A grande maioria das empresas tecnológicas com ambições de inovação e avanços científicos, start-ups, sejam da área financeira, logística, software e/ou serviços, foram durante muitos anos centralizadas em locais estratégicos como EUA (área de São Francisco, Silicon Valley, Dallas), Irlanda e Alemanha, resultado do elevado nível de investimento, qualidade de serviço e recursos. Atualmente, assistimos a uma notória descentralização e procura de novos locais com condições ideais para a criação e estabelecimento destes novos hubs.
Fazendo o paralelismo com a era da revolução industrial que conduziu ao que temos hoje em termos de industrialização, produção, métodos processuais e economia de escala, parece estar a acontecer um fenómeno semelhante na área tecnológica, onde tudo o que parte de um pequeno grupo de locais é escalado e expandido para o resto do mundo.
Mas por que é que Portugal se torna único para estes gigantes? Por que razão escolhem este país costeiro? Como é que um país com pouco mais de 10 milhões de habitantes se posiciona assim?
Contextualizando a situação industrial portuguesa com especial enfoque na indústria de Vila Nova de Famalicão, consolidada há décadas como um, senão o maior município exportador da região Norte, tendo já ultrapassado a barreira dos 2 mil milhões de euros, a nossa cidade, apresenta uma posição feroz e sólida no que diz respeito ao comércio externo do país.
Merecemos o reconhecimento dos grandes sectores industriais e das áreas de comércio estabelecidos em território nacional, com empresas de renome no sector automóvel, precisão ótica, eletrónica e alimentar. Podemos, de uma forma natural, criar uma paridade para outras áreas do país em setores tão distintos como o têxtil, calçado e a transformação plásticos, abrangendo um pouco tudo o que hoje é conhecido e feito no mundo industrial.
Respondendo às questões de partida, a resposta é simples e dispensa muita sustentação, resumindo-se, essencialmente, à localização e a mão de obra acessível. Mais do que uma ótima localização, ainda que à luz dos fundamentos logísticos não seja assim tão central, existe uma cultura de trabalho, um “saber fazer”, abundância de recursos, otimismo e aceitação do fracasso como forma de fazer melhor. Tudo isto aliado a um exímio nível de engenharia e vontade em inovar, intrínseco a estas pequenas e médias empresas que fazem do crescimento deste país um caso ímpar e de estudo.
Quando falo em Engenharia e desenvolvimento, refiro-me ao facto de sermos pioneiros no acompanhamento e na evolução de soluções, ao facto de conseguirmos uma resposta melhor e mais rápida do que a maioria, fazendo-nos valer da nossa habilidade e proximidade, o que nos fortalece e nos torna um apoio crucial e central ao estabelecimento destes gigantes em Portugal.
Começa a ser próprio do nosso país, de norte ao sul, termos na área industrial gigantes norte americanas, alemãs, francesas, japonesas e inglesas mas, cada vez mais, na área tecnológica, a título de exemplo fintechs, como o caso do Revolut, Uphold, as gigantes Vestas e Siemens Gamesa em energias renováveis, desenvolvimento de serviços digitais e cloud como a Avanade, Cloudflare, e/ou mesmo start-ups como o caso da Loggi, uma start-up logística brasileira com uma avaliação superior a mais de mil milhões de US dólares. A lista continua, sem querer descurar áreas como a segurança informática, software de gestão ou até de digitalização de processos relativos a transações de commodities através de blockchain.
Assumo, portanto, tratar-se de um conjunto vencedor de fatores que tornam Portugal um país especial e capaz de cada vez mais estabelecer-se como um HUB tecnológico e de desenvolvimento, onde a engenharia e o desenvolvimento feito pelas pequenas e médias empresas portuguesas são o fator chave, tornando-se capaz de capitalizar, mostrar valor e ser meritório de todo o possível investimento de grande volume no nosso País.
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