Quero abrir os olhos, mas não consigo. Na verdade, não sei quando fui para a cama nem lembro de ter ido dormir. Não percebo a presença da Maria ao meu lado. Consegui abrir os olhos, mas de repente vejo que este não é o meu quarto.
Sinto que quero gritar. Onde é que eu estou, que lugar é este? Será que estou num hospital? Quero levantar as pernas, mas estão muito pesadas. De repente ouço uma voz carinhosa: “Já acordou?”
A pessoa que está comigo é carinhosa, mas continuo assustada. Quem é esta mulher? O que faz no meu quarto? Não tenho a menor ideia de como vim aqui parar.
“Hoje está um lindo dia! Vamos tomar o pequeno-almoço, Dona Mimi?”
Sinto-me tão confusa que não consigo dizer nenhuma frase. Tenho a certeza fui drogada. Não me lembro de nada. E porque que me chama de Mimi?
Junto todas as minhas forças para comunicar e pergunto: “Quem é você? Onde é que eu estou? Há quanto tempo estou aqui? Eu preciso falar com os meus pais. Eles devem estar preocupados comigo, não avisei que me ia embora. Por favor, tire-me daqui”.
Ela, com a sua voz carinhosa, pede para eu ficar calma.
Não consigo movimentar o meu corpo, que parece ter deixado de me obedecer. Sinto a minha cabeça a explodir. Realmente, devo estar muito doente.
“Dona Mimi, trago aqui o seu pequeno-almoço. Tem de comer alguma coisa porque ontem mal jantou”.
Ontem… Não me lembro de ontem. No máximo, lembro-me quando ia passear com os meus pais ou quando a minha mãe costurava os meus vestidos.
Porque não me lembro? Os meus pais, os meus irmãos… o que aconteceu com eles durante este tempo?
De repente, ela segura na minha mão e mostra-me um vídeo no qual apareço a falar: “Hoje estou aqui ao lado da minha neta Maria. Às vezes, eu acordo muito confusa, não me lembro de nada nem de ninguém. Mas isso é porque há alguns anos sofro de uma doença chamada Alzheimer. Ela faz-me esquecer coisas importantes como, por exemplo, as pessoas que amo.”
Enquanto estou a ver o vídeo, a Maria continua ao meu lado com o mesmo olhar carinhoso com que me olhou desde o momento que acordei. Mas nem tudo é mau nesta doença. Ela trouxe-me uma neta, um anjo para a minha vida e seu nome é Maria. Ela cuida de mim como se fosse minha mãe.
Segurou nas minhas mãos e olhou-me com muito carinho e disse: “Está mais calma, Mimi?”.
“Estou sim Maria, obrigada mais uma vez”.
“E então hoje o que vamos fazer?”, perguntou Maria.
Eu penso numa resposta… O que teria feito há 20 anos? De repente uma lembrança. “Podemos ir ver o mar?”, pergunto.
Pela gargalhada da Maria acho que já devia ter feito o mesmo pedido muitas vezes.
“Podemos sim, Mimi. O mar está à nossa espera”.
Comentários