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Vila Nova de Famalicão
Quarta-feira, 30 Outubro 2024

No meio da festa, há quem ande a estragar o ambiente

As feridas e cicatrizes marcam o rosto do concelho.

4 min de leitura
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José Carvalho
José Carvalho
José Carvalho é famalicense, nasceu em 1972, e exerce a profissão Controller de Gestão. Os seus passatempos preferidos são a jardinagem e caminhadas.

Famalicão

“A ecologia é a ciência que estuda a consequência dos nossos atos – LIET KYNES”
Duna – Frank Herbert

Em Fevereiro deste ano junto à capela da Santa Catarina em Calendário abateram-se 25 Sobreiros, dados confirmados pelo serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA/ GNR). Este número soma aos 300 Sobreiros abatidos (n.º oficial, eu tenho dúvidas) no desmatamento na zona da futura central Fotovoltaica de Gemunde, que fica na outra encosta do monte desta capela (Monte da Santa Catarina ou Monte do Facho).

Dos 25 sobreiros, o SEPNA/ GNR apurou só “existir autorização do ICNF para o corte de 1 sobreiro adulto e 14 sobreiros jovens, pelo que foi elaborado o auto de notícia por contraordenação nº NPCO-00114/24.220030330.” Junto à Capela existiam 2 grandes Sobreiros, sempre conheci estas árvores ali, mas as obras do recinto da Capela parecem ter justificado este desbaste.

A inauguração teve pompa e direito a missa campal com a presença de figuras ilustres da nossa praça, Sr.ª presidenta da Junta e Sr. presidente da Câmara. Reportagens e filmagens com drone. O importante é a narrativa, a história que nos contam. É isso que fica na memória. Ou talvez não…

Este mês, no parque de Sinçães, junto à biblioteca deu-se início à construção do parque de Skate. Até agora foram abatidos 5 grandes plátanos. Não questiono a importância do equipamento, só pergunto se não haverá outra forma de fazer as coisas ou se não há melhor lugar para o fazer. O Parque de Sinçães é um espaço consolidado e, cada vez mais, rodeado de cidade. Prioridade naquela área é manter o arvoredo e terra livre (não impermeabilizada).

Para além disso, debaixo do parque de Sinçães passa o ribeiro de Talvai, que é também alimentado pela linha de água que corre junto ao novo LIDL e futuro Continente. O cenário em dias de chuva intensa é conhecido e o novo parque de skate está em plena zona de escoamento das águas (ver vídeo).

É muito provável que nos próximos invernos os fossos do equipamento se transformem em piscinas.

Já agora, para que isto fique registado algures, durante meses tivemos um buraco em frente do Centro de Emprego no alinhamento da provável canalização do ribeiro que desagua (também de forma subterrânea) no ribeiro Talvai. Questões? Causas? Avaliações de risco? Nada disto foi tornado público.

Há uma boa notícia, conhecida na passada semana, vamos continuar a poder ver o pôr do Sol e o mar no Penedo da Lua no Monte da Santa Catarina! Isto prova que vale a pena lutar por aquilo que achamos justo. Claro está que para saborear esta vitória da sociedade civil famalicense, em particular dos quase 1.200 peticionários, já sentimos muitas vezes o sabor amargo da perda. As feridas e cicatrizes marcam o rosto do concelho.

O lado mau da boa notícia da semana passada, o edil (esta palavra é gira, vou começar a usar mais vezes) quer transformar a zona do Penedo da Lua num parque de diversões. Um parque de diversões não é uma coisa má, mau é criar um parque de diversões numa área natural que precisa ser recuperada e gerida com equilíbrio para manter, ou aumentar, o valor ambiental do Monte.

Este é um espaço que deve servir as escolas como laboratório para estudar a flora, a fauna, geologia, a geografia do baixo Minho e muito mais. Este é um espaço que deve manter as suas funções ecológicas, uma bolsa de frescura nos dias quentes de Verão, com um papel fundamental no ciclo da água. Sem floresta a água da chuva escorre encosta abaixo, perde-se ou provoca inundações. Sem floresta, o nevoeiro não condensa e não alimenta os lençóis freáticos.

Para além disso, ficava bem ao edil (eu avisei) reconhecer o erro que cometeu. Aquela área estava protegida em PDM com a classificação de Reserva Ecológica Nacional (REN) e mais umas tantas categorizações, que só foram possíveis “ultrapassar” com a declaração de Relevante Interesse Público Municipal. Obrigado!, Sr. Paulo Cunha por tão grande zelo pelo bem-comum.

A imagem abaixo, na aldeia do Sol em Calendário, uma fotografia deste Inverno, é uma síntese dos problemas ambientais. É a urbanização que fica a meio, para se construir mais à frente, criando uma manta mal-amanhada de casas e espaços vazios e que força expansão do espaço urbano para áreas florestais e agrícolas. É o lixo que se acumula, perante a indiferença de todos. São estas árvores que já sofreram podas assassinas e que por falta de planeamento ou erro na escolha das espécies, mais dia, menos dia, vêm abaixo. É este ar de favela, com vista para esta cidade sem sonhos.

Nos próximos 40 dias (em função da data de publicação em diário da república) entramos na discussão do PDM. Dizem que a apresentação do documento foi-se arrastando no tempo por forças dos interesses imobiliários. A sua apresentação em Julho e discussão em Agosto, na chamada silly season (isto em inglês soa mais fino), não parece fruto do acaso.

Sessões de esclarecimento:

22 de julho, a partir das 21h00, no auditório da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, em Vila Nova de Famalicão.

Ribeirão, no dia 23, Joane, a 24, e Riba de Ave, a 25, todas às 21h00, nas respetivas sedes das Juntas de Freguesia.

 

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Os artigos de opinião publicados no NOTÍCIAS DE FAMALICÃO são de exclusiva responsabilidade dos seus autores e não refletem necessariamente a opinião do jornal.

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José Carvalho
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José Carvalho é famalicense, nasceu em 1972, e exerce a profissão Controller de Gestão. Os seus passatempos preferidos são a jardinagem e caminhadas.
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