Foi ontem anunciado que, a partir de hoje, 30 de julho, estariam disponíveis 75 lugares de estacionamento no antigo campo da feira – área em obras sem fim à vista. A verdade é que, ao início da tarde, o estacionamento ainda não estava disponível.
Passava das 13h00 quando para ir almoçar no restaurante Sara Barracoa tentei estacionar na área que a Câmara Municipal disse que estaria hoje disponível. Rapidamente fui informada do óbvio: não era permitido estacionar ali. Digo que era óbvio porque desde logo achei estranho que o que meus olham viam não era nem de longe parecido com as imagens enviadas pela Câmara Municipal.
Os meus olhos viram um estaleiro a céu aberto. Máquinas e homens a trabalhar, pedras reviradas… Vi o caos a que estamos habituados a ver no último ano. Mas as imagens enviadas pela Câmara Municipal mostravam um espaço amplo, limpo e organizado.
É como se por um milagre as inúmeras e justas reclamações dos famalicenses tivessem sido ouvidas e o caos tivesse sido minimamente controlado. Não é verdade. As imagens são artificiais. Qual objetivo de mostrar imagens que não correspondem à realidade?
A cada ação fica mais claro que a preocupação não é resolver ou minimizar os problemas que toda essa situação tem causado a quem vive, trabalha e frequenta a cidade.
O que importa é a cosmética. É disfarçar, fingir, passar a imagem de que está tudo bem. Pelo menos nos próximos dois meses… Depois das eleições volta-se ao costume e a opinião do Zé Povinho não conta para nada. Mas até 26 de setembro faz-se de conta que importa.
Não importa. Se importasse os famalicenses teriam sido ouvidos. Haveria informação sobre todas as obras feitas na cidade e nas freguesias. Saberíamos não só quanto custa e vai demorar, como qual o objetivo pretendido com cada empreitada.
Uma terra é de quem nela vive. E os famalicenses não foram ouvidos sobre remodelar a cidade. Souberam que ia acontecer quando já estava acontecendo.
Gasta-se tanto dinheiro em propaganda e não há um único cartaz ou maqueta a explicar minimamente as transformações que estão a ser feitas em Famalicão.
Passa-se pelas escolas, pelas praças e ruas da cidade. Está tudo em obras e ninguém sabe responder porquê e para quê. Destruíram a cidade para reconstruir… Mas por que razão?
Alguém sabe dizer por que foi arrancada a calçada portuguesa (Património Cultural Imaterial do país com candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade), transformando o centro da cidade numa selva de pedra sem identidade?
Já agora, o que está a ser feito com a imensa quantidade de calçada portuguesa que tem sido retirada? Até hoje não se sabe o que foi feito com a madeira das árvores arrancadas. A calçada portuguesa – especialmente a usada – é ainda mais valiosa.
Mesmo que por um milagre a cidade acordasse amanhã e as obras tivessem acabado, tudo estivesse limpo e organizado, não estaria tudo bem. Os fins não justificam os meios.
E agora que anda toda gente farta e a reclamar, o presidente da Câmara diz que o prazo das obras está “em avaliação”. Mas desde quando é assim que as coisas funcionam? E o caderno de encargos, prazos a cumprir, etc.? Tanto mais que estão em causa obras que, além dos dinheiros municipais, envolvem também fundos comunitários…
Por que é que ninguém explica o que está a correr mal? Não temos direito de saber? Já várias pessoas escreveram a este jornal a perguntar se sabemos porque é que o muro na Praça D. Maria II já foi erguido e deitado abaixo algumas vezes.
Além dos incómodos e transtornos que a pessoas têm vivido diariamente, os famalicenses têm também outras preocupações.
Um leitor questiona se estão a ser acauteladas questões arqueológicas e de saúde pública, referindo que, há cerca de um século, a Capela Santo António esteve instalada ali pela zona da Praceta Cupertino de Miranda e que, na época, havia sepultamentos dentro e fora da Capela.
Outro leitor questiona sobre a preservação do Pontão de Antas, património edificado localizado numa das áreas com obras em curso (antigo campo da feira).
Os famalicenses têm direito de saber o que está a ser feito, como está a ser feito e porque está a ser feito. Têm direito à verdade dos factos em vez de manipulação cosmética da realidade.
É possível fazer obras com transparência, planeamento e bom senso. Gerir os destinos de um concelho com as pessoas e para as pessoas é uma questão basilar que devia ser o princípio norteador de todos os autarcas.
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