Daqui a 48 horas os portugueses serão chamados às urnas para decidirem o seu futuro.
Dar-se-á início à XV Legislatura da Assembleia da Républica.
Todos conhecem as razões de aqui termos chegado.
O golpe mágico do “mago” Costa, perpetrado em 2015, em que tirou da cartola um coelho, a denominada gerigonça, termo da autoria de Vasco Pulido Valente e reciclado por Paulo Portas, que apeou outro Coelho (Passos) da governação, faliu.
Face a esta falência, Portugal vai a votos.
É uma eleição que me parece estar a suscitar a atenção dos portugueses. Lembra a batalha presidencial do já distante ano de 86. Aí, a escolha só tinha duas opções, Soares ou Freitas do Amaral. Agora, em Lisboa, por exemplo, há vinte concorrentes (em Braga são 17). Há, portanto, uma panóplia de opções.
A campanha termina hoje. Inicia-se o ridículo dia de reflexão!
Os debates, nos modelos possíveis face aos compromissos das televisões, foram curtos, mas proporcionaram alguns momentos esclarecedores. Existiram momentos de elevação (Rio-Cotrim), fofinhos e ternurentos (Costa- Inês Sousa Real), agressivos (Rodrigues dos Santos-Ventura). E um momento perfeitamente inusitado e degradante. Costa, já sem tempo, foi severamente atacado por Ventura. Este, numa opção tática, no soar do gongo, atirou-se a Costa recordando o “animal feroz”, José Sócrates, lembrando o combate de pugilismo de Tyson- Holyfield, mas desta vez sem mordidela de orelha!
Há falta de tempo para os debates, mas dilatado para comentários, vários temas pertinentes não foram tratados com a profundidade que mereceriam.
Ai, destaca-se a Educação. Foi, se quisermos, a grande derrotada. Foi olimpicamente ignorada. Quando todos apregoam ser um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento do país, a base para a formação das próximas gerações, nada foi dito sobre o que advogam para esta área. Numa época em que o sector foi um dos mais afetados pela pandemia, seria importante que merecesse, mesmo que de forma breve, alguns apontamentos relativos ao futuro.
O chumbo do orçamento precipitou a dissolução da Assembleia da República. Ocorreu no limite do prazo, 5 de dezembro. Na altura, já andava tudo com a cabeça nas eleições e na escolha de datas para o efeito. Ninguém se lembrou de precaver uma nova vaga da pandemia. A lei eleitoral ficou intocável. As medidas sensatas que foram aprovadas e aplicadas nas presidenciais, tornaram-se agora impossíveis, por ineficácia legislativa. Para lá das eventuais repercussões na saúde pública, decorrente da hipotética ida às urnas de cerca de 500 mil confinados, veremos o efeito da pandemia na abstenção. Nas presidenciais de 2021 foi a grande vencedora: 60,8%! Os valores, em legislativas, situam-se sobre uma linha ascendente: 41,9% em 2011; 44,1% em 2015; 51,4% em 2019. Aguardemos os valores deste 30 de janeiro e os efeitos que poderá ter na distribuição de mandatos.
Que dizer das sondagens? A interpretação, como é usual, varia consoante os protagonistas e os números. Mas duas situações mantêm-se inalteradas. Há dois campeonatos: o que vai decidir o vencedor e que normalmente ditava quem seria chefe de governo e a luta renhida pelo último lugar do pódio.
Ganhe PS ou PSD há uma grande probabilidade de ser encurtada a margem mais curta até agora verificada em eleições: os 2,42% do embate de 2002 entre Durão Barroso e Ferro Rodrigues.
Os candidatos ao 3º lugar têm oscilado de forma notória nos últimos quinzes dias. A possibilidade de obtenção de marcas próximas dos 6% por quatro partidos (IL, BE, CDU e Chega) contribuirão para uma maior confusão no que toca às diferentes possibilidades de ser obtida uma maioria, quer à esquerda quer à direita.
Como referiu Tino de Rans, em 31 de janeiro poderemos “ter um grande 31”!
Será a governabilidade do país que estará em causa. Costa já admite quase tudo para se manter no cargo. Creio que ganhando, reabilitará a fórmula anterior, reforçada em caso de necessidade pelo partido amigo da nação (PAN). Afinal, a bem de Portugal, mostraram-se disponíveis para acordos com os maiores partidos. Rio foi claro e sempre disse que daria suporte a uma vitória socialista, tendo como pano de fundo a estabilidade nacional. Mas espera, como é óbvio, ser o vencedor. Aí terá o problema da votação do Chega e do eventual desaparecimento do parceiro natural, o CDS. Será a IL, suficiente?
Gostaria que quem ganhasse, governasse: com coligação, aliança ou acordos pontuais, o importante seria a possibilidade de se vislumbrar alguma estabilidade para o país. Os tempos que se avizinham serão, por certo, tempos difíceis e conturbados. O aumento generalizado dos preços, nomeadamente da energia, dos combustíveis e dos bens alimentares não auguram margem de folga para muitas famílias. E se a seca se agravar? Adiante…
Por último, e voltando ao assunto, urge que na próxima legislatura alguém se debruçasse sobre o sistema eleitoral. Para quando um círculo nacional? Todos os eleitores gostariam que o seu voto contasse e tivesse o mesmo peso, fosse em Lisboa, Bragança ou Portalegre.
Há inúmeros votos que são desperdiçados: ou o círculo eleitoral é pequeno e só os grandes partidos elegem deputados ou a representatividade de um partido nesse distrito é diminuta e todos os votos expressos não servem para nada. Com um círculo nacional e contando o total nacional de votos obtidos, as probabilidades de obterem mandatos seria claramente superior.
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