O triste espetáculo que os Estados Unidos da América mostraram ao mundo neste dia 6 de janeiro de 2021, com o povo trumpiano a invadir o Capitólio – a casa da democracia americana – e a impedir uma sessão que iria confirmar a vitória de Joe Biden nas eleições, revela, com toda a clareza, a ação perniciosa da presidência trauliteira e irresponsável de Donald Trump.
Uma ação perniciosa, antes de mais, para a democracia e para símbolos eminentemente norte-americanos como a tolerância e a liberdade.
E uma ação perniciosa para a civilização ocidental e para o mundo no seu todo.
Podemos dizer que Donald Trump acelerou a derrocada do Ocidente.
Até à eleição de Donald Trump, em 2016, os Estados Unidos da América eram o grande referencial do mundo ocidental, consubstanciado no chamado “sonho americano” – um estádio de vida próspero facultado por uma mobilidade social que pode estar ao alcance de todos, desde que demonstrem arte, valor e vontade para singrar numa sociedade competitiva. Uma sociedade que valida o mérito e a competência sobre a trapaça e o chico-espertismo.
A governar com frases bombásticas amplificadas pelo Twitter, Trump utilizou a limitação dos desinformados e dos incultos para adubar um discurso feito de ódio, que dividiu os americanos e o mundo entre os bons e os maus.
Isolacionista, Trump demonstrou um profundo desprezo pelos direitos humanos, pelos imigrantes, pela Europa e pelo mundo, quer através da construção do muro da fronteira com o México, quer ao abandonar instituições internacionais ou lançar políticas em contramão com as tendências mundiais, nomeadamente ao nível ambiental.
Depois destes perigosos dias de Donald Trump, os seus despojos são a divisão do país e o ódio que os seus apaniguados, no fim desta história triste de quatro anos, direcionaram agora, desesperadamente, contra a democracia.
E, fora da América, temos um mundo com os países cada vez mais fechados sobre si próprios (o caso britânico é paradigmático). Um isolamento que Trump ajudou a consolidar.
A democracia não é um regime perfeito. Desde logo por aceitar de braços abertos indivíduos como Donald Trump. Mas até nesse defeito, a democracia demonstra que é o melhor dos regimes políticos, pois, em pouco tempo, revela-nos com clareza a boçalidade, a estupidez e a anormalidade de certos eleitos.
O problema é o caos que fica. Nos EUA, é sobre o caos que o Presidente eleito Joe Biden terá de reerguer uma nação inteira. Uma nação que já foi o farol do mundo e que está agora ameaçada pela insignificância global, tal como a Europa.
Oxalá Biden consiga restabelecer a ordem e a normalidade. Em nome da democracia norte-americana e em nome de um mundo mais decente, mais integrador e mais desenvolvido.
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