Esta terça-feira, 5 de janeiro, fica marcada pela morte do escultor João Cutileiro, aos 83 anos, em consequência de graves complicações respiratórias que tinham motivado o seu internamento num hospital de Lisboa.
João Cutileiro – irmão do diplomata, antropólogo e escritor José Cutileiro, que morreu em maio de 2020 – é considerado um dos maiores escultores contemporâneos portugueses, sendo autor de obras de arte pública em várias cidades.
Uma dessas obras, que muitos famalicenses desconhecem, é a escultura evocativa do rei D. Sancho I. A obra foi comprada pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, na presidência de Agostinho Fernandes, e serviu para homenagear o rei que ficou conhecido pelo cognome “O Povoador”, que viveu entre 1154 e 1211.
Em 1205, D. Sancho I concedeu a Carta de Foral a Vila Nova de Famalicão, para que nas terras férteis que hoje correspondem ao território do concelho, se desenvolvesse uma povoação e se realizasse uma feira.
A escultura em mármore que João Cutileiro vendeu à Câmara Municipal de Famalicão, por vários milhares de euros, foi alvo de alguma polémica, por não ser uma representação aproximada do rei português.
Há quem diga, inclusive, que a representação de D. Sancho I vendida ao município famalicense seria uma das esculturas que Cutileiro tinha no seu ateliê e não teria conseguido vender.
Indiferente a essa polémica, no dia 9 de julho de 1997, nas comemorações do décimo segundo aniversário da cidade de Vila Nova de Famalicão, Agostinho Fernandes, inaugurava a Rotunda de D. Sancho I.
Mas não foi apenas em Famalicão que a obra de Cutileiro gerou polémica. Da sua obra destacam-se as figuras de mármore, uma das mais polémicas, a de D. Sebastião, está instalada em Lagos e foi inaugurada em 1972, tendo desafiado então o Estado Novo.
No obituário sobre o artista, assinado pela agência Lusa, o site da rádio TSF define João Cutileiro como “o escultor do mármore, da polémica e dos corpos femininos em pedra”.
Natural de Lisboa, João Cutileiro vivia em Évora desde 1985 e formou-se em Oxford. Frequentou os ateliês de António Pedro, Jorge Barradas e António Duarte de 1946 a 1950, tendo feito a sua primeira exposição individual (“Tentativas Plásticas”) em 1951, com 14 anos, em Reguengos de Monsaraz, onde apresentou esculturas, pinturas, aguarelas e cerâmicas.
João Cutileiro foi condecorado com a Ordem de Sant’Iago da Espada, Grau de Oficial, em agosto de 1983, e recebeu o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Évora e pela Universidade Nova de Lisboa, este último, concedido em 2017.
Em 2018, Cutileiro recebeu a medalha de mérito cultural, atribuída pelo Governo, numa cerimónia no Museu de Évora que serviu igualmente para formalizar a doação do espólio do escultor ao Estado português.
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