A líder demissionária do núcleo do PSD de Ribeirão, Paula Cristina Santos, professora de profissão, fala da vila com orgulho. Apresenta-se como “nascida, criada e vivida na vila” e como “filha de uma típica família ribeirense”.
A agora ex-presidente do Núcleo do PSD em Ribeirão é também membro do executivo na Junta de Freguesia. Nos dois mandatos anteriores, foi membro da Assembleia de Freguesia.
Além disso, em 2019, Cristina Santos chegou a ser candidata do PSD a deputada à Assembleia da República pelo círculo de Braga, embora em 17º lugar, uma posição não elegível.
A militância no PSD faz parte da sua vida. Os pais sempre apoiaram o PSD e, desde muito cedo, identificou-se com “os princípios e valores da social-democracia”.
Esse é um dos motivos que faz com que seja “difícil” falar sobre a sua demissão da presidência do Núcleo, motivada pela escolha do vereador Leonel Rocha como candidato do PSD à presidência da Junta sem que os militantes ribeirenses e a própria presidente do núcleo tivessem sido ouvidos.
Questionada sobre se tenciona participar das eleições para a presidência do núcleo, que serão realizadas no dia 6 de março, Cristina Santos deixa claro que continua a acreditar no partido e a ser militante, mas que, neste momento, não tenciona estar envolvida com o núcleo do PSD na vila de Ribeirão.
Sente “orgulho do trabalho desenvolvido à frente do núcleo” desde que foi eleita a primeira vez em 2016. Entre as razões, destaca o crescimento daquele que é um dos maiores núcleos do PSD no país. “Aumentamos o número de militantes em cerca de 30%”, refere Cristina Santos, ciente da importância da estrutura que liderou no contexto do PSD concelhio.
A ESCOLHA DO CANDIDATO
Como parte natural do processo democrático, Cristina Santos conta que as reuniões para preparação das eleições autárquicas começaram no final do verão de 2020, cerca de um ano antes da data prevista para o ato eleitoral.
Apesar das dificuldades causadas pela pandemia foram realizadas reuniões com os militantes para traçar planos para o próximo pleito eleitoral.
O passo seguinte foi reunir com Paulo Cunha que é, simultaneamente, presidente da concelhia do PSD-Famalicão e da distrital de Braga do partido, além de presidente da Câmara Municipal de Famalicão.
Nessa reunião, realizada no outono, Cristina Santos apresentou a sua disponibilidade para disputar as eleições, “caso fosse vontade do núcleo e tivesse a aprovação da concelhia”, segundo afirmou a própria ao NOTÍCIAS DE FAMALICÃO.
Tudo parecia andar sobre rodas. Inclusive, foi informada por Paulo Cunha que seu nome “poderia ser uma opção”, mas que ainda era “cedo para falar no assunto”, tendo sido adiado para os primeiros meses de 2021.
A responsável pelo núcleo ribeirense acatou sem questionar. Afinal, além do seu “grande respeito pelo líder partidário”, o raciocínio fazia sentido uma vez que Ribeirão costuma dar votações expressivas à coligação PSD-CDS/PP.
Por isso, foi com espanto que, cerca de duas semanas depois, recebeu um convite para uma nova reunião na concelhia do PSD de Famalicão com o presidente e outras lideranças político-partidárias.
Foi a primeira de outras reuniões igualmente difíceis, sobre as quais Cristina Santos, visivelmente magoada, prefere não tecer muitos comentários.
Como fez questão de repetir diversas vezes, é e continuará a ser militante do PSD. O seu afastamento voluntário do núcleo de Ribeirão não apaga a sua veia social-democrata. Isso explica a sua relutância em falar do caso publicamente. Por outro lado, não está habituada a palcos mediáticos, nem parece interessada em experimentá-los.
Voltando à saga das reuniões difíceis, o facto é que, logo na primeira reunião, Cristina Santos foi informada de que o candidato para a Junta de Ribeirão nas próximas autárquicas já estava decidido. E chamava-se Leonel Rocha, atual vereador da Educação e da Cultura, que está na Câmara Municipal há 20 anos.
“Para mim, enquanto presidente do núcleo do PSD de Ribeirão e também enquanto militante do partido era impensável que a escolha do candidato fosse feita sem a participação ativa dos militantes”, explica Cristina Santos para justificar a não aceitação de um nome imposto sem o necessário debate com os militantes do PSD.
Tanto mais que, o PSD de Ribeirão, “além de ser um núcleo grande, é formado por pessoas com militância ativa”, sublinha Cristina Santos.Logo na primeira reunião em que soube que Leonel Rocha seria o candidato, Cristina Santos foi orientada a não informar os militantes do núcleo. Por uma razão: o vereador Leonel Rocha ainda não tinha sido informado que seria o candidato a Ribeirão.
Cristina Santos concordou com o embargo para, depois, agendar uma reunião com o núcleo para que Leonel Rocha fosse anunciado aos militantes. Mas também aí o processo foi turbulento.
O presidente da concelhia insistia em participar na reunião com os militantes do núcleo, embora a responsável pelo núcleo explicasse a Paulo Cunha que a sua presença não era aconselhável, visto que poderia inibir os militantes de expressarem livremente as suas opiniões.
Uma hora após o início da reunião, Paulo Cunha entrou na sala.
DE SUCESSORA A DESCARTADA
Depois de em 2017 ter aceitado um lugar no executivo da Junta de Freguesia, como secretária da equipa de Adelino Oliveira, Cristina Santos revela que começou a ser “preparada” como uma “sucessora natural” do atual presidente da Junta, atualmente no terceiro mandato e por isso, impedido de concorrer a um quarto mandato.
Parte da preparação incluía, por exemplo, representar o presidente da Junta em eventos, algo que lhe agradava, pois gosta de “andar na rua, conviver com as pessoas e contactar com os movimentos associativos”.
Foi assim durante bastante tempo, até que começou a perceber que estava a ser “descartada”.
Cristina Santos sente-se “usada” e demitiu-se da presidência do Núcleo do PSD-Ribeirão. Mas nada mudou em relação ao seu trabalho no executivo da Junta de Freguesia.
“Sou ribeirense e as pessoas da vila são a minha maior motivação para me dedicar a Ribeirão”, explica Cristina Santos, enquanto tece considerações sobre o dia-a-dia da comunidade e sobre o gosto que tem no trabalho das associações ribeirenses.
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