Recentemente foi a discussão pública o projeto de regulamento do arvoredo urbano. É público que o regulamento municipal não cumpriu o prazo estipulado para a sua aprovação e publicação, mas mais preocupante são, provavelmente, as declarações do Vereador do Ambiente, Hélder Pereira, que a um órgão de comunicação social declarou: “O trabalho do município fala por si, creio que o futuro das novas gerações do ponto de vista ambiental está salvaguardado”.
Ora, não é de estranhar, especialmente neste executivo, que não se reconheçam as falhas ou os desafios climáticos atuais, pois isso seria reconhecer que os mesmos existem e as políticas locais teriam de ir muito mais além que a leitura fantasiosa desta coligação, onde a preocupação ambiental prende-se com saneamento e pouco mais. Sendo que mesmo no saneamento, a partir do momento que temos um rio Pelhe a servir de esgoto público, está tudo dito.
A falta de visão ambiental é tão grave que se licenciam pavilhões industriais em pleno parque da cidade, destrói-se qualquer possibilidade de aumentar o parque de Sinçães, a norte, tendo-se permitido que se construa mais um espaço comercial, e ainda chegamos ao cúmulo deste município considerar que atendendo à proximidade com o Parque da Devesa – que lembro está delimitado por edifícios, que impedem a continuação de corredores verdes – a nova construção do Auchan não necessita de espaços verdes públicos.
Ou seja, é o próprio executivo que diz: deixe lá isso que já temos muito verde por aqui! Realmente “o trabalho do município fala por si”! Mas não ficamos por aqui, aliás fosse eu enunciar as decisões dos últimos anos e teria dias e dias para me dedicar à escrita.
Neste momento estão em consulta pública várias Unidades de Execução, a saber: Pelhe, Joane, Oliveira de Santa Maria. O que todas têm em comum? Eliminação de zonas verdes.
Mas não nos preocupemos, mesmo contrariando o que a própria exposição e fundamentação do relatório das referidas Unidades de Execução diz: “concretizar um modelo de desenvolvimento territorial sustentável, assente nos seguintes vetores estratégicos: Proteção, valorização e exploração sustentável dos recursos naturais” e apesar de se assumir que a área verde a ceder fica abaixo do exigido pelo PDM, nada que uma compensação em espécie – seja lá o que isso signifique – não resolva.
Por isso, queridas gerações futuras (e atuais) não tenham dúvidas da herança que vos estão a deixar: um património ambiental cada vez mais diminuto, rios poluídos, zonas cinzentas sem vida, qualidade do ar péssima, fenómenos climatéricos cada vez mais extremos, e saibam, também, que o trabalho deste município fala por si.
Aliás, nada melhor para relaxar ao fim de semana que pegar no carro, fazer longas e cansativas viagens para usufruir de caminhadas ao ar livre (limpo) por passadiços e trilhos ladeados de uma biodiversidade múltipla e rica, ou ter o prazer de nos refrescarmos nas águas limpas de um rio, de contemplar vistas de tirar o fôlego. E enquanto o Gerês ou os passadiços do Paiva ainda nos oferecem isso, é de lamentar que o executivo tenha orgulho em tornar o concelho num conjunto de estruturas cinzentas.
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