquelas casas com uma bela fachada e uma sala de visitas a condizer, mas com um logradouro desarrumado, feio, com um anexo que serve de cozinha e ainda com parte da casa sem ligação à rede de saneamento básico.
Mas afinal o que é este freguês anda a pedir há tantos anos? Três coisas muito simples:
– Medidas de acalmia do tráfego na R. Poça do Pisco, rua que serve de alternativa à ligação da EN14 à EN206. Ou trocando por palavras simples: obrigar os carros a circular mais devagar. E a solução não tem de passar obrigatoriamente pela colocação de lombas, há outras soluções;
– Colocação de barreiras que impeçam o estacionamento (indevido) a menos de 5 metros da passadeira situada na EN14 entre o E. Leclerc e a Rua de S. Vicente, permitindo aos condutores verem a aproximação dos peões;
– Resolver o problema do mau desenho da passadeira à saída do E. Leclerc para a Rua da Seara (junto ao posto de abastecimento de combustível).
Já mais complexa será a solução para o quarto problema – os acessos e estacionamento junto ao Operário Futebol Clube – um exemplo clássico de não planeamento. Criam-se os equipamentos e depois logo se vê o resto…
Este não é um problema que o tempo resolve, mas sim agrava. Urge pensar em soluções que sirvam tanto moradores como os utentes deste equipamento. Toda a área envolvente tem capacidade construtiva e tudo leva a crer que, com maior pressão urbana, no futuro próximo o trânsito na zona tornar-se-á impossível em determinadas horas.
O concelho está cheio destes “pequenos” problemas. Equipamentos mal planeados, indústrias mal localizadas, caminhos que em poucos anos se tornaram vias rápidas. As crianças deixaram de brincar na rua, os mais velhos têm medo de andar “na estrada”, deixou-se de ter vivência de bairro e convívio entre vizinhos.
Este é o sítio que quero ver diferente, para passar a ter a sorte de cá viver.
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