A Europa que dizemos existir, imponente, soberana, totalmente disruptiva, no vértice do desenvolvimento social, industrial e educacional, hoje apresenta-se confusa, sem direção e sem ser tida ou achada no âmbito de decisões globais. Durante muitos anos a Europa decidiu tomar decisões políticas centrais, sem risco, com foco em mandatos de quatros anos e em agendas pessoais e, com isso, deixou esmorecer ou até perder a sua identidade. A Europa tornou-se assim pesada, sinuosa, burocrática e aborrecida.
Hoje, perante um cenário geopolítico totalmente instável, com taxas de juro elevadas, custos energéticos e com constantes movimentações militares, a Europa vê as suas maiores potências, França e Alemanha, totalmente estagnadas e sem plano B.
No que diz respeito à energia estamos totalmente dependentes de terceiros, a nossa defesa nacional está em muito acoplada ao investimento da NATO e em termos produtivos há muito que estamos dependente dos parceiros, essencialmente asiáticos, porque durante décadas o foco foi o lucro instantâneo, sem nunca pensar no impacto que estas decisões teriam no futuro.
A Europa, especialmente França e Alemanha, perderam já a sua vantagem no jogo industrial sendo que, o nosso mercado mais valioso, o automóvel, encontra-se totalmente saturado e em comparação com a alta produtividade asiática, obsoleto. Neste artigo de opinião não abordaremos a vantagem energética de outrora, pois essa também ficou lá atrás no tempo perdida.
Com o evoluir dos anos, tornamo-nos especialistas em legislar, em complicar. Somos especialistas em achar que pensamos e regulamos melhor que os outros e do alto do nosso pedestal agimos como uma barreira ou um ponto de validação do desenvolvimento…..dos outros.
Isto, claro está, não pode durar muito mais e hoje acabamos por sentir, em crescendo, que somos um alvo a abater e um bypass constante para tomada de decisões de ordem mundial.
Nunca pensei assistir, ainda mais ao viver na Alemanha, num cenário tal em que empresas centenárias como a VW, Bosch, Thyssenkrupp, Deutsche Bahn, Michelin, se vêm obrigadas a fechar plantas na Europa porque, simplesmente, não somos bons, eficientes ou produtivos o suficiente.
Aqui, a meu ver, entra Portugal e os países como Portugal, Espanha, Itália, Eslováquia. Países que aprenderam a sobreviver e a crescer em situações económicas frágeis e totalmente dependentes das decisões tomadas em Bruxelas, num escritório de canto entre os três a quatro latte machiatos diários.
Está na hora de serem tomadas decisões e de unificar a Europa, não em prol das potências, mas em prol de todos, e nesta linha de pensamento creio que o futuro da Europa deva ser repensado e países como os supramencionados, que ainda retém conhecimento e poder produtivo, com as pessoas certas ao leme, podem ser fulcrais para o sucesso.
O foco, com urgência máxima, deverá ser para a resolução de temas que, atualmente, são difíceis de abordar, tais como a existência de uma sociedade europeia totalmente díspar e desunificada, como a falta de promoção de competitividade das marcas europeias, a descredibilizada marca “Made in EU”, sector de tecnologia, produção interna e o desnivelamento salarial por toda a Europa.
Para que o que acima mencionei seja possível é preciso promover um ecossistema onde competidores europeus do mesmo sector criem parcerias que promovam a inovação, crescimento e diferenciação.
Não devemos, a nenhum custo, deixar cair a marca “Made in EU”, mas para isso será preciso criar resiliência económica, certamente reinvestir em infraestruturas produtivas. Encontramo-nos numa encruzilhada onde a tentativa de melhorar a cadeia de abastecimento é gigante e superior à tentativa de produzir entre portas o que, de alguma forma, acaba por promover e desenvolver a arte de saber fazer, “know-how”, noutros continentes e tornando-nos dependentes.
O sector tecnologia deve ser um dos pilares da Europa nos próximos anos. A necessidade de investir como um todo em tecnologias como AI, ML, “Blockchain” é iminente e são atualmente mercados/sectores nos quais a Europa, neste momento, não consegue competir porque não é devidamente promovido.
Nunca esquecer que temos a obrigação de promover uma maior igualdade salarial entre os estados/países membros do velho continente de forma a reter, recrutar e motivar o nosso talento. Mas mais importante que tudo o resto, o foco deve ser na boa liderança. Uma liderança clara, transparente, progressiva e a pensar no futuro. A Europa tem de parar de legislar cabos USB, como fez durante os passados quatro anos, enquanto o resto do mundo reunia esforços para sair de uma pandemia, melhorar a economia, promover o desenvolvimento e reinvestir nos mercados emergentes.
As lutas diárias entre o que fazer, como fazer e onde fazer, já são demasiadas e esgotantes, e quando aliadas a uma Europa: burocrática, debilitada e sem visão, essas mesmas lutas passar a ser também frustrantes.
Como pode esta Europa fragilizada voltar a ser um “cluster” industrial e de inovação?
Estará a Europa, que um dia foi a principal entidade mundial decisora, a chegar ao seu limite?
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