Não pretende e não está relacionado com a película de Miguel Gomes “Aquele querido mês de agosto”. Mas poderá ser relembrado com saudade e esperança. Esperamos e desejamos ter sido este o mês que nos permitiu voltar às rotinas quotidianas a que estávamos habituados. Acresce o facto de ter sido um mês que se pautou, no presente ou no passado, por alguns casos que merecem outras reflexões e reminiscências:
A nove, Ivo Rosa, juiz, fez a leitura da decisão instrutória da “Operação Marquês”. Já tudo foi dito e escrito sobre as suas decisões. Nos dias subsequentes, por coincidência ou não, ressurgiu na imprensa o processo relacionado com as “moradas falsas” apresentadas por alguns deputados à Assembleia da República, posto a nu em 2018. A bloquista Sandra Cunha já se demitiu. Os outros aguardam levantamento da imunidade parlamentar. A quinze, a “Operação Triângulo” faz mossa e leva à demissão da edil de Vila Real de Santo António. Em causa a suspeita de crime de corrupção. Logo a dezassete, Catarina Martins defendeu a criminalização do enriquecimento ilícito ou injustificado nos altos titulares de cargos públicos. Parece que perante a estupefação do comum dos cidadãos sobre aquilo que se presumia (de forma errónea, como se viu) ter um desfecho conhecido, apareceram mais um conjunto de denúncias, processos e intenções de forma a “amaciar” a frustração popular.
Há, no entanto, um pequeno (grande) pormenor, referente aos prazos de prescrição dos processos e que confundiu muita gente. Não poderia e deveria ter sido explicado de forma clara, nos diversos fóruns de debate, qual a data de início do tempo de contagem para efeitos de prescrição? Não estará na altura de aumentar os prazos para casos semelhantes em que a investigação se arrasta por longo tempo?
Sei que estas matérias já foram objeto de análise por diversas vezes, em diversos tempos.
Querem mesmo reformar a justiça ou é apenas questão de moda?
No entanto, algumas questões ficaram claras: o despudor e a desfaçatez do acusado; a carimbagem de corrupto no arguido e a morte política do animal feroz.
A catorze, foi altura de relembrar uma das mais insignes cientistas portuguesas, vítima de Covid-19, no ano findo. Maria de Sousa verá o seu nome perpetuado no programa de bolsas de doutoramento em epidemiologia e virologia, fruto do preito que a Fundação para a Ciência e Tecnologia entendeu prestar-lhe. A cientista já tinha sido homenageada quando a Ordem dos Médicos e a Fundação Bial instituíram o Prémio Maria de Sousa, em novembro do ano transato.
A vinte e seis, cumpriram-se 35 anos sobre o acidente de Chernobyl. Uma operação de simulacro, visando testar a segurança, resultou no maior desastre nuclear da humanidade. Só um termo a define: calamidade. Foram contaminados cerca de 200 mil quilómetros Quadrados.
Os países nórdicos também foram afetados. A poluição, a contaminação e as respetivas consequências não conhecem fronteiras. Estes acidentes tornam-se sempre problemas transfronteiriços. A energia nuclear sempre levantou questões. Apesar de ser uma forma barata e uma fonte mais concentrada na geração de energia, tem inconvenientes com consequências muita das vezes dantescas, fruto da radioatividade associada.
Convém relembrar o segundo maior acidente, bem mais recente, ocorrido em 2011, em Fukushima, Japão. Um tsunami despoletou a tragédia. Apesar de todos os esforços para reter e armazenar a água contaminada, o Japão já anunciou que face à escassez da capacidade de armazenamento poderá ter de lançar água radioativa no Oceano Pacífico. Uma decisão comprometedora para os ecossistemas.
A geração de energia nuclear global caiu 3,5% no primeiro trimestre de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019. Os países voltam-se cada vez mais para a energia verde: as energias renováveis, incluindo solar, hídrica, eólica e outras, estão no cerne da transição para um sistema menos intensivo em carbono e mais sustentável. Com o horizonte de 2050, aguarda-se e deseja-se o cumprimento do Pacto Ecológico Europeu para uma Europa mais verde.
A vinte e cinco, celebrou-se o quadragésimo sétimo aniversário da Revolução de abril.
Para além do habitual desfile, na avenida da Liberdade, a grande novidade foi a assunção por Vasco Lourenço, capitão de abril, como o “babysitter” da revolução. Na ausência de alguns dos Pais da Revolução, o coronel resolveu proclamar-se o dono da liberdade. Lamentável!
Vamos à Praça, expressão muito usada em tempos idos, significado de idas às compras de carne e peixe e de produtos alimentares sobretudo provenientes de pequenas explorações familiares. Estas idas ao mercado faziam parte da rotina de inúmeras famílias famalicenses. Desde domingo, que para além dessa função, o espaço inaugurado em 21 de setembro de 1952 e agora totalmente remodelado, será também um espaço de fruição do ócio.
Aproveitando a simbologia da data, poder-se-ia ter nomeado a área da restauração com o nome da figura mais icónica do movimento revolucionário, ao tempo, o capitão Salgueiro Maia (1944-1992). Um tributo merecido e que não desmerecia a sociedade famalicense.
Ontem, vinte e sete, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou a não renovação do estado de emergência. Abre-se uma janela de esperança. Começamos a poder retomar o quotidiano tal e qual o conhecíamos. Será o princípio do fim?
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