“É não saber se amanhã vai ser um bom dia ou mau dia.” Marta Ribeiro
Este foi o mote do evento digital organizado pelo PAN Famalicão na passada quarta-feira, dia 1 de março.
Esta doença, crónica – apesar de ainda não ter esse estatuto – condiciona a vida de milhares de mulheres diariamente.
No passado dia 16 de fevereiro foi debatido na Assembleia da República o tema da endometriose e adenomiose em resposta à petição entregue pela associação MulherEndo que reuniu mais de oito mil assinaturas.
Quem assistiu ao debate, em sede de plenário, ficou com a sensação, inicial, que o desfecho seria outro, que estas questões concretas necessitavam de respostas urgentes e que todas as propostas apresentadas eram mais que válidas e justas para as mais de 350 mil doentes em Portugal. Assim não entendeu a maioria PS.
O PAN apresentou quatro projetos de resolução, nomeadamente o que Consagra o dia 1 de março como o Dia Nacional da Endometriose e Adenomiose – único aprovado –, mas foi também a votos uma estratégia nacional de combate à endometriose e adenomiose, a atribuição do estatuto de doença crónica aos pacientes com diagnóstico de endometriose e adenomiose, o alargamento da comparticipação nos exames e tratamentos e o reforço dos direitos para quem sofre desta patologia – todos eles chumbados.
Onde fica a prevenção? Não sabemos. Sem um estatuto de doença crónica, tratamento e medicamentos não comparticipados, onde fica o tão falado princípio da igualdade?
Diagnósticos que levam mais de 7 anos a serem realizados, em que pelo caminho entopem estas mulheres de medicamentos, falta de acompanhamento psicológico, seguros de saúde que afinal não asseguram nada, vida social e profissional completamente instáveis e desfeitas, uma sociedade que ainda desconhece o verdadeiro impacto desta doença na vida das mulheres e por isso, desvaloriza. Médicos que aconselham a doente a “ir ao particular porque é uma doença cara e pouco acessível no SNS.” De tudo um pouco para quem sofre desta doença.
Tomo a liberdade de elencar alguns dos testemunhos: “Dei entrada nas urgências de Famalicão com uma dor imensa de barriga, sangramento, cólicas que pareciam facas. Fui vista por uma médica que me disse ser uma infeção na bexiga, medicou-me e deu alta.”
“Em março de 2022 tinha cirurgia marcada no privado, no entanto, no dia anterior tive que cancelar porque o seguro não cobria, alegando doença preexistente, apesar dos relatórios dos médicos afirmarem o contrário, o que foi uma semana de stress e ansiedade a enviar documentos e mais documentos para nada.”
“Em julho de 2022 fui operada, saí do hospital sem nenhum dos médicos da cirurgia me explicar como correu a cirurgia.”
“Foi um percurso até muito stressante de não saber para onde me virar, qual médico seria o melhor, quem me ia ouvir e tentar melhorar a minha qualidade de vida, há dias que é muito difícil, que a dor vem do nada, que a fadiga toma conta do nosso corpo, que a tristeza invade e torna tudo ainda mais negro.”
Esta é a vida de quem sofre de endometriose e/ou adenomiose. Assistir aos seus testemunhos, ler as histórias destas mulheres guerreiras deveria fazer-nos centrar no foco do problema e na sua resolução, mas nem sempre (quase nunca) isso acontece.
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