“… necessidades básicas de um peão:
Ter acesso a uma rede pedonal, conectada e conveniente.
Uma rede que ofereça segurança…, conforto… ”
Filipe Moura Professor no Inst. Sup. Técnico e investigador e coordenador U-Shift
Em Conversas Urbanas – jornal Público
Quem vive, trabalha ou visita Famalicão percebe que a cidade está cada vez mais congestionada de automóveis. A mobilidade suave ou o transporte público estão muito longe de ser uma realidade dominante.
Andar a pé é uma opção barata e saudável. A cidade não tem grandes desníveis e é relativamente pequena, os seus limites não distam mais do que 2km. Infelizmente, para quem quer andar a pé na cidade, a vida não é fácil.
Os 7 pecados capitais que infernizam a vida de um peão:
- Estacionamentos no passeio;
2. Automóveis em excesso de velocidade;
3. A utilização indevida dos passeios para a circulação de trotinetes e bicicletas;
4. O estacionamento indevido junto, ou em cima, das passadeiras – a menos de 5 metros antes da passadeira é proibido estacionar, segundo o artigo 49º do Código da Estrada. É importante fazer aqui uma nota, uma criança que atravessa uma passadeira com um automóvel estacionado junto da mesma não é visível para o condutor que se aproxima.
Agora vejam a quantidade de vezes que nas zonas escolares esta situação acontece.
- As barreiras arquitetónicas e outros obstáculos nos passeios – para os invisuais e pessoas com mobilidade reduzida a cidade está cheia de ratoeiras e barreiras. Provavelmente, esse será “o motivo” pelo qual vemos muito poucas pessoas com essas limitações na via pública.
6. Erro ou mau planeamento das vias – por exemplo, a via partilhada por velocípedes e peões no viaduto sobre a linha do Minho. Será impossível o cruzamento simultâneo de duas bicicletas e um peão naquela via: é demasiado estreita.
7. O pecado original – uma cidade que nasceu no cruzamento de várias estradas nacionais e que a liga a 7 cidades vizinhas. No entanto, para um peão essas estradas funcionam como barreiras de muito difícil atravessamento.
Ao longo dos anos muito pouco, ou nada, foi feito para corrigir a situação.
O que temos visto é a conversão desses (antigos) troços de estradas nacionais em avenidas. Com as suas linhas retas, são um convite à velocidade excessiva incompatível com o convívio saudável entre peões e automóveis. Por outro lado, quanto mais largas são as vias, mais carros circulam. Resultado, o seu atravessamento é um “desporto radical”.
Para remediar a situação colocam-se semáforos. Por sua vez, esses semáforos não são respeitados por alguns automobilistas. Ou, quando estes são dotados de sensores de velocidade, a solução para alguns automobilistas é acelerar. O que vier atrás é que terá de parar no vermelho – veja-se o caso da Av. do Brasil (Jumbo).
Outro exemplo é a Av. 9 de Julho (estrada da Póvoa) que, para quem pretende atravessar a pé, não deixou de ser muito difícil e extremamente perigoso depois das últimas obras.
É urgente proceder a uma avaliação da obra feita e analisar as motivações que levam a maioria dos famalicenses a optar pelo automóvel nas suas deslocações diárias. É possível inverter o atual estado das coisas. Será necessária vontade, conhecimento, envolvimento da população, uma atuação efetiva das autoridades policiais e persistência para conseguir resultados.
O executivo municipal terá coragem e vontade para assumir esse compromisso?
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