A associação famalicense Casa da Memória Viva (CMV) volta a organizar, no próximo dia 21, o Passeio da Famalicidade, para assinalar o “Dia Mundial da Pessoa com Doença de Alzheimer”. Será a segunda edição deste evento, solidário, que, por sortilégio do calendário, acontece exatamente na data instituída pela Organização Mundial da Saúde em 1994 para chamar a atenção dos governos, das autoridades sanitárias e da opinião pública para a forma mais comum de demência, e que, desde então, ocorre a 21 de setembro.
Depois da estreia, no ano passado, a segunda edição desdobra-se em dois passeios destinados a públicos diferentes, cada qual com cerca de 4,6 quilómetros de extensão. Um de manhã, a começar às 10 e a terminar às 12 horas, é aberto à participação de todas as pessoas interessadas em “redescobrir a cidade, em passada ritmada pela memória que dela temos e o olhar desperto pelo contemporâneo, conjugando atividade física, convívio e fruição cultural”, assinala a organização.
De tarde, entre as 14h30 e as 17 horas, haverá um passeio dirigido, particularmente, a cidadãos seniores e a pessoas com mobilidade condicionada e/ou em declínio ognitivo.
A diferença é que, neste caso, os participantes serão transportados num “trishaw”, um velocípede a pedal com três rodas, que se movimenta com apoio de uma bateria, com capacidade para transportar duas pessoas num banco colocado à frente, sobre as duas rodas dianteiras, e manobrado por um condutor, instalado atrás, sobre a roda traseira. No dia 21 estarão duas unidades em Famalicão, fruto de uma parceria da CMV com a associação Pedalar Sem Idade, no intuito de “fazermos o ‘efeito demonstração’ suficiente para mobilizar o interesse de decisores institucionais e mecenas para que a oferta social de Famalicão passe a contemplar os trishaws como veículos de promoção do convívio e da interação social dos nossos seniores”, adianta o presidente da direção da CMV, Carlos de Sousa.
A variante para “Todos” do Passeio da Famalicidade, a realizar na manhã do dia 21, obriga à inscrição prévia (no site www.memoriaviva.pt ou no própria dia, antes da partida) e a um donativo mínimo de 5,00 euros, que se destina a custear as ações de sensibilização e de capacitação de cuidadores e familiares de pessoas com demência que a CMV vem realizando, enquanto a variante para “Seniores”, limitada, por razões operacionais, a 24 pessoas, tem participação gratuita.
Num caso e noutro, a concentração e saída acontecerá junto à sede da CMV, na Rua de São João de Deus, no mesmo edifício da loja dos CTT.
Do trajeto da variante matinal do Passeio da Famalicidade faz parte uma passagem pelo interior do estádio municipal, cuja construção se iniciou há 75 anos. Começado em 1949 e inaugurado em setembro de 1952, durante as Festas do Concelho, o “Parque Municipal de Jogos”, como então se chamava, é muito diferente do atual recinto. Mesmo assim, mantêm-se várias referências arquitetónicas e soluções construtivas iniciais, como a torre com o brasão do concelho e a icónica inscrição Campo dos Bargos, na entrada Nascente. “Será uma singela forma de honrarmos a memória de famalicenses com uma notável folha de serviços prestados à nossa terra, como Álvaro Folhadela Marques, Abel Folhadela de Macedo, Joaquim Augusto Carneiro de Lacerda, José Casimiro da Silva, Adelino Leitão da Silva e Álvaro Carneiro Bezerra, que tornaram possível a construção do primeiro espaço desportivo multifuncional municipal, anos mais tarde dotado de uma pista de atletismo e, até, de um rinque de patinagem”, lembra o presidente da CMV.
Está igualmente prevista uma paragem junto à Casa de Rorigo, em Calendário, onde residiu o terceiro Presidente da República, Bernardino Machado.
O 2.º Passeio da Famalicidade conta com a colaboração do Município de Vila Nova de Famalicão e da Pedalar Sem Idade. Tem ainda o apoio da empresa famalicense Injex. Mais informações e inscrições em www.memoriaviva.pt.
Entretanto, um estudo de dois investigadores da Universidade de Bordéus, Michaël Schwarzinger e Carole Dufouilb, divulgado na publicação científica “The Lancet Public Health” no início de 2022, estima que em 2050 haverá 153 milhões de pessoas no mundo a viver com demência em 2050, quase 270% mais do que as projeções validadas pelas autoridades sanitárias mundiais para 2019 (57 milhões).
Na mesma publicação, os autores preveem que daqui a 26 anos Portugal tenha 351.504 pessoas com demência, um crescimento superior a 75% relativamente ao número correspondente às estimativas de 2019 (200.994).
A Casa da Memória Viva foi criada há cinco anos e tem como propósito essencial a “salvaguarda e valorização da memória na, da e pela comunidade famalicense”. Em conformidade, tem privilegiado as ações de sensibilização e informação da opinião pública local sobre a prevenção e os impactos das formas mais comuns de demência, assim como a capacitação de cuidadores e familiares de pessoas em défice cognitivo. Vem pugnando igualmente pela salvaguarda e valorização da memória identitária de Vila Nova de Famalicão.
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