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Vila Nova de Famalicão
Sábado, 21 Dezembro 2024

Artistas famalicenses regressam a casa em setembro com o espetáculo “A Liberdade a Passar Por Aqui”

Companhia de Música Teatral nasceu em Vila Nova de Famalicão e tem assinalável percurso nacional e internacional.

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Famalicão

Tudo começou em Vila Nova de Famalicão e para cá voltam em setembro, com o espetáculo “A Liberdade a Passar Por Aqui”, na Casa das Artes de Famalicão e no Teatro Narciso Ferreira, em Riba d’Ave.

Foi no concelho de Vila Nova de Famalicão que nasceram os membros fundadores da Companhia de Música Teatral e alguns dos seus protagonistas. Este agrupamento artístico fez a sua primeira apresentação pública na Expo-98. Pouco depois, em 1999, a Companhia de Música Teatral (CMT) instituiu-se como uma das principais cooperativas do setor cultural do País, cuja matriz filosófica é marcada pela criação de relações entre arte e educação.

Foi também na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão que o Projeto Mil Pássaros, que une experiências musicais e artísticas extensivas a toda a comunidade, começou a voar, em 2018. Desde aí, tem tido uma larga digressão. Resiliente às dificuldades trazidas pela pandemia, fez parte da programação da Fábrica das Artes do Centro Cultural de Belém, do Cineteatro Louletano, da Lisboa Capital Verde Europeia 2020, e deu origem a um projeto de intervenção comunitária documentado no filme Mil Pássaros no Bairro de Santa Cruz.

Em Vila Nova de Famalicão teve também origem um projeto de mediação cultural no Centro Social da Paróquia de Castelões, no Centro Social Paroquial de Requião e no Jardim de Infância de Seide São Miguel. Trabalho este igualmente documentado no filme Jardim Orizuro, cujo alcance viria a expandir-se no Município através da instalação Cidade Orizuro. Esta instalação esteve aberta ao público na Casa do Território do Parque da Devesa ao longo de nove meses, encantando milhares de visitantes.

Em 2024 Mil Pássaros voltou a sair do ninho de onde nasceu, na Vila Nova de Famalicão. E foi andar pelo mundo: depois de ter habitado a Moagem no Município do Fundão, os pássaros de papel criados por crianças e educadores da Bélgica, Holanda e Portugal encontraram-se na instalação One Thousand Birds em Dessel, município belga na província de Antuérpia.

O projeto foi inspirado numa lenda japonesa, segundo a qual um desejo transforma-se em realidade se se construir mil pássaros enquanto se vislumbra este desejo. Orizuro é um pássaro construído em papel seguindo a técnica de origami. Depois do bombardeamento de Hiroshima, o orizuro tornou-se um símbolo de desejo de paz e da necessidade de espírito de união na construção de um mundo harmonioso.

Assim, pode-se entender também o projeto como uma espécie de “manifesto para uma ética do cuidado, porque é tão premente a emergência climática quanto uma emergência empática”. Se a preservação ecológica é essencial, a necessidade de “afinar o olhar e de escutar poeticamente para nos ligarmos uns aos outros não o é menos”, ressalta Helena Rodrigues.

Em Janeiro de 2024, Mil Pássaros aterrou nas margens do Rio Mondego. Em parceria com a  Câmara Municipal de Coimbra, o projeto chegou a quase meia centena dos jardins de infância do Concelho, com o objetivo de promover o bem-estar e incentivar a qualidade das práticas artístico-educativas junto da comunidade pré-escolar.

Mais de mil crianças, de três a seis anos de idade, foram beneficiadas. O projeto proporcionou experiências musicais e artísticas, colocou em diálogo as crianças, as suas famílias e educadoras, e promoveu, assim, a construção de bases educativas para resultados a longo prazo, levantando questões que urge abordar desde a primeira infância.

Além de 127 assistentes operacionais, participaram 48 educadoras, cuja participação significou poder oferecer às crianças dos jardins de infância, e às respetivas famílias, práticas educativas que valorizam a fruição e a expressão artística individual e coletiva.

O desenvolvimento do Projeto Mil Pássaros em Coimbra teve início com uma intensa vertente formativa das educadoras, em que foi explorado um conjunto de ideias e materiais de natureza sonora e visual. As profissionais de educação foram convidadas e estimuladas a levar toda a aprendizagem das formações para as suas turmas nos jardins de infância e prosseguir o trabalho com as crianças e respetivas famílias, de cada escola participante, através da criação de uma “instalação”.

Esta “instalação” era um objeto cénico preparado para ser “ninho” onde nasciam pássaros. Aves da imaginação de cada criança confecionadas em papel com orientação de seus pais e educadoras. Inicialmente os pássaros, os orizuros, ficaram expostos nos jardins de infância, que ficaram coloridos e encheram a todos de orgulho. Além de confecionarem os orizuros com as educadoras e com os pais, as crianças também aprenderam sobre o mundo dos pássaros através da Oficina dos Pássaros e de uma peça de música teatral, PaPi Opus 8, que foram apresentadas em todas as turmas.

Os mil pássaros feitos pelas crianças saíram dos jardins de infância e fizeram seus ninhos no Convento São Francisco, em Coimbra. Desde junho a instalação está aberta à visitação pública, e em julho, o projeto ficou ainda mais amplo e sonoro. Devido à forte componente musical do Projeto, passou a integrar a 5ª Edição do Dar a Ouvir – O Som de Todas as Coisas, iniciativa do Jazz ao Centro Club, também no Convento São Francisco (CSF). A instalação pode ser visitada até ao dia 1 de setembro.

No final de setembro, a Companhia de Música Teatral volta à terra natal com o espetáculo “A Liberdade a Passar Por Aqui”, na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão e ao Teatro Narciso Ferreira em Riba d’Ave, procurando responder ao desafio de envolver adultos e crianças pequenas, de zero a cinco anos, numa experiência poética que oferece várias leituras e permite diferentes relações entre o público e a peça.

A ética do cuidado e o desejo de paz que permearam o projeto Mil Pássaros também estarão presentes no espetáculo que Famalicão irá receber a partir do 28 de setembro. Desta vez o cuidado é com a Liberdade, e a paz que ela proporciona por ser o oposto do medo, como explica Paulo Maria Rodrigues, compositor residente da Companhia de Música Teatral: “Tendemos a perceber o que é a Liberdade e a importância que tem quando sentimos falta dela. Toma inúmeras formas mas muitas vezes é invisível. É um bem precioso que precisa da nossa atenção, de ser nutrido, cuidado. É como o ar que respiramos ou a água que bebemos. Precisamos dela para sermos nós mesmos. Deve fazer parte do que nos acompanha quando crescemos. Como a Música. Como se explica ou fala dela aos mais pequeninos? Talvez com Música. E o envolvimento dos pais e avós, que certamente se lembram do tempo em que era necessário ter muito cuidado com as palavras. Muitas delas deram origem a canções ou outras formas de organizar o som, em muitas épocas e locais”.

O espetáculo irá promover o exercício de revisitar melodias, ritmos, palavras, ideias e histórias que fazem parte da História, e que estão na memória dos mais velhos, e torná-los experiência artística multifacetada e livre, ambiente de fruição e partilha para eles e para os mais pequeninos, afinal um dos eixos da Companhia de Música Teatral é a formação, a criação tecnológica, o envolvimento da comunidade e a divulgação da importância da experiência musical e da arte em geral no desenvolvimento social e humano.

COMPANHIA DE MÚSICA TEATRAL

A matriz filosófica da Companhia de Música Tetral (CMT) é marcada pela criação de relações entre arte e educação, e pela articulação entre a investigação académica, a produção artística, a formação, a criação tecnológica, o envolvimento da comunidade e a divulgação da importância da experiência musical e da arte em geral no desenvolvimento social e humano.

A CMT tem contribuído de forma decisiva para uma oferta cultural diversificada e abrangente, com repertório que é um caleidoscópio de espetáculos, instalações, “workshops”, projetos de média e longa duração, atividades de formação, publicações em diversos formatos, participação em projetos de investigação e apresentações de âmbito académico nacional e internacional.

A CMT colabora com as principais instituições culturais de Portugal e tem contado com o apoio regular da DGArtes e tem-se destacado nacional e internacionalmente pela originalidade das suas propostas artísticas e pelo carácter inovador das suas propostas educativas. É membro da RESEO (European Network for Opera and Dance Education) e tem apresentado os seus trabalhos em Portugal, Espanha, França, Reino Unido, Áustria, Alemanha, Bélgica, Finlândia, Dinamarca, Polónia, Grécia, Chipre, República Checa, Lituânia, Brasil, Estados Unidos da América, Canadá, África do Sul, Macau, China, Hong-Kong e Tailândia.

Partindo da música e procurando a interação entre várias linguagens de comunicação artística, a CMT tem construído um modelo de trabalho que tem vindo a designar de “constelações artístico-educativas”. Este modelo tem permitido um saudável diálogo entre academia, instituições culturais e a sociedade civil.

Vários dos seus membros fundadores e colaboradores estão ligados a dois dos mais importantes centros de investigação do País (CESEM e INET-md), à Universidade NOVA de Lisboa e à Universidade de Aveiro, contribuindo para um relevante trabalho de extensão universitária e para que a arte esteja ao alcance de todos. A CMT também colabora com artistas experientes e também com jovens artistas em início de carreira, sendo o seu modelo de “formação imersiva” procurado internacionalmente.

A qualidade artística da CMT em projetos dirigidos à infância e juventude tem sido amplamente reconhecida por diferentes júris internacionais dos YAMAward (Young Audiences Music Awards), que premia a criatividade e a inovação no campo das produções musicais para o público jovem. Concebeu e realizou os projectos Opus Tutti e GermInArte, apoiados pela Fundação Calouste Gulbenkian e destacados internacionalmente pela singularidade e qualidade das suas propostas artísticas e educativas.

O trabalho da CMT tem sido apresentado numa variedade de espaços que abrange instituições como o Centro Cultural de Belém, a Casa da Música e as mais importantes salas de espetáculos dos municípios de Portugal. A diversidade de formatos artísticos permite ainda chegar a todos os espaços, nomeadamente jardins de infância e escolas. Do ponto de vista internacional, a CMT tem também um percurso assinalável, incluindo apresentações em espaços como o Concertgebouw (Bélgica), Guangzhou Opera House, (China), o Teatro Real de Madrid ou a Universidade de Harvard (USA), o Festival BICT, entre muitos outros com reconhecimento público institucional, cultural e académico.

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