Joaquim da Silva Loureiro, que foi advogado e presidente da Assembleia Municipal de Vila Nova de Famalicão, faleceu esta quarta-feira, aos 87 anos de idade.
As cerimónias fúnebres realizam-se esta quinta-feira, dia 28, pelas 15h00, na antiga igreja matriz de Vila Nova de Famalicão, onde o corpo poderá ser velado a partir das 10h00. Após a missa de corpo presente, será cremado no cemitério de Braga, segundo informou a agência funerária Rodrigo Silva.
Entretanto, informa a funerária, a família de Joaquim Loureiro sugere que “as tradicionais flores e coroas utilizadas como forma de homenagem, sejam substituídas por outro nobre gesto como o apoio a instituições de solidariedade social”.
Com forte atividade cívica e política antes e depois do 25 de Abril de 1974, Joaquim Loureiro fica conhecido na história local e na memória daqueles que com ele contactaram pelo seu espírito livre, não só enquanto resistente e lutador antifascista, mas também como militante do Partido Socialista de Vila Nova de Famalicão.
DE ALCOBAÇA A FAMALICÃO
Natural de Alcobaça, onde nasceu em 29 de Maio de 1936, Joaquim da Silva Loureiro era licenciado em direito pela Universidade de Coimbra. Desde finais da década de 1950, foi um ativo apoiante da Oposição Democrática ao Estado Novo.
Em 1958, apoiou a candidatura do general Humberto Delgado à Presidência da República e, durante a crise académica de 1960-1962, participou ativamente nas manifestações estudantis contra o Governo de Salazar, atividades que resultariam em duas detenções pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado).
Impedido de entrar para a magistratura, entre 1967 e 1968, lecionou na Escola Técnica de Vila Nova de Famalicão (atual Escola Secundária D. Sancho I) acabando por ser expulso da função pública por decisão do Conselho de Ministros, devido às suas posições políticas, nomeadamente, por ser apoiante da Oposição Democrática ao Estado Novo.
Joaquim Loureiro chegou a Vila Nova de Famalicão em finais de 1967, com o objetivo de fazer o seu estágio de advocacia com Armando Bacelar e regressar a Alcobaça, a sua terra natal. Para além de ter participado nas lutas académicas em Coimbra e na campanha do general Humberto Delgado, também participou no “Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra” e no “Cineclube de Coimbra”.
Com o nome registado na polícia política, não tinha hipóteses de enveredar pela magistratura, restava-lhe a advocacia. E foi em Vila Nova de Famalicão que encontrou novos amigos, uma nova família, clientes e uma nova terra. O dia 2 de janeiro de 1969 acabou por ser feliz: foi convocado pelo advogado Lino Lima para uma reunião, com algumas dezenas de oposicionistas, integrando-se integrei rapidamente na Comissão Democrática Eleitoral (CDE). Foi nesta formação política de oposição ao regime do Estado Novo que conheceu Margarida Malvar, com quem casou e foi pai de três filhas.
Após o 25 de Abril de 1974, radicado em Vila Nova de Famalicão e já casado com a também advogada Margarida Malvar, aderiu ao Partido Socialista, do qual foi membro da Comissão Diretiva e da Comissão Nacional, tendo sido igualmente membro de vários secretariados a nível concelhio e distrital.
NA POLÍTICA E NOS JORNAIS
A sua atividade política intensificou-se nos primeiros anos do regime democrático. Foi membro da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, liderada por Pinheiro Braga, do MDP/CDE, e foi eleito vereador nas primeiras eleições autárquicas, pelo PS, tendo integrado o executivo municipal presidido por José Carlos Marinho (PSD).
Em 1976, fundou o jornal “Democracia do Norte”, de que foi proprietário e diretor. Apresentado como “semanário regionalista e independente”, o “Democracia do Norte”, fundado em 21 de abril de 1976, teve o seu último número publicado em 12 de dezembro de 1979.
Com a vitória do PS nas autárquicas de 1983 e seguintes, Joaquim Loureiro chegou a ocupar a presidência da Assembleia Municipal de Vila Nova de Famalicão, enquanto Agostinho Fernandes assumiu a presidência da Câmara Municipal. Porém, Joaquim Loureiro acabou por entrar em rotura com a liderança nacional do PS e abandonou a atividade partidária e a própria presidência da Assembleia Municipal. Em 2001, num cenário de divisão socialista entre Agostinho Fernandes e Fernando Moniz, reapareceu na política, tendo sido eleito deputado à Assembleia Municipal pelo PS, naquele que foi o primeiro de três mandatos do presidente da Câmara Armindo Costa (PSD-CDS).
Em 2017, Joaquim Loureiro lançou o livro “O Estado Totalitário”, em que escreveu a sua apreciação à governação de António de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano. “A quase unanimidade dos historiadores (salvo uma recente geração) ignorava a generalidade das ‘malfeitorias’ causadas pela ação dos diferentes órgãos e titulares do poder político ‘salazarista/caetanista’ em relação aos cidadãos – nas suas vidas, na sua honra, nos seus bens – fingindo que ignoravam a existência de que cidadãos portugueses foram vítimas não só de prisões políticas na “metrópole”, como de vítimas de verdadeiros campos de concentração”, referiu Joaquim Loureiro na sinopse da obra.
Em 1991, Joaquim Loureiro integrou o núcleo fundador do jornal “Opinião Pública”, integrando o conselho editorial do semanário juntamente com Luís Paulo Rodrigus, primeiro diretor do jornal, Artur Sá da Costa, Feliz Pereira, Almeida Pinto, António Cândido Oliveira, entre outros.
Na sua vida cívica, esteve ligado a diversas associações, nomeadamente à Quercus e em especial ao Famalicense Atlético Clube, onde foi presidente durante dois mandatos, na década de 1970, que deram projeção à coletividade.
Na sequência da sua aposentação como advogado, a Delegação de Vila Nova de Famalicão da Ordem dos Advogados, cumprindo a vontade dos advogados da comarca, manifestada em deliberação de assembleia de comarca, organizou um jantar de homenagem a Joaquim Loureiro, que se realizou no dia 30 de maio de 2014, na Casa do Outeirinho, na freguesia do Louro.
LUTO MUNICIPAL DE DOIS DIAS
Em nota de imprensa enviada às redações, o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Mário Passos, decretou dois dias de luto municipal pelo falecimento de Joaquim Loureiro. A bandeira do município estará a meia haste no edifício dos Paços do Concelho até ao fim desta quinta-feira, 28 de dezembro, dia das cerimónias fúnebres.
À família enlutada, o NOTÍCIAS DE FAMALICÃO expressa sentidas condolências.
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