Em finais do século XX, e após o colapso da União Soviética, as grandes economias do mundo, com destaque para os EUA, decidiram abrir à Organização Mundial do Comércio (OMC), países com estados autoritários e ditadores, como é o caso da China.
A ideia era que o desenvolvimento económico e a interação internacional ajudasse aquelas sociedades a tornarem-se mais livres e democráticas. O resultado, como todos sabemos, não foi o que se esperava.
Os países mais desenvolvidos naquele período cresceram apenas três vezes, enquanto a China cresceu 15 vezes, passando da sétima maior economia do mundo para a segunda maior logo em 2009, passados 10 nos de presença na OMC. Estando hoje, em 2022, prestes a ultrapassar os EUA e a ser a maior economia do mundo.
A deslocalização da indústria europeia para aquele país, bem como o endividamento ocidental à custa de recursos chineses, foi um erro que já começamos a pagar, em 2020 com a pandemia, e agora com a invasão da Ucrânia, com a clara cumplicidade chinesa.
Mas se em termos económicos quem mais ganhou com a globalização foi a China, em termos dos valores ocidentais, ao nível dos direitos humanos, particularmente na defesa da liberdade e da democracia, não houve nenhum avanço, bem pelo contrário. O regime chinês tornou-se hoje mais autoritário do que no início do século.
Entretanto a Rússia, a partir de 2000, também se tornou membro favorecido da OMC, beneficiando de taxas aduaneiras mais baixas nas transações comerciais com os restantes países da Organização. Todos sabemos que deu jeito a muitos países da União Europeia comprar gás, petróleo e carvão à Rússia, por preços mais baixos que aqueles que seriam praticados caso a Rússia não tivesse tal estatuto de membro privilegiado dentro da OMC.
Em termos de democracia e de liberdades tudo piorou também nesta autocracia autoritária, com perseguições a opositores políticos de Putin, incluindo assassinatos por envenenamento, prisões políticas e proibições de manifestações públicas.
O resultado desta aproximação comercial é que também a Rússia melhorou bastante a sua situação económica, permitindo-lhe adquirir mais armamento para declarar guerra ao Ocidente/NATO, como está a acontecer neste momento na Ucrânia. No essencial, esta guerra é contra os valores do Ocidente e a Ucrânia é apenas a primeira vítima desta investida da Rússia.
Podemos dizer que o globalismo, no sentido de abolir fronteiras económicas com todos os países do mundo, mesmo com as ditaduras mais ferozes, colocou em causa a segurança global. Neste momento a Rússia, com a conivência da China, está a desafiar e a pôr em causa a segurança do continente europeu. A China, sendo a segunda maior potência económica mundial desde 2009, será nos próximos anos a maior potência mundial também a nível militar.
Não tenhamos ilusões, uma coisa leva a outra. Os EUA são a maior potência militar porque também são a maior potência económica.
O Ocidente tem vivido décadas de paz após a segunda guerra mundial. Após esta memória aterradora os países europeus, mesmo os mais ricos, particularmente a Alemanha, decidiram desinvestir no setor da defesa, criando um bem-estar económico e social nunca visto. Acontece que nem todos os países que fazem fronteira a leste com o velho continente, no caso a Rússia, e outros do continente asiático (China, Índia, etc.), deixaram de investir em armamento, criando, assim, um problema sério de segurança para a Europa.
É ingénuo pensar que o valor que nós, europeus, damos à paz e à liberdade seja igual naqueles países asiáticos. E agora encontramo-nos numa encruzilhada em que por um lado temos o máximo de bem-estar social possível, mas estamos à mercê de países autoritários, que, entretanto, alocaram biliões de dólares da sua riqueza ao setor militar.
Isto que acabo de descrever são factos. E é com base na realidade que faço as minhas análises e formulo as minhas opiniões.
Está na hora de mudarmos o chip de um mundo idílico de “paz e amor” para o mundo real de “segurança e amor”. Sem segurança não alcançamos a paz e sem a paz também não almejamos o amor. Sem garantias da nossa segurança em termos continentais (EU, no caso da Europa) não teremos bem-estar económico e social. A paz começa com a garantia de segurança.
Imaginem qualquer um de nós com o máximo de bem-estar vivendo numa sociedade em que a segurança e defesa pessoais estivessem entregues a nós mesmos, não existindo lei, nem ordem, ou seja, em que polícias e tribunais fossem inexistentes para nos defenderem.
É completamente patético pensarmos que todos querem “paz e amor” e que nada nos acontece apesar do nosso elevado bem-estar.
É o momento da EU investir na defesa do velho continente sob pena dos Putin’s e Jinping’s desta vida nos tirarem a vida sem dó nem piedade!
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