A pandemia incrementou a discussão sobre o conceito de “cidade de 15 minutos” e que começa a ser aplicada em diversas metrópoles, tendo como fim último preparar as metrópoles para o futuro, apostando na qualidade de vida dos seus cidadãos.
De forma simplista, poderíamos afirmar que este conceito inclui algumas das características das cidades do futuro ou “smart cities”, cidade inteligente, que vai além do uso de tecnologias digitais para melhor uso de recursos e menos emissões. Acarreta redes de transporte urbano mais inteligentes, instalações de abastecimento de água e recolha de resíduos melhoradas e utilização de meios mais eficientes de iluminar e aquecer edifícios.
Na “cidade de 15 minutos”, cada cidadão poderia ter acesso a todos os serviços essenciais, de educação, saúde, comércio, equipamentos culturais e espaços verdes sem ter de se deslocar grandes distâncias. Em suma, os equipamentos não distariam mais de 15 minutos a pé, de transportes públicos ou de bicicleta. Acaba por ser um conceito de planeamento urbano que consiste em cidades em que a maioria das necessidades e serviços diários estão localizados a 15 minutos a pé ou de bicicleta.
Um dos itens que se destaca é o existirem áreas residenciais com comércio. Edifícios de habitação, com comércio e serviços, o que permite que se idealize uma cidade polifuncional. As monofuncionais não são cidades com vida, são cidades-dormitório.
A escala da nossa cidade está a anos-luz das metrópoles onde começa a ser aplicado, mas nada nos impede que tentemos reproduzir, idealizar e projetar os princípios que norteiam esse conceito, devidamente ajustados à nossa realidade.
E isto a propósito de há não muitos anos, uma equipa de urbanistas e outros entendidos na projeção e desenho de urbanizações e áreas verdes, terem traçado um projeto para a ampliação e desenvolvimento de uma “nova” cidade. Como na maioria das cidades a população está disposta a que a sua terra cresça, prospere e se desenvolva.
Esperava-se então uma nova área residencial, ligando a cidade ao Tribunal e um expectável crescimento sustentado e dinamizador da cidade a norte.
Anos antes, a cidade já tinha dado um salto quando o lado norte da nacional 206, que nos liga à Póvoa e Vila do Conde e bifurca para a nacional 204 para Barcelos, viu surgir dois dos indicadores à data, da modernidade: um Mc Donald’s e uma estrutura dotada de cinema, lojas comerciais, bomba de combustíveis de uma marca francesa sobejamente conhecida na comercialização de produtos alimentícios – a E. Leclerc.
Foi então que a partir de abril de 1996, ficamos a saber, como proclamavam os investidores que “Agora a vida á mais barata em Famalicão”.
Já nesse ano, na Quinta da Berberia, tinha aberto o Jumbo que posteriormente, em 2011, procedeu a obras de remodelação e ampliação, concretizando o projeto de revitalização, modernização e ampliação da Galeria Comercial Jumbo de Famalicão, com uma área de cerca de 4000 metros quadrados. E foi desde aí que passamos a ter os “militantes do Bom, do São e do Local”.
No ano de 1997, a multinacional alemã Lidl, abriu a sua primeira loja na Avenida Marechal Humberto Delgado. Em fevereiro de 2014 procedeu à modernização e ampliação da sua loja, continuando a apostar no lema “Mais para si”. A oito de fevereiro de 2024 abriu na Avenida Eng. Pinheiro Braga, a sua quarta loja concelhia. 1400 m2 de área comercial, 160 lugares de estacionamento e uma aposta na sustentabilidade. Segundo as publicações efetuadas constituiu um “investimento avaliado em 11 milhões de euros, “tendo o retalhista impulsionado o desenvolvimento e requalificação do espaço público envolvente, beneficiando a comunidade”.
A 24 de julho do ano transato era inaugurado com pompa e circunstância um espaço denominado Famalicão Retail Center. Para além do supermercado, passamos também a poder usufruir da marca que se dedica ao bem-estar e aos cuidados de saúde do seu melhor amigo, a ZU, das roupas Sonae da MO, do conceito Sonae misto de padaria, pastelaria e cafetaria de rua BAGGA, da loja de saúde e bem-estar da Wells ou na Worten, onde “É tudo como tu queres”.
O edil rejubilou e prestava declarações afirmando que para além da criação de mais espaços comerciais, “também cria mais habitação, mais emprego e mais espaços verdes, uma vez que veio permitir o prolongamento do Parque de Sinçães”.
Enquanto aguardamos estas concretizações, sugiro que possamos pensar em eventos que possam dar a conhecer estas últimas pérolas concelhias.
Pode parecer um sonho, mas tem muito de real…
Era uma vez uma cidade que tinha tudo para dar certo.
Localização estratégica, clima agradável e uma população hospitaleira, afável e disposta a crescer e prosperar.
Os urbanistas, arquitetos e demais técnicos do setor, traçaram um notável plano: uma nova área residencial espaçosa, com árvores, comércio e até quem sabe com mais um repuxo iluminado ou um lago artificial para patos e local calmo e aprazível para influenciadores digitais.
O sonho da cidade quase perfeita estava ali, no papel, esperando apenas poder ser concretizado.
Mas como em todas as boas histórias, há sempre um “je ne sais quoi”. Desta vez, foi uma tragédia urbana: a febre dos hipermercados.
No entanto, face ao crescimento (dados de agosto de 24) de 926 pessoas que escolheram connosco coabitar e adotaram Vila Nova de Famalicão para viver.
“São muitos os sítios em Portugal que não parecem ser portugueses”, afirmava um casal. E com razão. Aqui é Portugal. Não se comparando ao desnorte urbanístico de Quarteira ou à geração espontânea de rotundas em Viseu, compreendam que também temos os nossos percalços.
Um outro afirmava “É muito reconfortante e gratificante viver cá, porque aqui temos tudo o que precisamos”. Nada mais de acordo. “O Continente é de toda a gente” ou “Novidades? Só no Continente!”.
Mas o reforço turístico é deveras surpreendente: 69 mil dormidas, das quais 37,4% de cidadãos estrangeiros. Seriam turistas ou técnicos e visitantes em trabalho? Independentemente da qualidade, é de enaltecer o acréscimo. Para reforçar esta vontade dos que se querem fixar entre nós ou daqueles que nos visitam, proporia ao turismo a promoção de um evento denominado Rota dos Hiper, alavancado numa perspetiva inclusiva, casando a história, a cultura e o desporto.
Iniciar-se-ia na Praça Álvaro Folhadela Marques, nos jardins da Câmara Municipal. Percorria a Conselheiro Santos Viegas, prestando justo tributo ao Supermercado Bandeirinha, decano dos Supermercados/mercearias famalicenses citadinas (1976). Para prevenir a desidratação, seria feita a distribuição de águas de Melgaço (não sei de outros locais onde seja comercializada). Continuava-se a subir a rua, rumo ao Lidl. Que tal visitar a prateleira das Weisswürst, a famosa salsicha branca; procurar o Eisbein, o joelho de porco normalmente servido com chucrute, um Schnitzel, dos vizinhos austríacos ou o Brezel, o pão alemão, polvilhado com sal grosso e acompanhado de cerveja. Feitas as despedidas, com o Auf Wiedersehen, resta partir para nova etapa.
Poucos metros à frente, eis-nos chegados ao Continente. Aqui, uma volta pelos fumeiros, enaltecendo os famalicenses – Fumeiro do Fernando e o Minhoto – pelos enchidos – cá da terra, pois claro! – uma incursão na área das frutas e quem sabe encontraremos os mirtilos da Quinta das Pirâmides ou os minikiwis da Minikiwi farm, de Landim. Haverá ainda tempo para passar pelos vinhos de Compostela?
Feita a saída, com vista para o Tribunal, tempo de mudar de via na Avenida Pinheiro Braga e dirigirmo-nos para o E. Leclerc, Soyez la bienvenue!.
Aqui, para além da passagem pela boulangerie, para apreciar a baguette, e o afamado croissant, segue-se de imediato para a secção dos queijos. Camembert, Brie, Reblochon, Comté, Chavignol, Roquefort e Emmental serão alguns entra as mais de cerca de 1200 variedades de queijo produzidos em França. Pena não existir um serviço take away com algumas das especialidades da cozinha gaulesa: coq au vin, confit de canard, boeuf bourguignon, quiche lorraine, ratatouille, escargots e crème brûlée. Antes do Au Revoir, um brinde com uma taça de champagne. De preferência de bolha fina, pois outras bolhas já poderão ter os participantes…
Subindo a Avenida 9 de julho, vira-se à esquerda na Norton de Mato, para alcançar a Vasco de Carvalho, onde, ao que dizem poderá ser a maternidade do irmão mais novo desta zona da Hiperlândia. Hossanas ao primogénito!
(Que diria hoje o autor do livro “Hospital S. João de Deus” sobre o que congemina para as suas “costas”?!)
Descendo a Rua Amadeu Mesquita e a Manuel Pinto de Sousa, virar à direita para o largo frontal à entrada dos Paços do Concelho, onde os participantes poderão, quiçá, agradecer aos autarcas que proporcionaram os motivos justificativos para esta bela e inolvidável jornada!
Votos de Bom Carnaval, na Casa do Carnaval!!!
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