Nas eleições do último domingo o PS inverteu o resultado das últimas legislativas, garantindo alguma tranquilidade a Pedro Nuno Santos mas sem melindrar demasiado Luís Montenegro. Os dois maiores partidos continuam em situação de empate técnico, mas fica mais difícil antever um cenário de eleições legislativas antecipadas. O facto de o bom resultado do PS ser acompanhado pelo esmagamento dos partidos mais à esquerda torna difícil equacionar uma nova geringonça, pelo que a tentação do PS fazer cair o governo diminui drasticamente.
No nosso concelho a AD foi a vencedora, tendo registado um pequeno crescimento (apenas 0,41p.p.) face aos resultados agregados de PSD e CDS em 2019. O PS cresceu uns ligeiros 0,6p.p., ou seja ficou praticamente na mesma. Não deixa de ser estranho que a AD não tenha tido um crescimento mais significativo, com Paulo Cunha a ser número 2 da AD nestas eleições e supostamente a ter um elevado capital político no concelho.
A apertada batalha pelo 1º lugar foi muito semelhante à luta pelo 3º, visto que Chega e IL ficaram separados por pouco mais de 30 mil votos a nível nacional e apenas 158 votos em Famalicão. Ficando empatados a 2 eurodeputados cada, o resultado do Chega foi uma desilusão face às legislativas, perdendo cerca de metade da sua representatividade, mostrando que quando André Ventura não é candidato os seus eleitores não vão votar. Assim, se esta eleição servir de teste à dança com o PS que o Chega tem efetuado nos últimos tempos, talvez seja mais prudente passar a ter cuidado com os pares com quem aceita dançar.
Para a IL este foi o melhor resultado de sempre, quer em percentagem como em número de votos, o que é impressionante ter sido alcançado na eleição que apresenta cronicamente uma participação mais baixa. Ver em Famalicão a ultrapassagem ao Chega a ser consumada, ter mais de 8% em 12 freguesias e a 2ª eleição consecutiva com mais de 4 mil votos são sinais de consolidação evidente, o que abre boas perspetivas para as próximas batalhas.
Os partidos à esquerda do PS, que são perfeitamente residuais em Famalicão, vão assistindo à sua contínua degradação após fim da geringonça em 2021. Enfrentando Marta Temido que entra bem no seu eleitorado, BE e CDU foram reduzidos ao osso e só conseguirem eleger os seus eurodeputados à tangente. Por exemplo a CDU conseguiu eleger João Oliveira por apenas 9 mil votos, sendo que o Livre ficou a 10 mil votos de eleger.
Ao nível local tivemos a oportunidade de ver a famalicense Sandra Pimenta acompanhar a sua líder partidária na pesada derrota do PAN, tendo sido penoso ver que Inês Sousa Real consegue responsabilizar a extrema-direita e a guerra na Europa pela suposta passagem para segundo plano da agenda climática. Seria interessante que olhasse para si própria, para o fraco candidato escolhido e para a incapacidade de se aliar ao Livre, formando uma coligação que garantiria mais um eurodeputado à família europeia de ambos.
Falar das eleições europeias é lembrar-me de 2019, da primeira vez em que simultaneamente votei em Famalicão e na Iniciativa Liberal, estando para sempre grato ao Ricardo Arroja (recentemente promovido a diretor da AICEP) por me ter levado a conhecer o primeiro partido assumidamente liberal em Portugal. Ao ouvir as palavras de Cotrim Figueiredo no fim da noite eleitoral passaram-me os últimos 5 anos pela frente, sendo impressionante que em tão curto espaço de tempo estejamos já em todos os parlamentos, nacional, regionais e europeu.
Contudo, para mim ainda nos falta um parlamento, a Assembleia Municipal de Famalicão ainda não foi alcançada, em 2021 apenas 10 votos faltaram, mas certamente em 2025 serão alcançados. Aliás, será para mim uma batalha pessoal garantir que os famalicenses elejam finalmente alguém com real vontade de escrutinar a coligação Gasta Mais Famalicão.
Olhando para as autárquicas 2025, estou curioso para perceber o comportamento dos incumbentes, visto que Chega e IL já mostraram ser capazes de fazer mossa no seu eleitorado e arrisco-me a dizer que a maioria de vereadores será perdida pela AD local. Será que teremos 1 ou mesmo 2 novos partidos a eleger vereadores?
As dúvidas são mais que as certezas e a extrapolação de europeias para autárquicas é um exercício muito propício ao erro, mas será que perante este cenário os militantes do PSD local se sentirão confortáveis em dar tanto peso ao partido que acoplaram e a última vez que foi a eleições sozinho teve 1 283 votos (1,64%)? E ainda mais importante, será que vão insistir em avançar com quem só os faz marcar passo?
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