“Quem vier para a administração da Unidade Local de Saúde, a partir do dia 1 de janeiro, vai ter de se preocupar em procurar financiamento para melhorar e ampliar as instalações do Hospital de Famalicão”, afirma António Barbosa, presidente do centro Hospitalar do Médio Ave (CHMA), em entrevista exclusiva ao NOTÍCIAS DE FAMALICÃO, para um balanço ao trabalho realizado desde 2016.
Na entrevista, António Barbosa afirmou desconhecer se será escolhido pela direção nacional do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para liderar a nova Unidade Local de Saúde do Médio Ave. Sobre a transição em curso, considera que está a ser “tranquila”.
Ao fim de sete anos na liderança do CHMA, que gere os hospitais de Vila Nova de Famalicão e Santo Tirso, António Barbosa explica as profundas alterações introduzidas e as melhorias registadas, designadamente o crescimento “de todas as especialistas” e o aumento do número de novos médicos que todos os anos são formados.
Natural de Vila Nova de Famalicão e licenciado em Economia, António Barbosa presidiu ao conselho de administração do Centro Hospitalar do Alto Ave (Hospital de Guimarães) de 2010 a 2012 e integrou o conselho de administração do CHMA de 2007 a 2010. Fazem parte do seu currículo a docência em instituições do ensino superior e a administração executiva de algumas empresas.
Entrou para a vida pública como assessor financeiro da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, na década de 1990, no gabinete de apoio ao presidente socialista Agostinho Fernandes. No último executivo municipal do PS, entre 1997 e 2001, António Barbosa foi vereador do Ambiente e vice-presidente da autarquia (2000-2001).
NOTÍCIAS DE FAMALICÃO (NF) – Foi nomeado presidente do Centro Hospitalar do Médio Ave (CHMA) primeira vez em março de 2016. São mais de 7 anos ao leme da instituição de saúde pública, que serve os concelhos de Vila Nova de Famalicão, Santo Tirso e Trofa. Que balanço faz desses anos na presidência?
ANTÓNIO BARBOSA (AB) – Para responder essa perguntar tenho de pensar isso sobre diversas perspetivas. Uma delas é a organização do setor hospitalar. Em 2017 mudámos o perfil assistencial de cada uma das duas unidades do centro hospitalar. Aquilo que tem um impacto mais óbvio é a atividade cirúrgica. A partir desse ano o bloco operatório de Santo Tirso foi reservado exclusivamente para as cirurgias de ambulatório (sem internamento) e o bloco operatório de Famalicão para as cirurgias com internamento. Isso significa que mudamos o perfil dos blocos operatórios e o perfil dos internamentos. Em Santo Tirso havia internamento de medicina, de ortopedia e de cirurgia geral, e deixou de haver. A partir do momento em que a cirurgia com internamento passou a ser feita na unidade de Famalicão, os internamentos de cirurgia e ortopedia ficaram concentrados em Famalicão. Santo Tirso ficou apenas com internamento de medicina.
Houve aí uma alteração muito significativa que tem permitido que a cirurgia de ambulatório represente hoje cerca de 70% da atividade cirúrgica do CHMA. Com os conhecimentos e equipamentos atuais, é possível fazer em ambulatório algumas cirurgias que antes apenas eram feitas em contexto de internamento. Isso permitiu um grande crescimento da cirurgia de ambulatório, o que é ótimo! O doente chega de manhã e vai para casa ao fim da tarde. É uma mudança que tem tido resultados muito positivos quer para o centro hospitalar, que tem menos despesa, mas sobretudo, para os doentes, que é isso que nos interessa mais. Já do ponto de vista da organização dos serviços, não houve alteração significativa.
“Criamos a especialidade de Gastroenterologia, que o centro hospitalar não tinha. E vários serviços passaram a ter idoneidade formativa. Ou seja, foram reconhecidos pela Ordem dos Médicos como tendo capacidade para formar médicos.”
NF – O que mais destaca no trabalho desenvolvido?
AB – Conseguimos criar mais uma especialidade, a Gastroenterologia, que o centro hospitalar não tinha. Foi também alcançado um dos dos objetivos que traçamos no início: vários serviços passaram a ter idoneidade formativa. Ou seja, foram reconhecidos pela Ordem dos Médicos como tendo capacidade para formar médicos. A Ortopedia é o serviço mais recente a obter idoneidade formativa e, portanto, já vai ter um interno da especialidade em janeiro.
A Cirurgia Geral e a Ginecologia e Obstetrícia que também não tinham, passaram a ter. A Medicina Interna e a Pediatria já tinham. A Anestesia ainda não tem, mas já começou a proporcionar estágios a finalistas. Isto para nós é muito importante, porque o facto de termos idoneidade formativa permite dar formação aos novos médicos e permite que os nossos médicos atualizem os seus conhecimentos, na medida em que vem gente nova que traz ideias novas.
“A cirurgia de ambulatório represente hoje cerca de 70% da atividade cirúrgica”.
NF – Quantos médicos internos vão entrar no CHMA em janeiro?
AB – Devemos ter cerca de 40 e a 50 internos. No dia 3 de janeiro chegam 7 internos da especialidade e cerca de 30 do ano comum, que são aqueles do 6º ano da faculdade e 1º ano de internato. O facto de termos obtido idoneidade formativa nestes serviços tem permitido ter gente nova aqui a acabar a sua formação. Também é importante para os nossos médicos ter o estímulo de proporcionar formação a jovens médicos que estão na fase final da sua formação.
Foi importante para a Ginecologia e Obstetrícia o facto de nós termos essa capacidade de formar aqui médicos pois, como se sabe, a nossa maternidade esteve em risco há algum tempo. Acho que nunca esteve em risco verdadeiramente, mas de algum modo esteve porque foi produzido um relatório que sugeria que ela poderia fechar.
Ainda sobre a formação de novos médicos, fizemos em setembro passado um protocolo com a Universidade do Minho para darmos formação prática aos alunos da Universidade do Minho na área da ortopedia. O nosso serviço de ortopedia foi reconhecido pela Universidade do Minho como tendo qualidade suficiente para poder proporcionar um ensino prático aos alunos do curso de Medicina.
“As nossas especialidades cresceram todas ao longo destes últimos anos e melhoraram muito a forma como damos resposta às necessidades dos doentes.”
NF – E as especialidades e serviços médicos?
AB – Do ponto de vista geral, as nossas especialidades cresceram todas ao longo destes últimos anos e melhoraram muito a forma como damos resposta às necessidades dos doentes. Hoje a nossa diferenciação é bastante maior e os nossos médicos fazem técnicas que não faziam.
Houve um progresso muito grande. Criamos a Clínica da Mama, criamos uma subespecialidade na área da cirurgia oncológica. Fizemos, com a ajuda da comunidade, um grande investimento na área da Ginecologia e Obstetrícia e criamos a Clínica da Mulher e da Criança para termos um espaço que proporcionasse um atendimento quase completo às grávidas e às crianças que só entram no hospital se tiverem de ser internadas.
Mudamos os internamentos e hoje todos os internamentos têm climatização. Aproveitamos isso para proporcionar melhores condições para os nossos profissionais trabalharem. Também estava no programa de investimentos a substituição do mobiliário hospitalar e, espero que se concretize, com a Unidade Local de Saúde [ULS].
NF – Recentemente foi inaugurado um novo edifício e também um novo serviço.
AB – A unidade de Santo Tirso estava a precisar de obras e conseguimos um apoio do Governo que ultrapassa ligeiramente os cinco milhões de euros para a sua requalificação. Com esse dinheiro foi construído um edifício com três pisos: no primeiro funciona o ambulatório, a consulta e o hospital de dia da saúde mental; no segundo está o internamento de medicina, que funcionava num edifício muito velho e agora vai proporcionar muito melhores condições de conforto para os doentes internados; e no piso de cima um internamento de saúde mental que vai abrir agora.
NF – O internamento de Saúde Mental está pronto, mas ainda não começou a funcionar. Quando começa?
AB – Durante o mês de janeiro. É uma atividade completamente nova no CHMA e embora grande parte dos enfermeiros do serviço sejam especialistas em saúde mental, foram fazer uma formação prática de atualização de conhecimentos no Magalhães Lemos e outros hospitais da região.
NF – E em relação aos Cuidados Continuados?
AB – Já temos também uma candidatura aprovada no PRR para instalar nesse novo edifício uma unidade da rede nacional de cuidados continuados com 28 camas.
NF – Há mais investimentos previstos?
AB – Em Santo Tirso foi feito um investimento significativo com esse novo edifício que vai permitir reestruturar toda a área de ambulatório, passa as consultas a os exames para os edifícios mais próximo da rua, para que as pessoas tenham melhores condições de acesso ao hospital.
Em Famalicão estamos também a construir um novo edifício para a área de ambulatório de Saúde Mental que deve ficar pronto até março de 2024. Com essas novas instalações vai ser possível libertar espaço na consulta externa para que seja feita uma reorganização.
NF – É, portanto, um balanço positivo?
AB – Sim, mas há também alguma insatisfação porque há mais que gostaríamos de ter feito, mas o contexto nem sempre permitiu. Por um lado, a covid-19 foi a oportunidade para fazer muitas mudanças, mas também foi um período durante o qual tivemos focados numa doença particular e com isso não desenvolvemos tanto quanto queríamos outras áreas que merecem ser desenvolvidas. O investimento para Santo Tirso veio na hora certa, ainda não está completamente concluído, mas estamos a caminho. Agora quem vier para a administração da Unidade Local de Saúde, a nova realidade a partir do dia 1 de janeiro, vai ter de se preocupar em procurar financiamento para melhorar e ampliar as instalações do Hospital de Famalicão.
“Pela primeira vez em 2023 tivemos todo o ano doentes internados fora do hospital. É um custo que o hospital suporta financeiramente porque não tem camas para todos os doentes.”
NF – Os internamentos sociais têm aumentado ao longo dos anos?
AB – Sim, têm aumentado bastante. Os doentes mais velhos têm cada vez menos retaguarda familiar depois da alta hospitalar. Procurámos encontrar soluções, nomeadamente na rede nacional de cuidados continuados, que nesta altura é insuficiente para dar resposta a todos os casos. Há muitos doentes que ficam muitos dias no hospital sem necessidade, que têm alta clínica. São doentes que permanecem no hospital porque não têm ninguém que os acolha em casa. Desses doentes, alguns têm a possibilidade de ser referenciados para uma unidade de curta, média ou longa duração na rede nacional de cuidados continuados; outros não têm perfil que lhes permita ser elegíveis para irem para a rede, nomeadamente os casos sociais.
Os casos sociais ficam à espera de uma solução da Segurança Social, que normalmente é um pouco mais demorada. Portanto, temos no hospital muitas centenas de dias de internamento que não têm motivo clínico. Não são dias inúteis porque estamos a acolher alguém que precisa de ter cuidado e alimentação, mas essas pessoas não deviam estar no hospital, devia estar noutra instituição.
Essa situação reforça a necessidade de fazer investimentos no Hospital de Famalicão, investimentos não só para requalificar os espaços e mudar mobiliário, mas para ampliar os espaços porque os internamentos começam a ser muito curtos.
NF – Faltam camas?
AB – Pela primeira vez em 2023 tivemos todo o ano doentes internados fora do hospital. É um custo que o hospital suporta financeiramente porque não tem camas para todos os doentes. No Inverno, a pressão é bastante maior e acabamos por não ter disponibilidade de camas suficiente para dar resposta à necessidade e, portanto, temos de recorrer a internamentos em instituições na nossa área de influência. Atualmente temos entre 30 e 40 doentes instalados em hospitais aqui à volta. Essa situação não era comum e não resulta de nenhuma diminuição de camas, pelo contrário, aumentámos em todas as áreas onde podíamos aumentar, mas continua a ser manifestamente insuficiente.
“O CHMA tem cerca de 200 médicos no quadro e muitos mais em regime prestação de serviços. Enfermeiros são cerca de 440. No total, são mais de 1200 pessoas a trabalhar nos hospitais de Famalicão e Santo Tirso.”
NF – Em 2022 o CHMA registou o maior número de partos dos últimos 5 anos. No ano passado foram 17% mais partos do que em 2021. O que apontam os números de 2023?
AB – Nesse momento, o número de partos em 2023 já é maior que o de 2022. Mas o ano ainda não acabou…
NF – No que se refere aos atendimentos nas Urgências, tem aumentado ou mantém-se estável?
AB – Cresceu um pouco porque nos anos da covid-19 baixaram. Entretanto, voltaram aos níveis de 2019 e têm se mantido mais ou menos estáveis. O problema nas Urgências também tem a ver com os internamentos. Isso porque há muito doentes, nomeadamente idosos, que necessitam de cuidados que são muitas vezes um pouco mais demorados, ou os próprios doentes precisam de ficar em observação, e, com isso, ficam mais tempo na urgência. São cuidados que não justificam um internamento e que acabam por ocupar as Urgências.
Portugal faz 2,5 vezes mais urgência do que a média dos países da União Europeia. Isto é sinal de que, provavelmente, os cuidados de saúde primários não estão a dar resposta suficiente, e também de que é mais fácil vir às Urgências porque não é preciso marcar; é um serviço aberto 24 horas. Além disso, as pessoas têm a ideia de que na Urgência têm uma capacidade de resolver os problemas mais complicados de forma mais rápida porque há acesso a exames que se podem fazer logo na hora. É um problema também de formação e educação. Ainda não se liga muitas vezes para SNS 24.
É uma área que, de forma geral, precisa ser trabalhada para diminuirmos a pressão nas urgências de todo o país. Cerca de 40% dos episódios de urgência não são, de facto, urgentes. As pessoas muitas vezes sentem o mesmo sentimento de urgência que os outros, reclamam da demora no atendimento e sentem-se ansiosas pelo atendimento, o que é natural. Quando nos sentimos doentes, nem sempre sabemos ou temos a noção se a doença é grave ou se não é. Isso acaba por obrigar a ter muitos recursos na urgência: muita gente a trabalhar, equipamentos, espaço, etc. Portanto, essa triagem de casos urgentes e não urgentes tem de ser feita de antes de o utente chegar ao serviço de urgência sob pena de não haver recursos que cheguem, por mais que sejam criados espaços é preciso encontrar novas soluções.
NF – Quantas pessoas trabalham no CHMA?
AB – O CHMA tem cerca de 200 médicos no quadro e muitos mais em regime prestação de serviços. Enfermeiros são cerca de 440. No total, são mais de 1200 pessoas a trabalhar nos dois hospitais.
“O processo de transição para a Unidade Local de Saúde está a ser tranquilo. Naturalmente há coisas que terão de ser limadas com o tempo, tal como aconteceu quando foi criado o CHMA. Quando se juntaram os hospitais de Famalicão e de Santo Tirso num centro hospitalar também demorou tempo a produzir resultados. Não se fazem mudanças desta dimensão em poucos meses, mas o caminho faz-se caminhando.”
NF – Em janeiro de 2023 o Governo disponibilizou 10 milhões de euros para blocos de partos e a Maternidade de Famalicão foi uma das beneficiadas. Em que consistiu o investimento de 283 mil euros realizado recentemente no bloco de partos?
AB – Consistiu sobretudo em equipamento. Há também uma parte do investimento que foi destinada a obras. Foi construída uma nova sala de partos. Eram 4 e agora são 5. Isso obrigou uma pequena obra de construção civil, algumas reparações no piso e pequenos arranjos. No entanto, o volume maior do investimento foi na modernização de equipamentos que já eram antigos. Além disso, o mobiliário e as camas de parto estão também estão a ser todas substituídas.
NF – O CHMA é um dos 29 hospitais que vão receber equipamentos médicos pesados, num investimento do Governo de 117 milhões. Que equipamento vai receber?
AB – Um novo equipamento para realização de tomografias (TAC). O que temos já é antigo e vamos receber um equipamento mais moderno.
NF – A partir do dia 1 de janeiro entra em funções a Unidade Local de Saúde (ULS) do Médio Ave que agrega numa só instituição o CHMA, os centros de saúde de Famalicão, da Trofa e de Santo Tirso.
AB – Exatamente. As ULS vão reunir todos os cuidados de saúde prestados por entidades públicas, ficando hospitais e centros de saúde sob uma gestão única. A ULS do Médio Ave abrange cerca de 240 mil pessoas em Vila Nova de Famalicão, Santo Tirso e Trofa.
Com essa integração da gestão das unidades de saúde, tanto na ULS do Médio Ave como nas outras 30 que iniciam funções a 1 de janeiro, o objetivo é procurar que funcionem melhor dando uma resposta mais simples ao utente e facilitando o acesso. O que se pretende é melhorar os serviços e fazer mais com o que temos, evitando o crescimento tão acelerado dos custos.
NF – Como está a ser o processo de transição para ULS?
AB – Está a ser tranquilo. A criação da ULS implicou antes da apresentação de um plano de negócios que tinha duas partes: uma orientada para a melhoria da qualidade assistencial para os doentes e outra para o aspeto financeiro. O plano de negócios foi aprovado e a comissão executiva que está a tratar da transição. A nossa principal preocupação neste momento é evitar que ocorram problemas nos primeiros dias de janeiro. Depois, o Conselho de Administração que tomar posse em janeiro, não se sabe ainda a data, irá começar a implementar o plano de negócios. O modelo é consensual e só há razões para que ocorram melhorias.
Naturalmente há coisas que terão de ser limadas com o tempo, tal como aconteceu quando foi criado o CHMA. Quando se juntaram os hospitais de Famalicão e de Santo Tirso num centro hospitalar também demorou tempo a produzir resultados. Como é óbvio, não se fazem mudanças desta dimensão em poucos meses, mas o caminho faz-se caminhando. Da mesma forma que o centro hospitalar foi criado e consolidado o mesmo vai acontecer com a ULS.
Algumas pessoas esquecem-se que foi pelo facto de se terem juntado os hospitais que foi possível ter um urgência médico-cirúrgica e uma VMER, bem como o desenvolvimento de especialidades que os hospitais não tinham. Se os hospitais de Famalicão e de Santo Tirso tivessem ficado separados, provavelmente não havia urgência médico-cirúrgica, haveria uma urgência menor. Em vez de dois hospitais pequeninos, temos um centro hospitalar que desenvolveu-se e está na primeira linha. Isto veio permitir um grande desenvolvimento das atividades que se desenvolvem na instituição e acho que quem tinha dúvidas sobre a junção dos dois hospitais hoje já não tem. Havia um rio a separar Famalicão de Santo Tirso e que nos primeiros tempos foi difícil de vencer, apesar de haver pontes. Agora já não há rio nenhum.
“O centro hospitalar tem uma ótima relação com as três câmaras municipais, em particular, e com a comunidade, de uma forma em geral.”
NF – Sobre a ULS, recentemente Mário Passos disse que “está tudo a ser resolvido nas costas da Câmara de Famalicão” e solicitou uma reunião com os autarcas de Santo Tirso e Trofa. O edil quer saber “quem vai gerir, que equipa estará envolvida, sobre o apetrechamento de meios, etc.” De facto, as nomeações têm sido alvo de críticas dos diversos partidos da oposição…
AB – O decreto-lei que cria as ULS contempla que os municípios da zona abrangida escolham um membro para o Conselho de Administração. No caso da ULS do Médio Ave, cuja sede é em Santo Tirso, este representante é escolhido por Famalicão, Santo Tirso e Trofa.
O centro hospitalar tem uma ótima relação com as três câmaras municipais, em particular, e com a comunidade, de uma forma em geral. Muitas instituições, empresas e pessoas a título individual tem colaborado connosco. Temos feito diversos eventos abertos à comunidade nos três concelhos. Todos têm uma noção da importância do centro hospitalar para a região.
NF – Pode traduzir essa importância em números?
AB – São 160 mil consultas médicas por ano. O número é muito maior se incluirmos outras consultas de enfermagem, psicologia, nutricionismo, etc. São 8 mil cirurgias por ano. Passam, em média, nos dois hospitais 1000 pessoas todos os dias entre consultas, urgências, exames, etc.
O CHMA tem um papel muito ativo na nossa comunidade e é importante que as pessoas também conheçam e percebam as nossas dificuldades. Às vezes reclamam, algumas vezes têm razão, o CHMA não é perfeito, não há organizações perfeitas, sobretudo numa área como a saúde.
NF – Ainda sobre as declarações do presidente da Câmara de Famalicão, que disse estar “perplexo” com o facto do Município não ter sido chamado para as reuniões de constituição da ULS e acha “que o processo está a começar mal”… O edil disse que a Câmara Municipal não foi ouvida nem pelo Ministério da Saúde, nem pelo diretor-executivo do SNS. Tinha que ser?
AB – A Câmara de Famalicão tem sido um parceiro ativo e tem acompanhado atentamente a atividade do CHMA. Eu não queria pronunciar-me sobre isso, porque evidentemente nós temos trocado impressões, mas, enfim, certamente o senhor presidente da Câmara esperaria outro alto nível de envolvimento que não sei se foram as circunstâncias políticas que ocorreram, se isso pode explicar ou não…
O que posso dizer é que a Câmara de Famalicão, que é de quem estamos a falar agora, assim como as Câmaras da Trofa e de Santo Tirso, têm sido excelentes parceiros e temos trocado muitas impressões. A Câmara de Famalicão tem informações sobre a ULS, sabemos que sim. Mas é óbvio que há muitas coisas que nós próprios [comissão executiva] ainda não sabemos.
“Passam, em média, nos dois hospitais 1000 pessoas todos os dias entre consultas, urgências, exames, etc.”
NF – Quem integra a equipa que está a tratar da transição?
AB – O decreto-lei que criou as ULS criou também a figura da Comissão Executiva, cujo mandato termina no dia 31 de dezembro. A comissão executiva da ULS do Médio Ave é constituída pelo Presidente do Conselho de Administração do CHMA e pelos diretores executivos do ACES do Santo Tirso/Trofa e do ACES Ave-Famalicão. Temos feito inúmeras reuniões ao longo desse período para preparar o arranque da ULS.
Os municípios também têm agora uma intervenção importante por causa da transferência das competências na área da saúde, sobretudo na área dos cuidados de saúde primários, nomeadamente gestão dos edifícios. Penso que a saúde em geral, e sobretudo este modelo da ULS, beneficia muito do facto de haver um representante das autarquias, porque o trabalho tem de ser feito entre os hospitais, os centros de saúde e as autarquias. As autarquias têm um papel fundamental na divulgação das boas práticas da alimentares, da prevenção da doença.
Não tenho dúvidas nenhumas que cada ano que passa vai haver um entrosamento cada vez maior entre as unidades de saúde e a comunidade, representada pelas câmaras municipais e associações, voluntários, empresas, etc. A saúde é um problema de todos e é importante que a comunidade participe. Quando falamos de um hospital aberto, falamos de um hospital que dialoga, que ouve. É importante perceber as preocupações da comunidade e procurar ajustar-se a elas. Temos de trabalhar todos em conjunto. Essa interação entre os diversos agentes da comunidade é muito útil para todos. Nem sempre a relação pode ser tão profunda como todos gostariam porque não há tempo para tudo, há sempre muitas reuniões, muitos problemas, muitas coisas para resolver. Mas certamente está toda a gente bem-intencionada e certamente o senhor Presidente da Câmara de Famalicão também está. Tenho a certeza de que ele e os outros presidentes de Câmara vão ser elementos fundamentais no desenvolvimento da ULS do Médio Ave.
NF – Há alguns meses o diretor executivo do SNS disse que grande parte das administrações seria reconduzida. Vai presidir o conselho de administração da ULS do Médio Ave?
AB – Não sei. [risos] Tem de perguntar a ele.
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