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Vila Nova de Famalicão
Segunda-feira, 25 Novembro 2024
José Carvalho
José Carvalho
José Carvalho é famalicense, nasceu em 1972, e exerce a profissão Controller de Gestão. Os seus passatempos preferidos são a jardinagem e caminhadas.

Não podemos perder o Norte

Tudo isto tem sido feito sem uma visão de conjunto e temo que mais tarde a fatura a pagar seja pesada. Não nos faltam avisos. No futuro não venham com o argumento que a imponderabilidade e a aleatoriedade determinaram o infortúnio.

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José Carvalho
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José Carvalho é famalicense, nasceu em 1972, e exerce a profissão Controller de Gestão. Os seus passatempos preferidos são a jardinagem e caminhadas.

Famalicão

“Já nascemos de joelhos
Já dobrados pelo meio
Ensinados a querer”
Dilúvio – A Garota Não

O Norte de Famalicão está a sofrer uma transformação radical. Durante anos a cidade “terminava” na fronteira definida pela estrada da Póvoa (N206) e pela estrada para Braga (N14). Essas barreiras mantêm-se e as últimas obras na estrava da Póvoa não vieram resolver a situação. No entanto, já não impedem uma expansão urbana alicerçada no transporte em automóvel, onde os espaços verdes serão residuais. Em 2022, o enorme estaleiro da nova frente urbana junto ao Tribunal é a face mais visível dessa transformação.

Para além da unidade de execução (UE) do Tribunal, a zona tem uma outra UE identificada como “norte da cidade”. Esta UE promete a abertura de um arruamento com início na rotunda Norte da Variante, trespassando um bosque com carvalhos centenários e transformando campos agrícolas em novas frentes urbanas. O remate dessa nova via será na estrada da Póvoa com mais uma rotunda e, com isso, transformará uma zona relativamente tranquila numa área de elevada carga automóvel (numa alternativa à rotunda de Santo António).

Unidade de Execução I da UOPG 1.1 – Área Norte da Cidade. Imagem CMVNF/DR
Foto do espaço que será atravessado pelo novo arruamento – ao fundo o bosque de Carvalhos Alvarinho e em primeiro plano mais um campo agrícola que se perderá em tempos de emergência climática e alimentar. Fotografia JC/DR

Na zona, conhecida como Talvai e que será atravessada por esta nova via distribuidora de trânsito, está para nascer um equipamento desportivo com pista de Atletismo e BTT. Nessa obra já se gastou, pelo menos, 600 mil euros para a preparação de um terreno húmido e instável para acomodar uma obra que ainda não saiu do papel.

Para além disso a pressão imobiliária é tanta (e com tanta densidade) que, o até há poucos anos tinha características quase “campestres”, hoje vê-se transformada num contínuo de blocos de apartamentos onde não se consegue perceber que espaços serão reservados a áreas verdes ou de uso comunitário.

Neste terreno estão investidos mais de 600 mil euros para a eventual pista de Atletismo. Fotografia JC/DR
Rua do Talvai – de ambos os lados desta rua teremos a continuação da linha de prédios que se vê em 2.º plano. Esta será a rua que servirá de alternativa à passagem pela rotunda de S.to António. Fotografia JC/DR

Tudo isto tem sido feito sem uma visão de conjunto e temo que mais tarde a fatura a pagar seja pesada.

Das várias dimensões da questão vou pegar numa que tem sido “varrida” para o subsolo: a água. Toda esta zona é rica em linhas de água. A começar pelo Talvai, um ribeiro que foi sistematicamente enterrado: desde a linha do Minho (CP) passando debaixo do estacionamento de um hipermercado, atravessando a rotunda de Santo António e o Parque de Sinçães, este ribeiro só volta a ver a luz do dia no Parque da Devesa, quando desagua no Pelhe.

Nas obras de preparação do terreno para a futura pista de Atletismo, no ano 2016, em vez de se libertar este ribeiro fez-se o contrário. Isso ao arrepio das boas práticas que na Europa liberta as linhas de água, enquanto aqui – neste recanto chuvoso da Ibéria, voltamos a reincidir no erro de prender aquilo que mais tarde teremos de pagar para libertar.

As chuvas de Outono estão a chegar, mas provavelmente teremos mais um Inverno seco. A minha avó dizia que: nada se paga como o tempo. Mais tarde, ou mais cedo teremos um Inverno chuvoso daqueles de semanas contínuas de temporais. Mesmo que os sistemas artificiais de drenagem funcionem, ninguém nos garante que a água não esteja a minar o subsolo e que nos aconteça como em Lisboa em 2003 e 2017 onde buracos surgiram “do nada” e, no caso de 2003, chegaram a engolir um autocarro. [ver aqui e aqui]

A primeira foto mostra o “leito” do ribeiro Talvai após a conduta que passa debaixo da linha do Minho. Existe uma grelha na saída da canalização (entrada para a continuação desta conduta) que, como se vê na imagem, está totalmente tapada por detritos. A fotografia foi tirada no dia 03.09.2022. Para os dias seguintes há previsão de chuva. No entanto, não há sinal de limpeza no sentido da conveniente desobstrução do canal. Na terceira foto, após uma pequena limpeza, já se consegue ver a grelha da entrada da conduta deste ribeiro. Fotografia JC/DR

Neste final de Agosto de 2022 o Paquistão sofreu inundações “apocalípticas”. Neste mesmo mês, num Verão de temperaturas a bater recordes e num período de seca histórico que se alastrou à fresca e húmida Inglaterra ou às planícies centrais da Europa (Alemanha e até à Ucrânia) temporais inundaram vilas e cidades espanholas, provocando elevados prejuízos e semeando o caos. No Verão de 2021 foi na Alemanha que as chuvas provocaram inundações nunca vistas.

Não nos faltam avisos. Por isso, fica este registo escrito para que no futuro não venham com o argumento que a imponderabilidade e a aleatoriedade determinaram o infortúnio.

Post Scriptum: Durante quanto mais tempo os documentos do Município vão manter as assinaturas com os “títulos” académicos? Dr., Eng., Arq.º ou Prof. Doutor são coisas de outros tempos e que só servem para manter o status quo – uma cultura servil de protocolos anacrónicos.

 

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José Carvalho é famalicense, nasceu em 1972, e exerce a profissão Controller de Gestão. Os seus passatempos preferidos são a jardinagem e caminhadas.
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