Acompanho o Futebol Clube de Famalicão (FCF) há cerca de 70 anos. Era o tempo em que o jornal Estrela do Minho (só alguns anos depois passou a denominar-se Estrela da Manhã) chegava a casa de meus pais, na actual Rua Norton de Matos, junto ao agora Hospital, aos domingos de manhã e era o primeiro a abri-lo, indo ver logo a classificação do Futebol Clube de Famalicão e o próximo jogo. Nessa altura, o FCF disputava, se bem me lembro, a 3ª divisão, por séries, e deslocava-se, por exemplo, a Monção, Vizela, Esposende, Mirandela, Murça, Ponte de Lima (Limianos) e muitos outros concelhos a norte do Douro.
O Estádio Municipal era novo e a equipa era composta fundamentalmente, ainda que não só, por jogadores famalicenses, havendo então o que se chamava “amor à camisola”. Lembro-me de estar a ver alguns jogos na bancada poente do actual estádio e espraiar o olhar ao fim da tarde até ao Mosteiro de Antas. Era uma vista bonita.
Tinha, nesse tempo, simpatia também por um clube grande que me deu muitas alegrias e onde havia também amor à camisola (ainda que menos), tendo a característica de só recrutar jogadores do continente e ultramar (colónias). Já foi uma excepção, mais tarde, contratar um jogador do Brasil. Acompanhava-o, com o meu querido Pai, quando vinha a Guimarães, a Braga e, algumas vezes, ao Porto (Antas).
A minha “maluqueira” pelo futebol continuou até muito mais tarde, mas fui reparando que o desporto do futebol tinha mudado muito. O amor à camisola desapareceu, os jogadores eram de fora, o futebol tornou-se um negócio e um lugar mal frequentado. O dinheiro – muitas vezes sujo – tomou conta dele.
Que Famalicão tenha um estádio municipal para os tempos de hoje compreendo. Mas tenho o direito de saber, como famalicense, em que moldes.
A situação tem-se degradado muito. Os jogadores e os treinadores perderam a vergonha e abandonam os clubes em que jogam ou treinam a meio da época, sem se importarem com a sorte deles e não porque estivessem a ser mal pagos – longe disso –, mas porque o que interessa principalmente era o dinheiro e a glória. Ganhar mais dinheiro tudo justifica e melhor ainda se, acompanhado dele, viesse o prestígio.
Deixei de me interessar pelo futebol sem que tivesse debelado por inteiro essa doença. Assim, ainda hoje fico contente quando o Futebol Clube de Famalicão ou o Benfica ganham, mas pouco ou nada me atrapalha se perderem. Muitas vezes (quase sempre) nem sei quando jogam e com quem jogam. Tenho pelo futebol e pelos negócios que giram à volta dele cada vez menos respeito. Ultimamente deram-lhe para esgotar os jogadores obrigando-os a jogar três vezes por semana.
Tudo isto vem a propósito do “novo estádio” solenemente anunciado para breve com um investimento de cerca de 25 milhões de euros. Que Famalicão tenha um estádio municipal para os tempos de hoje compreendo. Mas tenho o direito de saber, como famalicense, em que moldes. Ao que parece o que se projecta não é apenas um melhor estádio. É algo mais complexo que tem o extenso nome de “Estado Municipal – Complexo Desportivo e Empresarial” que será pago com os lucros do urbanismo, do comércio e outros.
Diz-se que há muitos aspectos negativos neste empreendimento. Queremos conhecê-lo no todo (texto e imagens) para fazer um juízo. Para isso nada melhor que um lugar público onde se possa consultar todos os aspectos do que se projecta fazer, dando a conhecer tudo com clareza aos famalicenses.
Deseja-se, por outro lado, que os partidos políticos e os eleitos da Câmara Municipal e da Assembleia Municipal se manifestem a favor ou contra com inteira liberdade e quanto antes, pois está marcada já para muito breve a apreciação do projecto de concurso público na Câmara Municipal.
Nota: Pedimos há semanas à Câmara Municipal o auto de recepção provisória das obras do Centro Histórico (5 de janeiro de 2025). Ainda não foi enviado. Teremos de recorrer aos meios que a lei põe ao nosso alcance? Esperamos que não.
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