“Não é possível ser bom pela metade”
(Leon Tolstói)
A mobilidade no meio urbano tem um carácter complexo, pois deve só conciliar as exigências e expetativas dos utilizadores bem como contribuir para o ecossistema social, de forma a otimizar a oferta e a procura com o intuito de desenvolver padrões de elevada qualidade de vida dos cidadãos promovendo o seu crescimento sustentável.
Com o objetivo de garantir a sustentabilidade das políticas económicas, sociais e ambientais numa determinada região é necessário criar aquilo a que chamamos de sustentabilidade urbana. Este conceito inclui questões como a equidade entre as gerações (social e geográfica), a proteção do ambiente (minimização da utilização de recursos naturais não renováveis), a viabilidade e diversidade económica e o bem-estar individual e da comunidade como um todo.
Para que haja sustentabilidade urbana é necessário que os transportes públicos sejam acessíveis a toda a população de um concelho (que inclui as respetivas freguesias), haja flexibilidade horária, funcione eficientemente, ofereça possibilidade de escolha dos modos de transporte, com o objetivo de criar e desenvolver uma economia competitiva.
Outro grande objetivo é reduzir as emissões de carbono, através de fontes de energia renováveis, promovendo uma redução da utilização de fontes não renováveis.
O sistema urbano de transportes inclui uma panóplia de modos de transporte coletivos e individuais. De uma forma geral, o sistema de transportes públicos de passageiros está diretamente relacionado com a rede de autocarros numa perspetiva mais rural, e a de comboios e metro numa perspetiva mais urbana, mais especificamente nos grandes centros urbanos.
As redes de transportes públicos não são estanques. Têm de acompanhar a evolução estrutural de um centro urbano. Esta evolução inclui a criação de novas rotas e modificações/atualizações nas rotas mais antigas. A acessibilidade está intrinsecamente ligada ao facto de a rede de transportes conseguir transportar passageiros do local de embarque até ao local de desembarque num período de tempo razoável, sendo este um ponto essencial na prestação do serviço.
O nosso concelho de Vila Nova de Famalicão, estranhamente, não está suficientemente dotado de carreiras de autocarros relativos a transportes públicos.
Imaginemos esta situação: um cidadão que resida, por exemplo, em Riba de Ave, Delães, Oliveira S. Mateus, etc. e que, não tendo meio de transporte privado, pretenda ao sábado ou domingo deslocar-se à cidade de Famalicão por qualquer motivo, incluindo retomar viagem através dos transportes ferroviários, não tem possibilidade de se deslocar.
Pensemos, agora, num jovem a estudar no Porto, Lisboa ou Coimbra e que a casa pretenda vir ao fim de semana utilizando o transporte ferroviário. Caso viva numa das freguesias mencionadas supra, precisará do transporte rodoviário público para chegar ao seu destino final. Pois, mas tal não é possível no concelho de Famalicão por inexistência de transportes públicos ao fim de semana. Mesmo que resolva sair na estação ferroviária de Caniços, o problema mantém-se.
Façamos mais um exercício mental ao imaginar um casal de idosos que não tenha transporte privado próprio e que ao fim de semana queiram visitar a cidade, tal não lhes é possível como a qualquer outra pessoa que não tenha transporte privado próprio ou a ele acesso. E quando falo de visita à cidade poderemos estar a falar de situações de pessoas que pretendam ir visitar familiar ou amigo internado na unidade hospitalar de Famalicão.
Eu resido paredes meias com o concelho de Guimarães e o cenário, no que diz respeito aos transportes públicos, nesse concelho, é completamente diferente. De segunda-feira a domingo, o concelho de Guimarães está bem-dotado de transportes públicos rodoviários (por exemplo a Guimabus). Em Guimarães, o executivo camarário não teve a preocupação de gastar centenas de milhares de euros em embelezar uma central de camionagem, mas sim adquirir autocarros (no caso elétricos) e dotar aquele município de uma adequada rede de transportes públicos rodoviários.
Infelizmente, não encontro semelhança no município de Vila Nova de Famalicão, onde a falta de competência política relativa aos transportes públicos rodoviários é sobejamente notória. Os horários e o tamanho da frota são importantes para uma gestão eficiente dos recursos. De igual modo, a localização das paragens é um dos pontos cruciais para um sistema de transportes eficiente.
Em suma, uma rede de transportes públicos terá de permitir o acesso e o desenvolvimento das necessidades básicas da sociedade (seja este indivíduo ou empresa), seja acessível e eficaz na mobilidade dos passageiros (quer na quantidade de frota quer no cumprimento escrupuloso dos horários). Para que as deficiências supramencionadas sejam colmatadas é necessário que haja uma variedade de ações de planeamento, de gestão e de caráter operacional.
Estas atuações devem recorrer a um conjunto de fatores tais como: a acessibilidade, a frequência de atendimento, o tempo de viagem, a lotação dos transportes, a segurança, as características do transporte (seja ele comboio, autocarro ou outro meio), características das paragens, sistemas de informação, comportamento dos colaboradores e o estado das vias.
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