O crime ambiental ocorrido no lugar de Gemunde, na freguesia de Outiz, com o abate de centenas de Sobreiros e a destruição de cerca de 70 hectares de floresta e do seu respetivo solo, ficará registada como um dos maiores atentados contra o ambiente da história do nosso concelho.
Com base nos dados sobre distribuição dos usos do solo no concelho em 2019, disponíveis no documento “Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios”, com a subtração destes 70 hectares de floresta (num total de mais de 80 hectares intervencionados) perdemos, só com esta operação, aproximadamente cerca de 1,5% da floresta do concelho.
Pondo este número em perspetiva, estamos a falar a um espaço equivalente ao centro da cidade de Famalicão.O eixo este-oeste deste projeto tem cerca de 1,5km, o que corresponde à distância entre a Rotunda de Santo António e a Rotundo do D. Sancho I (próximo da zona escolar).
O eixo norte-sul do projeto tem cerca de 1km, o que corresponde à distância entre a estação de comboios e um pouco mais além da Biblioteca Municipal.
Todo este espaço equivale a três vezes o Parque da Devesa.
A zona dos “penedos”, que era a área onde havia uma grande densidade de Sobreiros, que inclui a área com maior declive e, por consequência, maior risco de erosão, ou mesmo derrocadas só representa cerca 3% da área do projeto (talvez até menos). Esta zona era, também, a mais visitada pela população.
Em 2019 o concelho de Famalicão tinha já 38% do seu território ocupado por urbanizações e zonas industriais.
A vida é feita de escolhas, num equilíbrio frágil entre o que se ganha e o que se perde. Infelizmente nesta ponderação de interesses o ambiente em Famalicão sai sempre a perder.
Sobre a milagrosa solução do deita abaixo aqui e planta acolá. Só peço para termos uma conversa séria de pessoas adultas. O mais não merece comentário algum.
Na última reunião da Assembleia Municipal apresentei alguns questionamentos relativamente ao abate de árvores no Monte de Santa Catarina, nomeadamente se o Município teve o cuidado de fazer o inventário das espécies florestais e respetivos ecossistemas da área da futura central fotovoltaica de Outiz. Se sim, onde podemos fazer essa consulta?
Também perguntei se o Presidente da Câmara foi ao local verificar pessoalmente a dimensão e as perdas associadas a este projeto. E mais, se o Presidente da Câmara alega que o Município nada pode fazer para condicionar estes projetos porquê que foi aprovado o interesse público municipal do mesmo?
Por fim, questionei quantos projetos de centrais fotovoltaicas deram entrada na Câmara Municipal.
Enquanto munícipe preciso desta informação e da oportunidade de antecipadamente avaliar esses projetos e o impacte destes no meu território. Não quero voltar a ser surpreendido com mais umas centenas de Sobreiros, Carvalhos e Pinheiros Bravos empilhados para serem transformados em “pellets”.
Faço aqui uma nota corretiva aos dados apresentados pelo Sr. Presidente da Câmara que na reunião da Assembleia Municipal de 16 de dezembro informou que o projeto abrange 79 hectares, dos quais 24 hectares seriam de inertes, ou seja, teriam sido destruídos 55 hectares de floresta.
No entanto, o documento do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) apenso ao processo informa que a área de corte é de 69,92ha ≈ 70ha, sobrando assim 10 hectares de matos (e não de inertes).
O Município de Famalicão tem dois engenheiros florestais que poderão informar o contributo das zonas de matos para a riqueza dos ecossistemas.
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