Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, em 19 de Abril de 2021 a União de Freguesias de Famalicão e Calendário registava 388 casas vagas. Estes dados podem ser consultados no artigo do Jornal Público de 17 de março deste ano.
Este número equivale a aproximadamente 22 torres de 6 andares com 3 apartamentos por piso (incluindo o r/c).
Num passeio atento pela cidade percebemos que há muitos edifícios em mau estado ou, mesmo, em ruína. Com o tempo habituamo-nos a essa imagem e passamos a considerá-la normal. Infelizmente, essa decadência passou a fazer parte do nosso cenário urbano.
Para além disso, é de uma absoluta irracionalidade continuar a construir novo, e a ocupar zonas livre de construção, quando a cidade oferece, no seu espaço mais nobre, estas oportunidades.
Nos últimos tempos a sigla UE (Unidade de Execução) passou a fazer parte do léxico do Município. A UE do Tribunal, o UE dos Queimados (Barrimau/Calendário) e agora a UE Área Norte da Cidade (entrada traseira do Hospital) são as novas coqueluches da sede do concelho.
Na última UE, a Área Norte da Cidade, temos uma proposta para mais um supermercado e uma (falada em surdina) cadeia de fast food. Isso, paredes-meias com o hospital. Assim, abre-se mais uma frente à especulação imobiliária e aumenta-se a pressão urbana numa zona que fazia todo o sentido manter tranquila, para bem da atividade do hospital e dos seus utentes.
Além disso, o volume de trânsito automóvel (nas traseiras do hospital) ira aumentar substancialmente, pois passará a ser possível entrar na cidade pelo novo arruamento. Parece-me que este cenário compromete o objetivo principal desta obra: melhorar a acessibilidade a este equipamento.
No dia 20 de março decorreu uma apresentação do projeto desta UE na zona envolvente ao Hospital de Famalicão. Propositadamente digo apresentação e não discussão. Sinto-me à vontade para fazer esta classificação pois estive presente, intervim e ouvi com atenção a apresentação e as outras intervenções. Na verdade, nada de substancial esteve em debate. A coisa está decidida e, com sorte, os interessados poderão negociar a largura do passeio.
Vivemos num tempo de paradoxos. Quando o concelho perde população os espaços urbanos ocupam cada vez mais espaço. Quando se apregoou-a à participação dos cidadãos, apelando ao seu sentido cívico, na discussão do futuro da sua terra, verificamos que afinal o que nos toca são as migalhas do banquete de quem manda.
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