Na passada quinta-feira arrancou a 54ª edição da Feira Internacional da AGRO, em Braga. Do programa disponibilizado, este ano a Feira conta com concursos pecuários e de raças autóctones, assim como o concurso da raça Holstein Frísia, a quem chamam como a das vacas leiteiras – de onde deixo já o esclarecimento, não existem raças de vacas leiteiras. A vaca, decorrente do seu processo normal de gravidez, produz leite como qualquer outra fêmea do mundo animal. Surpresa!
Uma feira como tantas outras e que, uma vez mais, ganha discussão nas redes sociais. Porquê? Porque foram tornadas públicas fotografias dos animais que estiveram em exposição – para deleite de alguns – e a condição a que os mesmos foram expostos em que se encontravam fisicamente.
De todos os considerandos que poderia elaborar à volta da temática do bem-estar animal – na qual se inclui aqueles que alguns só veem como comida – não poderia deixar de escrever sobre este assunto específico atendendo ao longo – muito longo – e lento caminho, que mesmo por força de normas europeias, Portugal, entre outros países, continua a ignorar o bem-estar animal nas suas várias vertentes e contextos.
E se comecei por referir que esta se trata da 54ª edição é porque mesmo após 54 anos – considerando uma edição por ano – nada muda. Os animais continuam a ser objetos tratados de forma indiferente, perante os olhares de desprezo de quem considera normal tratar os animais como objetos.
E se para muitos o normal é ser indiferente, para outros a perspetiva já há muito que é diferente. Importa – e aqui assumindo a ativista pelo bem-estar animal que sou – tornar visível a forma como tratamos os animais e os métodos através dos quais nos relacionamos com eles e trazer para a praça pública o incómodo do tema.
Existem cinco domínios no âmbito do bem-estar animal: nutrição; o meio ambiente a que estão sujeitos os animais; estado de saúde dos mesmos; comportamento, liberdade de movimentos e estado mental e físico, onde se inclui a dor. Dos testemunhos e registos fotográficos onde se veem os ossos do quadril, as glândulas mamárias – qual balão pronto a rebentar, ou o nariz preso, por uma argola e corda, literalmente ao chão onde nem a cabeça conseguiria mover, só me resta dizer – é preciso ter o azar de se nascer uma vaca.
Em nome de uma alegada sobrevivência alimentar chamada proteína animal, o legislador nega-se a reconhecer aquilo que a ciência já reconhece desde há muito – os animais são dotados de sensibilidade e sentem dor – e assim a sociedade continua a fechar os olhos às atrocidades, às barbaridades, esquecendo que mesmo os animais que diariamente entram nos matadouros são merecedores de dignidade e precisam da nossa proteção, pois ao contrário do ser humano, não têm estes a capacidade, pelas exigências da sua própria condição física, de ajudarem o seu próximo.
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