A divisão interna no PSD-Famalicão já há muito que extravasou os corredores dos partidos da coligação PSD/CDS e das esferas do poder municipal.
A divisão laranja é comentada na sociedade famalicense, nomeadamente em artigos de opinião na imprensa local e, como vimos este fim de semana, até o secretário-geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, revelou que sabe da hesitação da coligação entre o atual presidente da Câmara e a líder da concelhia social-democrata.
A liderança socialista – a nível nacional, distrital e concelhio – trouxe a público a divisão interna com afirmações proferidas na vila de Ribeirão, o bastião laranja do concelho. O PSD não reagiu.
Alguns podem tentar desvalorizar o ocorrido, referindo que já foi dito que Mário Passos será novamente candidato. Mas o que importa são os factos e a realidade é que, ao contrário de muitos outros municípios no distrito de Braga e no país, o nome do candidato ainda não foi aprovado e anunciado pela Comissão Política Concelhia.
As convergências saudáveis nascem da troca de ideias e não de imposições.
Importa referir que a divisão no PSD-Famalicão não nasceu do dia para a noite. A diferença é que o burburinho discreto transformou-se num elefante no meio da sala sobre o qual todos falam. Foi o próprio Mário Passos que fez questão de tornar essa divisão pública quando, em março do ano passado, lançou-se contra a vereadora Sofia Fernandes, até então candidata única à liderança da concelhia – rompendo um longo ciclo de eleições com lista única.
Mário Passos queria tanto ganhar que tentou reforçar a sua lista com o nome de Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara e ex-líder da concelhia. Paulo Cunha, que tinha, inclusive, antecipado as eleições do PSD-Famalicão após deixar a presidência da autarquia, reapareceu na política partidária concelhia como candidato à mesa da assembleia.
Mesmo assim, Mário Passos perdeu para Sofia Fernandes. Uma derrota por uma diferença esmagadora. O que se seguiu não foi o apaziguamento. Os mais atentos já repararam que o que se passa é justamente o contrário…
DISCORDAR É SAUDÁVEL
Política é assunto para adultos, por isso, em primeiro lugar é preciso desmistificar a situação. Nem todo o desacordo é negativo. A divergência de opiniões é natural e saudável. As convergências saudáveis nascem da troca de ideias e não de imposições.
Portanto, considero a divisão do PSD concelhio como algo positivo para Famalicão. É sinal de que o partido não está surdo, nem manietado por interesses. É preciso respeitar os eleitores e nunca perder a capacidade de ouvir os famalicenses.
As diretrizes do partido a nível nacional que devem ser tidas em conta juntamente com a realidade local.
Numa inegável situação de desgaste após 23 anos no poder, cabe às concelhias do PSD e do CDS reorientar o rumo da coligação se não quiserem perder as eleições. E há muitos aspetos que devem ser revistos.
O facto é que os autarcas nunca tiveram tanto dinheiro e tantas competências em mãos como agora. Com as mudanças na legislação, os autarcas locais têm mais decisões e mais dinheiro – que antes estavam sob a alçada do Governo do país.
Liderar um município é uma tarefa de grande responsabilidade, especialmente quando estamos a falar de um dos maiores municípios portugueses. Portanto, há muito o que analisar no momento de escolher um candidato.
Famalicão vai registar novamente um número recorde de candidaturas à presidência da Câmara Municipal. É possível que 2025 supere 2021, já que a ideia de uma candidatura independente é cada vez mais palpável.
Mário Passos pode ser o candidato da coligação PSD/CDS? Claro que sim. É obrigatório que Mário Passos seja o candidato da coligação PSD/CDS? De jeito nenhum. As diretrizes do partido a nível nacional que devem ser tidas em conta juntamente com a realidade local.
No último fim de semana, no 5.º Encontro Nacional de Autarcas Social-Democratas, Luís Montenegro, disse que é preciso ter em primeiro lugar o “interesse das populações, o interesse coletivo”, assegurando que o partido “não quer” e “não vai ter candidaturas de amigos”.
Resta saber se são apenas palavras bonitas ou se são para cumprir. Saberemos disso num eventual cenário em que Famalicão – a maior concelhia do país – opte por outro nome para encabeçar a candidatura.
SURPRESAS DE 2021
A situação que o PSD-Famalicão vive agora ainda é um rescaldo de 2021, quando tiveram de lidar com algumas “surpresas”.
Se tudo tivesse corrido como inicialmente planeado pela coligação PSD/CDS, Paulo Cunha estaria a concluir agora o terceiro e último mandato. E um ciclo político de 12 anos seria encerrado em 2025. No entanto, Paulo Cunha desistiu da recandidatura para “regressar à advocacia e à docência”.
Os militantes do PSD foram apanhados de surpresa. Ficaram especialmente atónitos, por terem sido informados pela comunicação social. Recorde-se que o NOTÍCIAS DE FAMALICÃO foi o jornal que revelou a informação em primeira mão.
Também a candidatura de Mário Passos foi uma surpresa, fruto de uma decisão de Paulo Cunha que era, na altura, simultaneamente presidente da concelhia e da distrital do PSD.
Tudo isso pareceu muito inesperado, mas na verdade foi planeado com antecedência. Paulo Cunha tratou de tudo sem dizer nada a ninguém.
É por isso que o então vereador Leonel Rocha foi indicado como candidato à Junta de Freguesia de Ribeirão com tanta antecedência, desfazendo o compromisso previamente assumido com a presidente do núcleo do PSD na vila. Paulo Cunha sabia que não ia recandidatar-se e também sabia quem não queria que fosse candidato à sua sucessão.
Mário Passos venceu as eleições, mas perdeu um vereador para o PS.
Mário Passos venceu as eleições, mas teve o pior resultado da coligação PSD/CDS depois de Armindo Costa ter conquistado a Câmara ao PS em 2001.
Mário Passos venceu as eleições, mas o número votos obtidos foi menor que o de eleitores que optaram pela abstenção. Isso nunca tinha acontecido à coligação.
A POSSÍVEL SURPRESA DE 2025
Além de um PS que cresceu nas últimas eleições e que pela primeira vez desde 2001 concorre pela segunda vez com o mesmo candidato, é preciso não esquecer que, à semelhança de 2021, Famalicão vai registar novamente um número recorde de candidaturas à presidência da Câmara Municipal. Alguns dessas candidaturas concorrem ao mesmo eleitorado que a coligação.
Partindo do princípio que todos os partidos que concorreram nas últimas eleições irão concorrer novamente, teremos sete candidaturas. Também é possível que 2025 supere o recorde de 2021, já que a ideia de uma candidatura independente é cada vez mais palpável.
O que todos devemos ter em mente é que o bem-estar e o desenvolvimento de Famalicão são objetivos permanentes que podemos influenciar através do nosso voto livre e consciente. Por isso, sejam quem forem os candidatos nas Autárquicas deste ano, não abra mão de votar. Escolha ter vez e voz.
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