Estando o Parlamento dissolvido e as eleições marcadas para 10 de Março de 2024, foi dado o tiro de partida para a campanha eleitoral que promete ficar na história.
Não passa um dia em que representantes dos mais variados partidos políticos aparecem na televisão a defender as suas cores.
No passado dia 22 de Dezembro, a muito custo, assisti na SIC (Expresso da Meia Noite) a uma novela mexicana, traduzida para português (e mal), em que além dos entrevistadores estavam presentes os representantes do Partido Socialista, Aliança Democrática e do Chega.
Primeiramente fiquei surpreendido por saber que o André Ventura deu autorização para que os seus deputados façam parte deste tipo de painéis. Digo isto porque sei que estavam expressamente proibidos de dar entrevistas ou a fazer parte em debates televisivos.
O escolhido para este “debate” foi o deputado eleito pelo círculo de Braga, Filipe Melo. Sim o deputado ao qual, segundo a Visão, foi penhorado o salário de deputado por dívidas a um colégio católico de Braga, o mesmo deputado que, segundo o Expresso, consta três vezes na lista pública de execuções, etc.
Em relação ao debate, a intervenção do deputado às questões apresentadas resume-se a uma frase: “eu sei que você sabe, por isso não vale a pena dizer!”
São estes os quadros do Chega que se preparam para ir a votos!
Posto isto, e como conhecedor de muito o que se passou e continua a passar neste partido coloco a questão: São um partido credível para poderem almejar a fazer parte de algum governo quando todos os quadros que poderiam fazer alguma relevância já abandonaram por sua iniciativa o partido ou foram “empurrados” para sair?
Em 2019 o Partido Chega surgiu como uma voz ativa na oposição, destacando-se pela sua habilidade inegável de identificar os problemas e lacunas na governação PS. Com um discurso afiado e uma análise perspicaz dos problemas que assolam o país, o partido rapidamente conquistou a atenção e o apoio de uma parcela significativa da população descontente.
No entanto, apesar de sua aptidão para apontar falhas e deficiências, o Partido Chega tem falhado de uma forma gritante quando se trata de oferecer um programa eleitoral concreto e viável aos Portugueses. Para que saibam, o último programa de governo tinha 10 (!) páginas (houve programas eleitorais para Juntas de Freguesia bem mais extensos).
A sua retórica habilidosa é frequentemente acompanhada por uma falta alarmante de soluções tangíveis e planos detalhados para abordar os problemas que tão avidamente criticam.
O líder do partido e os seus deputados tornaram-se mestres na arte da denúncia, destacando questões desde a corrupção sistémica até a estagnação económica, ganhando destaque nos debates e na comunicação social. No entanto, quando confrontados sobre propostas claras para a resolução desses problemas, a sua resposta geralmente se dissolve em generalidades vagas ou apelos à mudança sem estratégias definidas.
A ausência de um programa eleitoral com conteúdo e credível tem levantado dúvidas sobre a capacidade do Partido Chega poder fazer parte de algum governo futuro. Enquanto eles se capitalizam na insatisfação pública, a sua incapacidade de transformar críticas em políticas concretas tem gerado ceticismo e desconfiança entre aqueles que anseiam por uma liderança capaz de não apenas identificar os problemas, mas também de oferecer soluções realizáveis e eficazes.
Assim, embora o partido se tenha estabelecido como uma força a ser reconhecida na oposição, a falta de um programa eleitoral credível e a ausência de quadros com capacidade e conhecimento político levanta inúmeras questões sobre a capacidade de efetivamente ser um partido de governo e ter a capacidade de implementar mudanças significativas, deixando os eleitores num dilema entre críticas contundentes e a incerteza sobre um futuro prático e realizável.
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