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Domingo, 24 Novembro 2024
Carlos Folhadela Simões
Carlos Folhadela Simões
Formado em Ciências Farmacêuticas, é professor do Ensino Secundário. Cidadão atento e dirigente associativo.

Adeus, 2022!

Alguns dos factos marcantes do ano.

7 min de leitura
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Carlos Folhadela Simões
Carlos Folhadela Simões
Formado em Ciências Farmacêuticas, é professor do Ensino Secundário. Cidadão atento e dirigente associativo.

Famalicão

Chegados ao final do ano é sempre uma boa altura para fazer um balanço do que nos marcou no ano anterior. Homens, Mulheres, acontecimentos, factos, frases marcam sempre um ano. Normalmente recordamos quem partiu. Saudámos feitos e descobertas. Acarinhamos atitudes, práticas e posturas. Repudiamos atos, ações e também omissões.

Inicio esta crónica recordando alguns daqueles que partiram e que, deixando-nos um legado, deverão ser recordados. No cinema, Jean-Luc Godard, Olívia Newton-John, William Wurt, Sidney Poitier e o realizador português, Lauro António. Realizador do filme Manhã Submersa, destacou-se como crítico da sétima arte e ainda como professor, ensaísta, promotor cultural e organizador/diretor de festivais. Assim o recordarão muitos famalicenses, pois foi diretor do Famafest – Festival Internacional de Cinema e Vídeo, que existiu em Famalicão, para promover o cinema baseado na literatura. Velhos tempos!

Depois de Palmira Bastos, Amélia Rey Colaço e Mariana Rey Monteiro, outra das divas dos palcos portugueses partiu. Eunice Muñoz foi uma atriz de mão cheia, uma atriz de corpo e alma. Morreu aos 93 anos, depois de uma brilhante carreira na arte de bem representar. Figura de referência no teatro, televisão e cinema portugueses.

No âmbito da política internacional, referência para aquele que foi o Homem do Ano em 89, pela Time, Nobel da Paz em 90 e último líder da ex-URSS – Mikhail Gorbatchov. Responsável por reformas de abertura/transparência (glasnost) e de reestruturação (Perestroika) acabou por ser vítima das suas próprias reformas, sendo destituído do poder. Adorado no Ocidente pela sua postura de abertura e pelas opções constantes de paz ao invés de afronta e confronto. Almejou o respeito e consideração dos então líderes ocidentais: o chanceler alemão Helmut Kohl e Ronald Reagan, o presidente americano nos anos 80. Nos tempos atuais, justo recordar o rosto do homem que pôs termo à Guerra Fria.

No outro polo da política dessa época, estavam os EUA que perdeu também um rosto proeminente da sua visibilidade internacional: Madeleine Albright. Primeira mulher a liderar a pasta de política externa, teve um papel preponderante no pós desmembramento da ex-Jugoslávia. Curiosamente, foi a precursora da defesa do alargamento da Nato a Leste, cujas consequências estiveram bem visíveis no atual conflito na Ucrânia. Há uma frase sobre a qual deveremos refletir, face ao que se vai passando em vários países: “A ideia de identidade está bem, mas se a minha identidade me leva a odiar a identidade do outro, então torna-se muito perigosa, cai no hipernacionalismo (…) Subitamente, a vida política transforma-se num conflito tribal. A defesa que Viktor Orbán faz da pureza étnica na Hungria é um bom exemplo disso”, disse numa entrevista pouco depois da publicação do seu livro, dois anos depois de Donald Trump ter sido eleito. Madeleine Albright, uma mulher fora de série, foi como a denominou Teresa de Sousa, jornalista do Público.

Figura incontornável do Mundo nas últimas sete décadas, Elisabeth Alexandra Mary, ao tornar-se Elisabeth II, com apenas 25 anos, suscitou a curiosidade pelo mundo enigmático e cor-de-rosa da realeza, dominou os media e apaixonou biliões de terrestres que lhe dedicaram atenção diária.  O seu fim não foi diferente. O funeral de estado foi uma cerimónia que culminou anos de meticulosa preparação e recheado de pompa e circunstância.

Em Portugal, dois nomes da ciência também partiram. Raquel Seruca e Paula Coutinho. “Uma força da natureza” como lhe chamou um dos mais renomados patologista do mundo, o Professor Sobrinho Simões, era vice-diretora do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular  (Ipatimut) e tinha sido distinguida recentemente com o Prémio Activa Mulheres Inspiradoras de Ciência 2021. Cavaco Silva agraciou-a com a  Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, pelo seu trabalho científico no âmbito do cancro gástrico.

Já a neurologista e investigadora Paula Coutinho,  dedicou-se ao estudo das doenças neurodegenerativas, em particular da paramiloidose (vulgarmente conhecida por “doença dos pezinhos”) e à doença de Machado-Joseph.

As letras perderam António Mega Ferreira. Jornalista, escritor, pensador e gestor cultural. Será para sempre o Sr. Expo! Liderou a candidatura e foi o seu comissário executivo. A zona oriental de Lisboa ficou (e bem!) transformada. O Pavilhão Atlântico e o Oceanário perdurarão no tempo. Portugal agradece!

A música ficou substancialmente mais pobre. Gal Costa e Pablo Milanés cantarão, a partir deste anos, nas nossas memórias. A cantora e compositora brasileira , para além de toda a sua obra musicológica, deixou uma frase extraordinária, a propósito do seu filho por ela adotado, aos dois anos, quando vivia num abrigo e sofria de raquitismo: “Eu achava que filho tinha que ser parido. Hoje, sei que filho é amor.”

O cantor e compositor cubano será sempre uma das referências da música cubana: “Yo no te pido e Ámame como soy”  transformaram-se em verdadeiros ícones deste artista.

Ainda no plano do espetáculo, Jô Soares irá deixar saudades. O Viva o Gordo ficará para sempre como um dos espetáculos de entretenimento como mais qualidade exibidos na televisão.

Daqueles que ainda estão entre notas, breves notas nalgumas áreas:

No desporto, referência para Stephanie Frappart, a descendente de barcelenses, que presidiu à primeira equipa de arbitragem feminina a arbitrar num Mundial. Mais uma barreira quebrada rumo à igualdade de género.

Diogo Ribeiro, o nadador português com vários títulos mundiais e que promete continuar a estar na ribalta da natação mundial.

Pelo mundo, realce para a impensável guerra, em pleno século XXI, na Europa. A Rússia invadiu a Ucrânia. Esta resiste de forma heroica e destemida. Putin, o vilão , finalmente deu a cara e utilizou a palavra guerra! A dita “operação militar especial” passou  a ser conhecida pelo nome próprio. Lamenta-se que se prolongue há mais de dez meses e que possa não ter fim a breve trecho.

No Irão, Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos, após ter sido agredida e detida, morreu às mãos do regime iraniano, pela denominada “polícia da moralidade” por estar a usar o hijab, o lenço islâmico. Os protestos fizeram-se sentir em vários pontos do globo. Os cortes de cabelo foram a imagem de marca dos mesmos. Espera-se que a morte não tenha sido em vão e que contribua para a abertura do regime e o respeito pelos direitos das mulheres.

Esses mesmos direitos estão claramente a ser colocados em causa, pela decisão do regime talibã, não permitir o acesso à educação e mesmo à liberdade de circulação das mulheres afegãs.

Como facto relevante e decorrente do início da guerra, a recente visita de Volodymyr Zelensky a Washington, com a entrega da bandeira ucraniana, ao congresso americano, realça o exemplo que o povo ucraniano está a dar, na defesa dos valores defendidos pelo mundo ocidental.

Também são deles as duas frases que elegeria como as mais relevantes do ano 1que ora finda: “Preciso de munições, não de boleia” a propósito do convite para se poder refugiar noutro pais; e “O vosso dinheiro não é caridade. É um investimento na segurança global e na democracia” proferida no congresso americano.

Enigma deste ano é a epidemia dos oligarcas russos. São já meia dúzia aqueles que faleceram, alguns deles em situações que reputaria de inusitadas: quedas em escadas, quedas de janelas de hotéis, quedas “borda fora” em viagens de barco.  Um sinal em comum: todos críticos da guerra!

Cenários atrozes e inimagináveis, mas que ficaram marcadas em todos nós: os cenários de “carnificina” em Bucha, a “cratera” aberta no centro do Sameiro, Serra da Estrela, decorrente das enxurradas, após os incêndios de agosto e as últimas cheias de Lisboa, pelo consecutivo adiamento das soluções conducentes à minimização/resolução deste problema. Uma oportunidade para Moedas mostrar o que vale!

Na ciência, quatro menções: pela primeira vez, foi possível desviar a rota de um pequeno asteroide. A sonda Dart deu início ao programa de defesa Planetária.

O James Webb, telescópio espacial, há um ano no espaço, tem captado imagens fantásticas do Universo. Um contributo fundamental para o estudo do universo primitivo.

Conseguir na Terra o que se passa nas estrelas foi um marco notável e talvez o pontapé de saídas para a resolução do problema energético. O Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, EUA, conseguiu produzir mais energia do que aquela que gastou. Um feito singular e que era perseguido há várias décadas.

Lecanemab, o princípio ativo, já aprovado pela autoridade de saúde americana,  FDA – Food and Drug Administration, que é uma esperança para os doentes de Alzheimer, já que previsivelmente reduz em cerca de 27% a deterioração das suas capacidades cognitivas.

Duas interrogações finais:

Alguém percebe por que razão António Costa não segue a medida de Pedro Sánchez e não isenta de IVA, produtos alimentares essenciais?

A TAP demitiu ou aceitou a demissão de Alexandra Reis? Se a demitiu (e aí poder-se-á perceber a existência de uma indeminização) deverá ter razões para isso. Mas se não serve para a TAP, serve para a NAV? E para secretária de estado? Ao estado a que isto chegou!

Um Bom Ano para todos!

 

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