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Sábado, 23 Novembro 2024
Carlos Folhadela Simões
Carlos Folhadela Simões
Formado em Ciências Farmacêuticas, é professor do Ensino Secundário. Cidadão atento e dirigente associativo.

Sou Ucrânia e sou Simone!

Em Portugal começam-se a fazer sentir os efeitos do conflito. Na economia vislumbram-se os primeiros choques negativos.

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Carlos Folhadela Simões
Carlos Folhadela Simões
Formado em Ciências Farmacêuticas, é professor do Ensino Secundário. Cidadão atento e dirigente associativo.

Famalicão

Alfredo Leite, Tânia Laranjo, Francisco Penim, Pedro Moutinho, Ana Moreira, Iryna Shev, Rafael Homem, Bruno Castro Ferreira, Pedro Miguel Costa, Susana André, Pedro Moreira, Ana Peneda Moreira, Hélder Silva, André Mateus Pinto, Catarina Neves. Estes são nomes que nos têm entrado todos os dias em casa, via TV. A maioria desconhecidos do público. São os jornalistas no papel de repórteres de guerra. Acrescem aqui os veteranos José Rodrigues Santos, Cândida Pinto e Judite de Sousa. Estes, já com cobertura de outros conflitos, não deixaram de marcar presença nesta “putinice” feita à Ucrânia.

As imagens recolhidas e sonorizadas pelos mesmos têm um efeito intrusivo, penetrante e muitas das vezes chocante. Mas a imprensa escrita não lhe fica atrás. Relembro aqui as crónicas sob o título, “da Ucrânia com Amor”, do jornalista do Público, Adriano Miranda. Histórias simples. Concisas. Diretas. Penetrantes. Sentidas, Emotivas. Ilustrativas. Inimagináveis. Uma dezena de artigos que calam fundo, em quem os lê, na serenidade de um país em paz.

Mais de um mês decorrido sobre o início deste desrespeito pela ordem internacional, uma nota para dois países: a Polónia e a Hungria.

O primeiro, já recebeu mais de dois milhões dos cerca de 3,8 milhões de ucranianos refugiados. O segundo, liderado pelo ultranacionalista Viktor Urban, de forma surpreendente também tem acolhido todos quantos se dirigem ao país magiar. Dois exemplos de solidariedade e de coesão europeia.

Surpreendente a rapidez e profundidade das reações dos países ocidentais.

As sanções não têm o efeito miraculoso de terem resultados imediatos. Serão sentidas, desgastantes, até porventura paralisadoras. Levarão o seu tempo a produzirem efeitos. Sabemos que poucos foram os países que soçobraram por efeito da aplicação de medidas idênticas. Contam-se pelos dedos de uma mão: Cuba, Coreia do Norte, Venezuela e Irão.

A solução só poderá ser negocial. A China desempenhará aí um papel preponderante.

O que de momento a Rússia tem pedido ou exigido é praticamente irrealista. A Ucrânia não poderá prescindir do seu exército. A desmilitarização deixá-la-ia extremamente vulnerável perante um vizinho traiçoeiro, imprevisível e sobretudo não confiável.

A firmeza da posição chinesa poderá obrigar a Rússia a sentar-se à mesa das negociações com outras exigências bem mais razoáveis.

Em Portugal começam-se a fazer sentir os efeitos do conflito. Na economia vislumbram-se os primeiros choques negativos. Inflação, abrandamento do investimento e consumo, instabilidade dos mercados são e serão repercussões do cenário de guerra. São os seus efeitos que mexem nos bolsos dos portugueses. Os governos ocidentais tentam aplicar medidas que sirvam de panaceia à situação.

Por cá, a aplicação de medidas fiscais como a alteração ao ISP e a hipotética alteração do IVA, a carecer de parecer favorável das instâncias europeias, o autovoucher, o controlo dos preços e os apoios sociais, procuram minimizar a escalada generalizada dos preços dos combustíveis, da energia e dos alimentos. Excelente a decisão europeia, da última sexta-feira, ao permitir que os países ibéricos possam impor tetos temporários ao preço do gás utilizado para produzir eletricidade. Assim, Portugal e Espanha, excecionalmente, poderão fixar o preço máximo do gás o que se poderá traduzir numa poupança mensal de cerca de 3.500 milhões de euros.

Estes apoios não deverão ser atribuídos de forma indiscriminada. A seletividade, estribada em critérios claros e transparentes deve presidir à sua atribuição. Desde logo no setor empresarial, dando prioridade às empresas mais dependentes da crise energética. No que toca aos agregados familiares, aos que apresentem menos recursos e que serão os primeiros a sentir a espiral inflacionária.

Prudência, cautela, bom senso. Palavras a considerar na aplicação das medidas. Não deve ser tudo utilizado e aplicado de uma só vez. A situação é volátil e não se sabe o que aí vem. Como tal, as medidas e o apoio devem ser mitigados face ao escalar da situação. Será aconselhável ter sempre uma “carta na manga”.

O Governo, com maioria absoluta, não dependente dos partidos à esquerda, terá uma árdua tarefa no seu horizonte. A situação alterou-se de forma radical. Há ministérios que terão uma centralidade inusitada, como o dos Negócios Estrangeiros e o da Defesa. Outros, já de si permanentemente na ribalta, assumem, agora, papel fulcral: Finanças, Economia e Agricultura.

A Administração Interna poder-se-á confrontar com manifestações mesmo que pacificas, face ao escalar dos preços que provocarão dificuldades e angústias diárias na gestão dos orçamentos familiares. Já no passado fim de semana, em diversas cidades, houve gente na rua! Sob o capote da guerra, alguns menos escrupulosos e ainda a trabalhar com stocks, não se coibiram de aumentar o preço de bens essenciais. Começou a especulação com vista à maximização de lucros. Alimentos que se desejam à mesa de cada um, como é o caso do pão, começam a atingir preços inimagináveis. Este ministério poderá ainda debater-se com o acréscimo da insegurança. Mas, não antecipemos mais desgraças.

Em nota de rodapé, referência a duas situações. A primeira, prende-se com o facto de termos atingido a 24 de março, a data em que no país os dias de democracia ultrapassaram os de ditadura. Simbolicamente iniciaram-se as comemorações para os 50 anos da revolução de abril.

A segunda, para o espetáculo de amanhã, no esgotadíssimo Coliseu de Lisboa, para o ponto final na carreira de uma grande artista: Simone de Oliveira. A intérprete de “Sol de Inverno” e de “Vocês sabem lá”, aos 84 anos, fará a sua despedida dos palcos.

Não resisto a relembrar a frase que passou na censura em 1969 (…quem faz um filho fá-lo por gosto…) que era parte da letra da Desfolhada, com que representou Portugal na Eurovisão desse mesmo ano.

Finalizo, como ela o fez num dos seus espetáculos: “Sou Mulher, sou Simone e sou Feliz!”

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