Como disse no artigo anterior, o edifício do Mercado Municipal de Famalicão nunca foi finalista num concurso internacional como estava a ser divulgado. Apenas recebeu um prémio do público, a Câmara Municipal mentiu.
Este concurso também tem um júri. Nesse caso sim, há um escrutínio. Infelizmente Famalicão não ganhou nada, lamentamos. Na categoria que o Mercado Municipal de Famalicão concorreu ganhou este edifício abaixo.
A nossa arquitetura está de boa saúde e recomenda-se (esperamos que a nova governação camarária lhe dê a atenção merecida).
No prémio principal ganhou um português.
Por categorias também ganhou um gabinete português.
Como podem verificar são um gabinete de Braga, um dos arquitetos (Bruno Leitão) é famalicense. Já que somos tão bairristas porque não publicitamos este projeto?
Para mais informação sobre o concurso consultem a plataforma LOOP Design Awards.
Na minha opinião, a arquitetura é mais que a imagem. Comungo a ideia do romano Marco Vitrúvio Polião, autor de “Da Arquitetura”, um tratado sobre a arquitetura e a atividade do arquiteto, escrito no século I a.C..
O Fimitas está associado à estabilidade e ao caracter construtivo da arquitetura, enquanto o Utilitas está relacionado com a comodidade na utilização, e o Venustas, traduz a beleza e o caracter estético.
Embora estas plataformas privilegiem mais a imagem (tem que se ter um bom fotógrafo), não a arquitetura como um todo. A arquitetura não é escultura.
O Mercado Municipal tem o problema central, que é o vidro (que geralmente provoca o efeito estufa), podia ser minorado, mas teria que ser um vidro muito especial e caro. Não vou culpar o arquiteto porque não tive acesso ao caderno de encargos, assim não sei se o mencionou ou não.
Falando agora na sua função, há várias críticas negativas descritas por alguns utilizadores do mercado, como não tenho informação sistematizada não me vou pronunciar.
Vou falar sobre a esplanada que devia ser o espaço público de excelência (para todos uma vez que foi construído com o nosso dinheiro). No entanto, parece uma zona de alimentação tipo centro comercial, para alguns restaurantes e bares tirarem proveito.
Além do espaço ser pouco ainda têm o desplante de colocar este cartaz. Será que este espaço é só para “agro-betos”? Também é proibido entrar cães (o que não acontece numa esplanada pública). Fui a casa levar o cão e pelo sim pelo penteei bem o cabelo e mudei de roupa (não vá o diabo tecê-las).
A democracia no seu melhor.
A confirmar temos a publicação de um dos diretores da campanha eleitoral de Mário Passos (Hugo Mesquita, espero que tenha sido por engano) já não tenho dúvidas.
Podem ler o resto na página deste senhor. Está explicado o porquê de só poderem entrar pessoas de “bem”. Só é pena não poderem entrarem cães fofinhos (se calhar podem – não podem entrar rafeiros).
A segunda obra (que dada à vasta informação que temos sobre as obras na cidade, eu não consegui perceber qual é sua função, mas como sou muito distraído deve ser problema meu).
Este edifício tem como inspiração consciente ou inconsciente (o que não é errado em arquitetura) o icónico Pavilhão de Barcelona do arquiteto alemão Mies van der Rohe, construído em 1929 para a apresentação alemã na Feira Mundial de Barcelona.
O que choca na obra de Famalicão é a sua execução que destrói todo o conceito minimalista do projeto. Este tipo de arquitetura implica um rigor de desenho e execução, que basta a diferença de um centímetro para destruir todo o projeto. O que aconteceu neste projeto?
Foi a equipa de projeto que falhou os cálculos, não se apercebeu que aquela cobertura fina ia ceder? Ou foi a empresa de construção que não utilizou as técnicas certas e os materiais (não é fácil construir aquela laje)?
Fotografia ARMINDO MAGALHÃESAlguém falhou. Já não temos um plano horizontal, temos uma cobertura ondulada e mais curva nas pontas porque cede. Solução: deitem a cobertura abaixo e façam uma nova se conseguirem. (No entorno da obra comenta-se que já caiu antes e está ser reconstruído, mas desconheço informação oficial sobre o assunto).
Nesta foto abaixo vê-se bem toda a ondulação. Quem estiver interessado pode ver na internet mais imagens do pavilhão de Mies Van Der Rohe. Reparem na simplicidade e rigor da obra do Pavilhão de Barcelona.
Conclusão?
O mercado inicial é uma obra típica do Estado Novo, o designado “Português Suave”. É claro que Salazar aprovaria a ilustração recente da imagem “as lavradeiras”. Está dentro do mesmo princípio ideológico.
Voltando à publicação do Hugo Mesquita, o Estado Novo proibia toda a construção dita moderna. Assim, o Mercado Municipal era capaz de passar, mas o edifício junto à Fundação, não. Isso porque o Dr. Salazar tinha aversão a tudo que era moderno. Era um pacóvio. Mas tinha uma vantagem: as obras que fazia eram bem pensadas e executadas em termos construtivos (talvez os empreiteiros não tivessem tanto poder?).
A comparação entre Salazar, Hitler e mesmo Estaline, na arquitetura tiveram uma aversão a tudo que era designado vanguarda (diferente e crítico).
Mies van der Rohe, autor do Pavilhão da Barcelona e o último dos diretores de uma das mais conhecidas escolas de design e arquitetura Bauhaus, teve que fugir para os Estados Unidos da América e a escola fechou.
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