Daqui a aproximadamente trinta dias os portugueses serão novamente chamados às urnas, desta vez para escolherem os seus representantes autárquicos.
Este será o 13º ato eleitoral de proximidade: os eleitores (há exceções) sufragam listas constituídas por alguns dos seus conterrâneos. 308 municípios conhecerão os seus edis para os próximos 4 anos.
Creio serem motivo de nota algumas situações relativas a este ato eleitoral. Assim:
Cerca de um terço dos deputados da Nação disponibilizaram-se a serem candidatos aos órgãos autárquicos. Continuam os cargos a serem disputados/ocupados pelos mesmos, quando seria ótimo um refrescamento das listas concorrentes com outros cidadãos;
Em bom tempo, o Presidente da República vetou a alteração às regras do Programa de Apoio à Economia Local. Esta alteração ilibava autarcas do PS e um do PCP. Em cima das autárquicas seria escandaloso. Basta de legislação de alfaiataria;
Por motivos bem diferentes, será interessante seguir, quer as campanhas, quer o resultado final de algumas disputas: conseguirá o CDS/PP manter a sua única câmara? Está montado um “sarrabulho” digno da iguaria de terras limianas; voltará Barcelos à gestão do PSD?; O ex-autarca albicastrense, após perda de mandato, ganhará ou será decisivo para a derrota desta edilidade rosa?; Sintra (Basílio Horta – Baptista Leite) e Coimbra ( Manuel Machado – José Manuel Silva) serão também disputas a seguir;
Lourinhã, concelho do distrito de Lisboa, é socialista e o local onde pode ser visitado o Dino Parque – parque temático dedicado à história dos dinossauros e considerado o maior museu ao ar livre em Portugal. Estes animais emprestaram a denominação aos políticos que tentam manter-se em funções para lá do seu tempo. Com a introdução da limitação de mandatos (2013), saltam para outras paragens. Assim será em Évora, Portalegre e Portimão. Mas a compita mais mediática ocorrerá em Almada e oporá a “lagarta terrível” Dores Meira (CDU, ex-Setúbal) à atual presidente, a vienense Inês de Medeiros que por meros 313 votos destronou em 2017, este bastião comunista;
A profissionalização do cargo de presidente da Câmara parece cada vez mais instalado. Pese a lei de 2013, o salto para uma outra terra, permite a situação e promove os paraquedistas. Que tal alterar a legislação e obrigar a que o candidato esteja recenseado há pelo menos 8 anos (2 mandatos) nesse concelho?;
De seguir com atenção as performances de Fernando Ruas, em Viseu, candidato fruto da fatídica morte de Almeida Henriques com covid; de Carlos Humberto, que após um interregno de quatro anos, tenta reconquistar o Barreiro que liderou durante 12 anos; Francisco Tavares que após 28 anos a liderar Valpaços, ruma agora a terras flavienses; Luís Gomes, o autarca que enviou 300 munícipes a Cuba para serem intervencionados às cataratas, está de regresso a Vila Real de Santo António, após a renúncia, em abril, da então presidente Conceição Cabrita; Desidério Silva presidente de 2001 a 2013 e ex- presidente da Região de Turismo do Algarve, encabeça o movimento independente Desidério por Albufeira; Com 18 mil votos de atraso (autárquicas 2017), conseguirá a coligação Dar Voz à Amadora ( PPD-PSD/CDS-PP/Aliança/MPT/PDR,) liderada por Suzana Garcia, ser ouvida por alguém? ; Figueira a Primeira é a denominação do movimento encabeçado pelo “ex-tudo” Pedro Santana Lopes. Goste-se ou não, gabe-se-lhe a persistência e tenacidade. Um percurso (mais um) a seguir;
Na capital afigura-se uma das eleições mais disputadas ou pelo menos uma das mais mediáticas. São já onze as candidaturas. A primeira candidatura do Chega, tem como rosto Nuno Graciano. Do que se lhe conhece, “… políticas de claridade, políticas de proximidade, políticas em que haja uma total abertura dos dossiês. Muitos dossiês estão fechados e tudo se passa por baixo da mesa…” é muito pouco. Mais um flop!
O Cristiano Ronaldo de Jerónimo de Sousa é mais uma vez candidato. João Ferreira, eurodeputado, vereador e ex-candidato à Presidência da República vai mais uma vez às urnas. Joga sempre! Está assim tão delapidado de quadros o histórico PCP?
Fernando Medina (PS) coligou-se com o Livre (Rui Tavares) e prometeu-lhe um pelouro (cultura, conhecimento, ciência e direitos humanos). Parece ter vantagem, mas não se pode distrair…
Carlos Moedas, ex-comissário europeu para a Investigação, Inovação e Ciência, propõem-se reconquistar a Câmara de Lisboa para a direita. Abandonou aquilo que não seria uma profissão, mas sim um compromisso, a administração da Fundação Gulbenkian, para se submeter ao escrutínio popular para a capital do país. Goza de imagem e prestígio. É simpático, educado, moderado e parece genuíno. Falta-lhe tornar o discurso mais envolvente, incisivo e cativador. Despreocupe-se da pseudo colagem a Pedro Passos Coelho. Ainda está macio, distante. Parece que ainda não abandonou o cacilheiro da sua primeira viagem e o deslumbramento sentido. Apresentou uma equipa fresca, variada e aparentemente descomprometida. Falta-lhe conquistar os lisboetas. A missão de Moedas, Coligação Novos Tempos por Lisboa, será mais sofrida do que os últimos 60 minutos do Benfica com o PSV Eindhoven.
Cá pelo burgo, creio nunca terem existido tantos candidatos como este ano. O que mais se aproximou foi nas já longínquas eleições de 12 de dezembro de 1976 e nas de 15 de dezembro de 1985, em que se apresentaram 5 listas a sufrágio: PPD/PSD, PS, CDS, FEPU e GDUPS e PPD/PSD, PS, CDS, APU e PRD, respetivamente.
Em 2021, a dispersão de votos favorecerá a Coligação. A maioria absoluta será, com certeza, mantida.
Com tamanha diversidade de escolha, procurei os programas das diferentes candidaturas com o intuito de os consultar. À data em que escrevo, parabenizo a Iniciativa Liberal pela publicação digital do seu programa de forma sucinta e de fácil leitura. Interessante seria que todos os outros partidos/coligações também o fizessem. Encontrei propostas avulsas do PAN na área do ambiente que me parecem merecer compilação adequada.
Triste, choco e desinteressante o debate no Porto Canal, no pretérito dia 25. Por razões editoriais só foram convidados quatro candidatos. A coligação esteve ausente, desconheço as razões, o que tornou o debate pobre e sem contraditório.
Para terminar e à margem das compitas eleitorais, para quando um acordo de cavalheiros, entre candidaturas de forma a remeter a propaganda política a “meia dúzia” de espaços, devidamente divulgados e onde todos apresentariam as suas propostas, cartazes e tudo o resto que lhes aprouvesse. O concelho e o ambiente agradeciam!
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