Portugal vive uma situação parecida à das pessoas que vivem juntas, em comunhão no mesmo lar, com ou sem filhos, que não se dão muito bem, ambas ou ambos tem consciência disso, mas temem que a mudança não melhore as suas vidas.
Também já aqui escrevi que, em Portugal, os eleitores habituais, são adeptos dos partidos, como se de um clube de futebol se tratasse. Votam 80% sempre nas mesmas cores, havendo uma transferência mínima de votos para outro partido, mas que não seja muito diferente do partido habitual. Ou seja, mesmo que apareçam partidos novos (nos últimos anos apareceram vários), os eleitores fiéis não mudam o seu voto para um partido novo, por conservadorismo, desconfiança ou resistência à mudança. É apenas uma constatação! Então a questão que se coloca é esta: o país está condenado a ser governado pelos mesmos partidos, desde 1975, por mais dez, vinte ou trinta anos, seguramente com os mesmos resultados?
A resposta à questão anterior, na minha modesta opinião, é muito óbvia: depende! Mas, então, depende de quê?
Como os estudos de opinião têm revelado, os jovens votam menos do que os menos jovens, assim como os portugueses a residir no estrangeiro votam muito menos, 17% contra 58%, do que os residentes em território nacional. Outro aspeto relevante, é o universo dos abstencionistas, cerca de 48%, nas últimas eleições legislativas. Nas presidenciais e europeias, a percentagem é bem maior!
Neste contexto, fica bem clara a situação pantanosa em que o país vive. Tal como os casais que vivem juntos, sabem que aquela relação não é boa, bem pelo contrário, mas nada fazem para sair dela.
Mas então vamos por partes.
A questão da abstenção dos portugueses que residem no estrangeiro: como vamos fazer para que votem em maior número? Simples: facilitemos o voto eletrónico, por exemplo. Tem riscos? Tem, mas mesmo assim, o risco de não votar tem uma maior gravidade para a sociedade, que, assim, se vê privada do seu contributo para a mudança.
Se saíram de Portugal, é porque o país não lhes ofereceu as melhores condições de vida. Então como justificar que sejam os partidos mais votados exatamente aqueles que têm governado o país alternadamente, apesar de mais o PS do que o PSD? Pois, mas os dois partidos juntos, apenas representam 11% da totalidade destes eleitores. Também é verdade que 1,5 milhões de emigrantes não podem ter apenas 4 representantes no parlamento. Aqui, sim, estamos objetivamente a menosprezar os nossos compatriotas.
Se falarmos na abstenção dos residentes em território nacional, como combatê-la? Há várias medidas que se podem tomar. Uma delas é as eleições passarem a realizar-se em dia útil, e o voto eletrónico, também deve ser considerado. Em último caso, teremos sempre a medida mais impositiva que poderá ser adotada, que é o voto obrigatório.
Eleições com menos de 50% de eleitores deveriam ser repetidas, e nessa altura, criar mesmo a obrigação de votar e não apenas o dever de o fazer. Claro está que sociedades com altos níveis de literacia votam em maior número, o que mostra bem o falhanço da educação nacional, ao nível da cidadania. Ter em conta que os resultados de uma melhor educação só são visíveis várias décadas depois.
Vejamos os resultados eleitorais do concelho. Vila Nova de Famalicão tem 119.275 eleitores. Nas últimas autárquicas 75.909 eleitores votaram num dos 7 candidatos, nulo ou em branco. Mário Passos foi eleito presidente da Câmara com 40.143 votos. Um total de 43336 eleitores não saíram de casa para votar. Ou seja, o número de abstencionistas é maior que o número de votos que elegeu o presidente da Câmara.
Por último, temos a questão do voto jovem: é neste segmento de eleitorado que eu acho que poderá estar a chave da mudança. Entre mudar de país e mudar o país, os jovens podem optar por dar um sinal de indignação pelo estado a que o país chegou. Não só, não têm oportunidades de crescer e prosperar na vida, como ainda por cima, irão receber a fatura da elevada dívida pública, que terão de pagar, ou então, fazer como os seus progenitores, transferi-la para as gerações seguintes.
Mas aqui chegados, sobram algumas dúvidas se tal poderá acontecer. Tal deve-se a duas ordens de razões: a primeira, podem não ter consciência do “buraco” em que vivem, do ponto de vista de perspetivas futuras, ou falta delas; e a segunda, podem entender que é mais benéfico sair do país e ir para uma sociedade onde a possibilidade de trabalhar com justa recompensa e reconstituir família sejam mais fáceis de realizar.
Será uma decisão difícil de tomar, mas terão que fazê-lo. E será em função do resultado desta decisão que eu vejo o futuro do país, mais próspero ou mais sombrio. Mais do que nunca, o futuro coletivo, depende das novas gerações!
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