“Na ausência de desejo vemos o mistério.
No excesso de desejo vemos a manifestação.
Ambos têm a mesma origem, mas diferem no nome.
Este é o segredo.
O segredo do segredo.
A porta de todos os mistérios.”
Verso 1, Livro: Tao Te Ching, Lao Tzu.
Enquanto realizava o meu mestrado nos Estados Unidos, tive a oportunidade de integrar, em algumas reuniões, a equipa de medicina integrativa do hospital da Universidade do Arizona (Banner University Medical Center), a convite de Nathan Anderson, um dos meus professores. Foi a primeira vez que tive contacto com uma equipa multidisciplinar que envolvia não só Medicina Ocidental, mas também integrava outros profissionais.
Eu sempre fui defensora de unir esforços e conhecimento em prol do paciente, e juntos podermos acrescentar sabedoria e encontrar melhores soluções para cada um. Não quero fazer deste artigo mais um texto de quem é melhor ou pior, mas sim chamar a atenção do que poderíamos alcançar com esta integração.
Dentro desta equipa multidisciplinar estavam cerca de 20 profissionais de diversas especializações (Medicina Tradicional Chinesa, Yoga, Meditação, Nutrição, Psicologia, Psiquiatria, Clínica Geral, Medicina Interna, Radiologia, Ginecologia, etc.). E os casos, devo realçar, eram extremamente complexos.
Havia pacientes com múltiplas condições de saúde graves, ou com sintomatologia que não atenuava com tratamentos hospitalares.
Nunca senti tanta dificuldade em delinear um plano de tratamento, como nos casos que nos eram apresentados, e ao mesmo tempo, nunca aprendi tanto acerca da complexidade do ser humano. Mas por cada paciente que deixava de tomar 20 medicamentos para tomar 2 ou 3, ou que passava de uma dor constante de intensidade alta e incapacitante a conseguir voltar a realizar tarefas do dia a dia sem sofrimento; ou por cada paciente que recuperava a sua autonomia, a sua família, o seu trabalho, o sono, nós sentíamos que o nosso trabalho estava a dar bons resultados, ficávamos mais motivados para reunir com mais frequência e integrar cada vez mais pacientes no programa.
A realidade é que a integração da medicina tradicional chinesa na medicina ocidental funciona e quem pode beneficiar são os pacientes. Todos os profissionais que se voluntariaram para fazer parte do projeto, em minutos perceberam o impacto que isso causava na vida dos doentes.
Tantas são as áreas que podemos trabalhar em conjunto, desconhecidas da grande maioria das pessoas. Quer pacientes quer profissionais de saúde.
Com a acupuntura podemos controlar a inflamação de um modo preventivo, algo muito eficaz e benéfico para problemas pré-cirúrgicos, por exemplo. Com a moxabustão podemos ajudar no posicionamento do bebé durante a gravidez, quando o bebé não se encontra posicionado corretamente para o parto.
A acupuntura com electroestimulação é frequentemente utilizada na indução do parto. Pelas experiências que tive, numa precisei de aplicar mais de dois tratamentos para estimular um parto.
A acupuntura também aumenta a eficácia das FIV (Fertilização in Vitro) e reduz os efeitos secundários da quimioterapia e radioterapia, ao nível de enjoos, dores, cansaço, diminuição da frequência de enxaquecas e outras dores de cabeça. Entre muitas outras condições, doenças ou sintomas.
Espero um dia voltar a integrar uma equipa disposta a usar todas as ferramentas conhecidas porque sei que muito rapidamente os resultados vão aparecer. Espero que um dia todas as pessoas tenham 20 profissionais de saúde a trabalhar em conjunto para as ajudar. Porque há muito que todas as medicinas têm para oferecer.
Este mês não falei muito da Medicina Tradicional Chinesa, mas na importância de juntarmos conhecimento. Algo tão simples que, no entanto, não acontece com a devida frequência. Existem, porém, várias pessoas a tentar caminhar nessa direção. Penso que esse poderá ser um caminho (Tao) a ser seguido. É sem dúvida o caminho que eu escolho.
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