Os últimos dias foram marcados por intensas chuvadas e pela surpresa de que Famalicão também pode ficar inundada. A tendência aponta para a existência de cada vez mais fenómenos extremos e esse facto deve mudar a forma como olhamos para as nossas cidades, e já que mudar o clima é algo que não está ao nosso alcance devemos preocupar-nos em minimizar os impactos destas mudanças.
O nosso presidente de câmara é alguém com interesse demonstrado nesta área, tendo recentemente aberto o ano letivo presenteando alguns alunos com uma aula sobre alterações climáticas. Mas, como em tudo, passar das palavras aos atos é a parte mais difícil da resolução de problemas e nas muitas obras realizadas ultimamente no nosso concelho, a minimização de fenómenos como as cheias nunca foi prioridade. Aqui está um bom exemplo de como pôr as competências do professor doutor Mário Passos ao serviço dos famalicenses, podendo desde logo começar por aplicá-las ao futuro skatepark, para que não se transforme num surfpark.
Será normal que a “nova cidade” tenha acabado completamente inundada? Terão as recentes obras em diferentes locais contribuído para este problema? Estarão as águas da chuva a ser devidamente escoadas e como podemos garantir que existe capacidade de resistir a chuvas intensas no futuro? Espero sinceramente que uma cidade alagada não seja o legado que nos calhe em sorte…
Noutra vertente da governação municipal, tenho muito orgulho em fazer parte de um conjunto de cidadãos famalicenses que nas últimas autárquicas acreditaram ser possível reduzir impostos ao nível local, pretensão a que a coligação “Gasta Mais Famalicão” sempre respondeu que tal não seria possível, pois era necessário assegurar o futuro dos nossos filhos. Pelos vistos, a salvaguarda do futuro não é posta em causa pela proliferação de obras de arte, que pouco dizem aos famalicenses e são pagas a peso de ouro pelos mesmos.
Ao já habitual anúncio da obra na tão bem gerida página pessoal do nosso presidente, juntou-se a ausência de discussão do assunto em reunião de câmara, e lá voaram mais 55 mil euros para um “Jardim Suspenso”. Não sendo especialista em arte, muito menos em avaliar o seu custo, gostei particularmente de um comentário numa rede social que alertava para o seu ar enferrujado e não consigo resistir a dissertar sobre o que levou o artista a idealizar um jardim metálico enferrujado.
Se Bordalo II e o seu roedor nascido do lixo nos faz refletir sobre a necessidade de reaproveitamento dos materiais, será que este “Jardim Suspenso” nasceu enferrujado para nos alertar para o desgaste e ar desleixado que os vasos e caixões dão a Famalicão? Ou será que de uma forma ainda mais poética nos pretende alertar para as consequências da cidade não ser capaz de resistir às chuvas que se avizinham? Ou ainda mais intrigante, será que que o artista idealizou a sua obra enquanto ouvia numa das últimas assembleias municipais a coligação ser descrita com “velha e gasta”?
Se juntarmos estes 55 mil euros aos mais de 38 mil para o artista Bordalo II e aos 210 mil da peregrinação a Fátima, constatamos que é muito fácil deixar de cobrar tanto aos famalicenses. Será assim tão descabido achar que estes 300 mil euros estavam melhor nos bolsos dos famalicenses? Mais vontade de aliviar o fardo dos nossos cidadãos e empresas e menos gastos luxuosos pode vir a ser um bom lema numa futura campanha autárquica e já agora também uma boa forma de explicar aos “laranjinhas” a dificuldade que os liberais têm em sentir-se atraídos para a sua coligação.
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