Lauro António, o cineasta que criou e dirigiu o Famafest – Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Vila Nova de Famalicão, morreu esta quinta-feira, aos 79 anos.
Lauro António era professor, realizador, crítico de cinema e diretor de festivais. Tinha no filme “Manhã Submersa” a sua obra maior.
Em Vila Nova de Famalicão, Lauro António ficou conhecido sobretudo como criador e diretor do Famafest – Festival Internacional de Cinema e Vídeo, um projeto cultural que tinha por objetivo promover o cinema e a literatura, dado o contexto de o território famalicense ter sido vivenciado pelo escritor Camilo castelo Branco.
O Famafest realizou-se pela primeira vez em 1999, no último mandato de Agostinho Fernandes como presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão. De periodicidade anual, o festival continuou nos três mandatos da presidência de Armindo Costa, e até ganhou um novo impulso com a inauguração da Casa das Artes, em 2001, mas acabaria por ver a sua fórmula esgotada, realizando-se pela última vez em 2010.
REALIZADOR DE “MANHÃ SUBMERSA”
Lauro António foi sempre a alma do Famafest. Nascido em Lisboa, a 18 de Agosto de 1942, o cineasta agora desaparecido tirou o curso de História. Foi membro do Cine-Clube Universitário de Lisboa e do ABC Cine-Clube, verdadeiras “escolas de cinema” da época, numa altura em que a Cinemateca tinha uma atividade muito limitada, a televisão não exibia muitos filmes e não existiam os chamados cinemas de arte e ensaio.
Do cine-clubismo para a escrita foi um passo, com a passagem por inúmeros jornais, revistas – foi director de “Isto é Espectáculo” e “Isto é Cinema” – programas de rádio e de televisão. Foi aliás após algumas temporadas a apresentar filmes na TVI que Herman José criou um “boneco” por si inspirado, o Lauro Dérmio, acentuando-se a sua peculiar pronúncia inglesa, na frase que ficou famosa: “let”s look at the traila”!
Conseguindo realizar o sonho de muita gente que escreve sobre cinema mas nunca teve coragem de o fazer, Lauro António passou à realização, no final da década de 1970. As duas curtas-metragens “Prefácio a Vergílio Ferreira” e “Vamos ao Nimas” foram mesmo o balão de ensaio para a obra maior de Lauro António, “Manhã Submersa”.
O filme, estreado em 1980, chegou ao mesmo tempo que outros títulos que almejavam também uma relação mais “pacífica” com o espectador comum, como “Cerromaior”, de Luís Filipe Rocha, “A Culpa”, de António Victorino d”Almeida” ou “Oxalá”, de António-Pedro Vasconcelos. Um dos momentos altos, dos muitos altos e baixos que o cinema português tem vivido.
Lauro António seguiu carreira. Fez uma série de quatro “Histórias de Mulheres”, para a RTP, e mais uma longa-metragem, “O vestido cor de fogo”. Um projecto não realizado sobre Florbela Espanca ter-lhe-á retirado a vontade de fazer mais cinema. Mas tem continuado, de novo deste lado. No ensino universitário, na organização de festivais de cinema (em Seia, Vila Nova de Famalicão e Viana do Castelo) onde nem sempre o bom cinema chegava.
Em maio de 2021, inaugurou em Setúbal a Casa das Imagens, projeto que resulta de uma doação que Lauro António fez à Câmara Municipal de Setúbal de cerca de 50 mil livros, filmes, fotografias, cartazes, documentos e objetos relacionados com cinema e imagem.
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