Rui Rio, de quem a imprensa não gosta e que um certo Portugal honrado ainda admira por, há 20 anos, não ter feito as vontades de Pinto da Costa na Câmara Municipal do Porto, já contabiliza três vitórias consecutivas em eleições diretas para a liderança nacional do PSD. Pelo caminho já ficaram Pedro Santana Lopes, Luís Montenegro e, agora, Paulo Rangel.
Aos 64 anos, Rui Rio transforma-se num caso inédito no PSD e um exemplo de resistência e longevidade como líder da oposição.
Um político torna-se vencedor ou fica mais perto de ganhar quando as suas ideias são entendidas pelos eleitores.
Ao abominar a política-espetáculo e ao não responder aos jornalistas no “politiquês” que eles gostam de ouvir, o presidente do PSD torna-se mais próximo dos eleitores comuns que são aqueles que geram vitórias eleitorais.
Nesta contenda interna para a liderança do PSD, Paulo Rangel teve a seu lado grande parte da nata da classe política do partido, traduzida num conjunto de presidentes de câmara, deputados e outros nomes conhecidos nas distritais e concelhias, todos eles tidos como influenciadores e arregimentadores de votos.
No “espetáculo das notícias”, Rio parecia em perda. Porém, o secretismo da urna de voto, onde cada eleitor decide onde coloca a sua cruz, ditou, afinal, que os pesos-pesados não são assim tão pesados.
Vivemos num tempo em que as pessoas, assim como os eleitores dos partidos, tal como os consumidores em geral, são cada vez mais formados e estão cada vez mais informados. Por isso, tendem a pensar pela sua cabeça e a recusar entrar no rebanho popular. Isso é bom para a democracia, pois torna as escolhas eleitorais mais ajustadas ao pulsar da sociedade.
Em menos de meio século de democracia, o eleitorado mudou muito. Já não consome frases de efeito como antigamente, não gosta de artificialismos e prefere, cada vez mais, políticos que sejam gente como a gente.
Ora, por aquilo que tenho visto, Rui Rio consegue assumir bem esse papel de homem normal que foge aos cânones político-partidários, mas sem deixar de utilizar as armas que todos utilizam numa batalha política.
Assim, ganhou as terceiras eleições diretas no PSD, não se deixando triturar por uma máquina ávida de poder e conquistando uma força política que nunca teve desde que foi eleito presidente do partido em 2018.
E isso é que é surpreendente na renovada liderança social-democrata, transformando as eleições legislativas do próximo dia 30 de janeiro em tudo menos num passeio para o líder do PS e do Governo, António Costa.
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