Em meados de março, foram levantadas suspeitas sobre a segurança da vacina da AstraZeneca contra a covid-19. A Agência Europeia de Medicamentos foi informada sobre 30 episódios tromboembólicos, isto é, sobre a formação de coágulos sanguíneos, em cerca de cinco milhões de indivíduos vacinados. Raros, mas potencialmente graves, estes casos levaram à suspensão temporária da vacina em vários países, entre os quais Portugal, seguindo o princípio de precaução até que fosse estabelecida, ou não, uma relação de causa-efeito.
A Agência Europeia de Medicamentos concluiu na altura que os benefícios na prevenção da hospitalização e da morte por covid-19 eram superiores aos riscos, além de não ter sido provada nenhuma relação entre tais episódios e a toma da vacina. Mas, para muitos europeus, sujeitos às declarações de alguns responsáveis políticos e a uma sobre-exploração dos casos na comunicação social, o mal estava feito, e a desconfiança alastrou-se a todas as vacinas.
Para apurar a dimensão deste mal-estar, entre 26 e 30 de março, a DECO Proteste realizou um inquérito online em Portugal, em Espanha, em Itália e na Bélgica junto da população entre os 18 e os 74 anos, sendo que, dos quatro países, o último foi o único que não suspendeu a administração da vacina da AstraZeneca. Foram obtidas 4005 respostas válidas, 1001 das quais com origem em Portugal. Os resultados espelham as opiniões e as experiências dos participantes no estudo.
A confiança na vacina da AstraZeneca ficou abalada para 63% dos portugueses. Mas não foi a única a sofrer o embate. Entre os portugueses, 41% também reportaram um impacto negativo sobre as restantes. Não significa, porém, que os portugueses recusem a vacinação. Apenas 5% estão certos da decisão e 10% hesitam, com mais probabilidade para o “não”.
Neste estudo a quatro, a total confiança nas vacinas em geral, e nas que pretendem prevenir a covid-19 em particular, é superior nos portugueses. Mesmo 55% dos que reportaram efeitos negativos em relação à confiança na vacina da AstraZeneca estão dispostos a avançar para a inoculação sem pensar duas vezes.
Já em abril, depois da recolha dos dados para o nosso estudo, a Agência Europeia de Medicamentos admitiu uma possível ligação entre a vacina da AstraZeneca e casos raros de formação de coágulos, mas sublinhou que os benefícios continuam a superar os riscos.
PORTUGUESES MAIS INFORMADOS ESTÃO MAIS CONFIANTES
O caso AstraZeneca tem abalado a confiança na segurança de todas as vacinas, contra a covid-19 ou não. Mas também a organização do plano de vacinação, a prestação da Agência Europeia de Medicamentos e a defesa da saúde dos cidadãos pelo Governo e pela Direção-Geral da Saúde estão debaixo de escrutínio. Cerca de três em dez inquiridos confessam que o caso AstraZeneca teve um impacto negativo na forma como avaliam cada um destes aspetos.
MAIORIA DOS PORTUGUESES À ESPERA DA VACINA
Apesar da comoção social, se fossem convocados para serem inoculados na próxima semana, 59% dos portugueses que ainda não a tomaram aceitariam a proposta sem reservas e mais 26%, apesar das dúvidas, provavelmente seguir-lhes-iam o exemplo. Aliás, face ao inquérito de janeiro deste ano, são agora mais 9% os que dizem querer vacinar-se. Quanto mais bem informados se afirmam os inquiridos, maior é a predisposição para receber a vacina. Por outro lado, esta vontade é também superior na faixa etária acima dos 64 anos.
Pode consultar o resultado completo do estudo aqui.
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