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Vila Nova de Famalicão
Sábado, 23 Novembro 2024
Annalisa Quintão
Annalisa Quintão
Nasceu em Itália e reside em Portugal há vários anos. Está a fazer o doutoramento em Estudos Culturais pela Universidade do Minho. Atualmente é docente do ensino básico em Vila Nova de Famalicão.

Meios que justificam fins ou Maquiavel adulterado

Na minha opinião os autarcas têm que andar na rua. Têm que experimentar as dificuldades e as virtudes do Município.

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Annalisa Quintão
Annalisa Quintão
Nasceu em Itália e reside em Portugal há vários anos. Está a fazer o doutoramento em Estudos Culturais pela Universidade do Minho. Atualmente é docente do ensino básico em Vila Nova de Famalicão.

Famalicão

Entre 31 de outubro e 12 de novembro, decorre em Glasgow (Escócia) a Cimeira da COP26 – órgão de tomada de decisões da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas.

Em que é que este assunto nos interessa? Em tudo. Sobretudo no que toca à herança que queremos deixar às gerações vindouras, que têm e terão rostos, nomes e direito a usufruir do planeta e dos seus recursos, tal qual nós tivemos e temos.

Por isso, aos níveis individual e coletivo, cada um tem que fazer a sua parte.

Mas, tratando-se de uma tarefa tremenda, que implica a mudança de hábitos, de formas de vida, de lógicas ou, como está na moda dizer-se, mudança de paradigma, as orientações têm que ser interiorizadas por todos.

Neste particular, saliento a importância dos exemplos dados pelos líderes políticos, sociais, desportivos, culturais, etc. Há sinais claros que têm que ser dados por quem lidera. Os líderes têm essa obrigação, essa responsabilidade.

Na minha opinião os autarcas – quer os que se encontram no poder, quer os que se encontram na oposição – têm que andar na rua. Temos que os ver na rua. Também eles a pé e, porque não, de bicicleta. Têm que experimentar as dificuldades e as virtudes do Município. Têm que fazer um esforço por reduzir um certo distanciamento do quotidiano da população em geral. Têm de se garantir uma perspetiva da realidade na primeira pessoa e não por interpostas sensibilidades.

Todos queremos uma contínua melhoria de qualidade de vida e, essa melhoria só vai acontecer quando por parte de todos nós houver uma interiorização de conceitos e comportamentos sustentáveis.

Por isso, os autarcas – porque muito próximos dos seus eleitores – têm uma responsabilidade primordial em tomar decisões com as pessoas e para as pessoas, de escrutinar propostas, de as contestar se for o caso e de fazer um esforço suplementar de explicar às populações que os elegeram o porquê das opções.

Exemplo do que acabo de dizer é a conhecida e inexplicável eliminação do estacionamento na rua do Centro de Saúde da Estação em substituição de uma ciclovia.

Desde o primeiro momento, creio que apenas o Município entendeu que aquela seria uma solução adequada ao local. Mais ninguém.

Agora, feita a obra, anuncia-se um estudo de soluções – note-se, para um problema que não existia, que foi criado com o nosso dinheiro e que será resolvido à custa também dos nossos trocados (pede-se que a equipa que estará a estudar a solução não seja a mesma que criou o problema).

Fica pois descredibilizada a questão ambiental associada à obra e ao seu eventual propósito.

Adianta-se que mudar de sítio a cidade deixando a ciclovia onde está, não será solução. A ciclovia terá como objetivo contribuir para um melhor ambiente e mobilidade e não como um fim por si só. Digo eu.

Portanto, há – como em todas as questões – a necessidade fundamental de que as razões sejam bem percebidas, de que a adequação de meios seja proporcionada e justa, para que os cidadãos interiorizem as necessidades e ajam de acordo com os objetivos que devem ser comuns.

Será um pouco atrevido pensar-se que os automóveis deixarão de existir amanhã. Mas, se se quer realmente que o seu número se vá reduzindo, há que proporcionar alternativas sérias às pessoas. Uma alternativa que não surgiu neste rol de obras municipais foi estacionamento capaz junto da Estação de Caminhos de Ferro. Aliás, foi suprimida uma boa parte dele. Como se convencem assim as pessoas a utilizar mais os comboios?

Não se pode exigir, de forma cega, a quem vem das freguesias, que utilize os transportes públicos que na prática ainda não funcionam como deveriam e como gostaríamos (será que sabemos quantos quilómetros por ano percorre um autocarro sem qualquer utente, em Vila Nova de Famalicão?).

Porém, já mais fácil será proporcionar estacionamento nas periferias (tendencialmente gratuitos e vigiados impedindo extorsão de trocos aos automobilistas por parte de pretensos indigentes), passeios confortáveis sem buracos nem carros lá estacionados.

Tem que existir um compromisso conjunto. Pontos de encontro entre as exigências das nossas vidas e as soluções que se vão encontrando. Têm que ser dados exemplos concretos, visíveis, palpáveis. Sem folclores.

Concluindo, o tema das alterações climáticas é o mais premente dos nossos dias. Não é um desafio dos outros. É nosso.

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Nasceu em Itália e reside em Portugal há vários anos. Está a fazer o doutoramento em Estudos Culturais pela Universidade do Minho. Atualmente é docente do ensino básico em Vila Nova de Famalicão.
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