Quando vi a notícia do Município a promover a arquitetura no concelho, nomeadamente a referência ao Mercado Municipal e do “famoso prémio”, dei um pulo de alegria: finalmente o Município vai dar importância à arquitectura.
Fui consultar o dito prémio e constatei, com tristeza, que a notícia não é verdadeira. Trata-se, na verdade, de uma plataforma, em que qualquer projeto pode ser inscrito mediante um pagamento. Ou seja, a notícia é falsa: não há seleção nem nomeação (a notícia refere finalista, o que implica haver seleção).
Podem consultar a plataforma https://www.loopdesignawards.com e irão verificar que só haverá uma escolha no final pelo júri e público (este sim, vai ordenar e premiar assim como a votação do público).
Quero aqui referir que só conheço a obra pelas imagens do concurso, portanto sobre o mérito ou demérito do projeto, não me pronuncio. Dado que são fotografias e fotografia, por si, é uma construção sobre algo não a realidade.
A arquitetura é sempre um conjunto de fatores, nomeadamente: integração, funcionalidade, conforto térmico e acústico, sustentabilidade, economia, etc. Só se pode ter uma opinião após uma análise profunda, mas que passa sempre por visitar o local e senti-lo.
Quero também aqui referir que conheço o arquiteto Rui Pedro, pelo qual tenho estima, consideração e a opinião que é um bom arquiteto.
Depois desta “narrativa” do Município sobre o Mercado Municipal, fui visitar uma das mais importantes obras do concelho e do país. Trata-se de uma obra do arquitecto Siza Vieira, o Centro de Estudos Camilianos, em Seide. Siza Vieira, este sim premiado, é um dos arquitetos vivos mais importantes do mundo. Listo no próximo parágrafo alguns dos seus prémios.
Os prémios que lhe foram atribuídos em 1988, pelas fundações Alvar Aalto e Mies van der Rohe, coroados em 1992 pelo Prémio Pritzker da Fundação Hyatt, de Chicago, – considerado o equivalente a um Nobel –, o Prémio da Bienal de Veneza, a Medalha Internacional das Artes 2002, atribuída pelo Governo Regional da Comunidade de Madrid, ao projeto de revitalização do centro da cidade de Madrid.
Ao desembarcar no aeroporto Sá Carneiro em agosto deste ano, quando fazia o percurso entre o avião e a saída, deparei com esta imagem a fazer menção a este projeto como algo importante para visitar em Santo Tirso.
Siza Vieira é um dos arquitetos mais conhecidos e premiados do mundo. Repito arquiteto mais importante do mundo.
O Centro de Estudos Camilianos em Seide, devia ter a mesma reverência, pois esta obra coloca, de facto, Famalicão no centro do mundo, pois muita gente consulta e procura Famalicão por esta obra.
Qual é o meu espanto ao visitar, no dia 3 de setembro de 2021, o que devia um marco de do concelho, está em completa degradação como podem verificar pelas fotos ou se quiserem ver pelos próprios olhos é só visitarem o local.
Podíamos dizer o Município não tem dinheiro, mas dada a quantidade de obras em execução, algumas com pouco sentido – como, por exemplo, junto à Fundação Cupertino (que destrói uma memória e fica pior) constatamos que não é falta de dinheiro. É falta de vontade, ignorância ou preconceito (já houve uma criatura que fez o mesmo com Saramago).
Siza Vieira é um dos arquitetos mais conhecidos e premiados do mundo. Repito arquiteto mais importante do mundo.
Do lado oposto, para piorar a situação, a Casa de Camilo com a construção da “Casa do Caseiro” e sua envolvente – tenho vergonha desta ampliação como famalicense – mas fico com a consciência tranquila, quando alguém que vá a Seide e me perguntar “o que é este disparate?” posso dizer que, no momento certo, chamei atenção.
Quando se reconstrói (o que em arquitetura manda as boas práticas, quando não se tem muitos dados não o fazer) não de qualquer forma, faz-se com respeito escrupuloso pelo imagem e memória do inicial, não só em termos de imagem, mas também no sistema construtivo, nos materiais utilizados e técnicas á época. Qualquer arquiteto minimamente informado sabe isso.
O que se está aqui a fazer é uma caricatura, um “pastiche”. A minha indignação é que vocês estão a estragar o nosso património. Aqui aplica-se bem a frase “a ignorância é atrevida”.
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