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Vila Nova de Famalicão
Quarta-feira, 16 Abril 2025

Produtores agrícolas do mercado municipal estão revoltados com a Câmara de Famalicão

Cerca de 150 pessoas subscrevem abaixo-assinado contra a falta de estacionamento para cargas e descargas.

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Famalicão

Os pequenos produtores agrícolas do Mercado Municipal de Vila Nova de Famalicão estão revoltados com a Câmara Municipal por terem sido impedidos de estacionar veículos para cargas e descargas nas imediações daquele espaço comercial da autarquia, apurou o NOTÍCIAS DE FAMALICÃO junto de vendedores.

Na manhã do último sábado, 12 de abril, a paciência esgotou-se e mais de 140 pessoas, entre vendedores e clientes, resolveram assinar uma petição que fizeram chegar ao presidente da autarquia, Mário Passos: “Solicitamos à Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão que reveja urgentemente esta regra e permita, com bom senso e respeito, o acesso dos produtores ao mercado municipal para carregar e descarregar, entre as 6h00 e as 14h00”, solicitam os signatários do documento.

O NOTÍCIAS DE FAMALICÃO tentou contactar o presidente da Câmara Municipal, Mário Passos, perguntando-lhe se tenciona alterar o regulamento do Mercado Municipal, permitindo o acesso ao equipamento nas condições reivindicadas pelos comerciantes, mas até ao momento a assessoria do autarca não respondeu.

MERCADO SEM ESTACIONAMENTO

A Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão gastou cerca de quatro milhões de euros na remodelação do mercado municipal, mas não cuidou de um aspeto essencial: a criação de espaço próprio de estacionamento gratuito para veículos de vendedores e clientes.

Com as obras de reabilitação urbana, onde a Câmara Municipal também gastou cerca de 10 milhões de euros – e continua a gastar em obras de reparação sucessivas… –, o mercado municipal perdeu dezenas de lugares de estacionamento gratuito que, desde 1952, rodeavam a infraestrutura, não só na Rua do Ferrador, agora ocupada com vasos que impedem o estacionamento, como na rua que separava o mercado do antigo campo da feira. Esta rua foi eliminada e a zona é agora uma espécie de praça, onde o trânsito está impedido de circular.

Mas nem sempre foi assim. Desde que o mercado municipal reabriu ao público, em 2021, os automóveis de vendedores e clientes podiam entrar no espaço fronteiro. Agora, porém, uma mudança no regulamento do mercado veio instalar a polémica, com os pequenos lavradores a liderarem um processo de contestação à medida camarária, que envolve também os clientes do mercado.

CERCA DE 150 ASSINATURAS

Num abaixo-assinado com perto de centena e meia de assinaturas, que esta terça-feira foi entregue ao presidente da Câmara Municipal, Mário Passos, os “pequenos produtores e clientes do Mercado Municipal de Vila Nova de Famalicão” manifestam o seu “profundo desagrado com a atual proibição de acesso a veículos para cargas e descargas junto ao mercado, entre as 8h00 e as 13h00” de cada sábado.

De acordo com os vendedores, a proibição do estacionamento no espaço fronteiro ao mercado “tem vindo a prejudicar gravemente os produtores locais”, pois estão “impedidos de descarregar os alimentos junto ao mercado, a partir das 8h00 da manhã, e depois obrigados a esperar até às 13h00 para poderem estacionar novamente os seus veículos e carregar os produtos que não foram vendidos”.

“Se, por exemplo, terminarmos as vendas às 11h00 ou 12h00, temos de esperar, sem necessidade, até às 13h00 para podermos carregar os nossos cestos e caixas”, explicam os promotores do abaixo-assinado.

MUITOS VENDEDORES SÃO IDOSOS

De acordo com os signatários do documento, em resultado da proibição camarária, “os produtores são forçados a contornar a situação como podem, estacionando longe do mercado” e “entupindo ruas circundantes e, até, ocupando lugares destinados a autocarros”. “Tudo isto para conseguirem carregar e descarregar”, alertam os vendedores.

Os autores da petição lembram ainda que muitos vendedores são idosos e com problemas de mobilidade. “É comum ver idosos, muitos com problemas de saúde e mobilidade reduzida, a transportar caixas pesadas, por distâncias que seriam perfeitamente evitáveis com um mínimo de bom senso e empatia”, afirmam os vendedores e utentes do “Mercado dos Lavradores”, a designação atribuída pela autarquia aos pequenos produtores locais, a larga maioria deles praticantes de uma agricultura de subsistência.

QUEBRA NAS VENDAS

Os produtores alertam ainda para uma quebra registada nas vendas. “Desde que estas regras de proibição entraram em vigor, é de realçar o declínio visível no número de clientes e no rendimento essencial a muitos agricultores”, indica a petição enviada a Mário Passos, lamentando que “o ambiente do mercado” se tenha “tornado menos atrativo e funcional, afastando compradores e desmotivando os produtores”.

Os produtores querem que seja permitido estacionar para cargas e descargass no espaço fronteiro ao mercado entre as 6h00 e as 14h00 de cada sábado. “Outra opção será manter o acesso aberto das 6h00 às 9h30 e das 11h00 às 14h00, garantindo o acesso rápido e ordenado dos produtores”, indicam. E lembram: “Esta pequena ação resolveria um grande problema sem afetar o restante funcionamento do mercado e da cidade.”

Argumentando que são agentes da economia local, os pequenos produtores agrícolas consideram que a medida municipal, “além de desumana, é um entrave bucorático que só prejudica quem trabalha e quem consome no mercado”.

“VEÍCULOS PARTEM AS PEDRAS…”

“Solicitamos à Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão que reveja urgentemente esta regra e permita, com bom  senso e respeito, o acesso dos produtores ao mercado municipal para carregar e descarregar, entre as 6h00 e as 14h00”, concluem os signatários do documento entregue ao presidente da autarquia.

Um perqueno produtor agrícola do concelho de Barcelos, já idoso, ao ter sido abordado pelo NOTÍCIAS DE FAMALICÃO, lamentou a situação. “Dizem que os veículos partem as pedras do pavimento”, afirmou, quando o questionamos sobre as razões para a proibição de estacionar no espaço fronteiro ao mercado.

“Temos a Câmara a obstruir e a ser burocrática”, queixa-se Tiago Carvalhal, jovem produtor biológico famalicense.

“Não vejo em que esta medida beneficia os vendedores e os clientes do mercado. Sentimos má-fé por parte deles [Câmara Municipal] perante os pequenos produtores locais. Fazemos parte da economia circular e estamos aqui para vender bens de primeira necessidade, mas temos a Câmara a obstruir e a ser burocrática”, lamentou, por seu turno, o jovem agricultor famalicense Tiago Carvalhal.

“UMA SITUAÇÃO DEPLORÁVEL”

Tiago Carvalhal, jovem agricultor a tempo inteiro, é dono da marca Horta da Ria, de Brufe, com produção biológica de produtos hortícolas em quase três mil metros quadrados divididos pelas freguesias de Brufe, Jesufrei e Lousado.

A sua área de produção é pequena, “mas muito moderna e sofisticada”, considera, o que lhe permite escoar os produtos em restaurantes de Vila Nova de Famalicão e da região, nomeadamente no Porto e em Vila do Conde, em entregas ao domicílio e em lojas de hortícolas biológicos como a famalicense Mercearia da Vila.

Em declarações ao NOTÍCIAS DE FAMALICÃO, Tiago Carvalhal, que trabalha em parceria com Francisco Macedo, mostrou-se indignado com a proibição de estacionamento junto ao mercado municipal. “É uma situação deplorável, porque é desnecessária. Temos espaço em torno do mercado onde sempre foram feitas cargas e descargas, mas os polícias municipais não deixam”, comentou.

A Horta da Ria tem produção biológica de produtos hortícolas nas freguesias de Brufe, Jesufrei e Lousado.

Além disso, os pequenos produtores agrícolas queixam-se de terem de pagar para trabalhar, ao serem obrigados a pagar estacionamento a cem metros de distância do mercado.

Conforme o NOTÍCIAS DE FAMALICÃO já informou, Paulo Folhadela, vereador sem pelouro do Partido Socialista, interpelou o presidente da Câmara Municipal na reunião do executivo realizada em 10 de abril último, a propósito da alteração recentemente introduzida no horário das operações de carga e descarga no Mercado Municipal.

Para o PS, “estas decisões têm sido tomadas de forma avulsa e sem qualquer suporte técnico ou estudo prévio que permita articular o interesse público com as legítimas expectativas dos comerciantes e dos utentes”. [Ler notícia aqui: PS propõe alteração do horário de cargas e descargas no Mercado Municipal de Famalicão]

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