O desporto e a atividade física têm sofrido um forte revés em tempos de pandemia. A Direção-Geral da Saúde refere que a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, para um país de 10 milhões de habitantes onde metade da população é fisicamente inativa, o custo anual da inatividade física é cerca de 900 milhões de euros. A ser assim seria o equivalente a quase 7,5% do orçamento do Ministério da Saúde para 2021.
Ser ativo é uma importante forma de promover a saúde. A prática regular de atividade física contribui fortemente para a prevenção de importantes doenças crónicas não transmissíveis.
A inatividade física é um importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças, tais como a diabetes tipo 2, a depressão, as doenças cérebro-cardiovasculares, oncológicas e respiratórias.
Em Portugal, a prática regular de atividade física permitiria reduzir significativamente a prevalência das principais doenças crónicas – por exemplo, cerca de 14,2 % dos casos de cancro da mama, 15,1 % dos casos de cancro colorretal, 10,5 % dos casos de diabetes tipo 2, e 8,4 % dos casos de doença coronária.
Ser ativo também aumenta a longevidade. O risco de morte diminui com o aumento do tempo diário da prática de exercício físico e, segundo valores aproximados da OMS, o efeito protetor obtém-se com 20-25 minutos por dia.
Um total de 150 minutos por semana em atividades como caminhadas em passo rápido, prática recreativa de uma modalidade desportiva, aulas de dança, exercício físico no ginásio ou corrida é o recomendável.
Um estilo de vida ativo é também fundamental, mesmo quando uma doença já se instalou, constituindo-se como um coadjuvante terapêutico importante em mais de 25 doenças crónicas, incluindo doenças do foro psiquiátrico, neurológico, metabólico, cardiovascular, pulmonar, músculo-esquelético e oncológico.
E nos tempos que vivenciamos todos já nos apercebemos do papel fundamental do denominado “passeio higiénico”. Dados do Eurobarómetro (2014) revelaram que 72% dos adultos portugueses “nunca” ou “raramente” faziam exercício ou desporto, e apenas 28% cumpriam as recomendações da OMS.
Apenas cerca de um terço dos portugueses adultos reporta ser suficientemente ativo para a obtenção de benefícios importantes na sua saúde. A falta de tempo e a falta de interesse foram as razões apresentadas e que justificam os níveis elevados de sedentarismo dos portugueses.
De realçar que a atividade física foi muito associada, apenas, à sua componente estruturada, sendo que apenas cerca de metade dos inquiridos identificou atividades do dia-a-dia (por exemplo, subir escadas) como formas de atividade física.
As três principais atividades físicas programadas que os adultos portugueses preferem praticar nos seus tempos livres são as atividades de ginásio, a caminhada e a corrida.
A mortalidade atribuída à inatividade física no nosso país, está estimada em 14%. Isto significa que se a atividade física se generalizasse a toda a população, uma em cada 7 mortes poderia ser evitada anualmente.
Considerando que eliminar a inatividade física é um cenário improvável, se o Estado português conseguir uma redução de 10% na sua prevalência – meta assumida para 2025 – poderão ser evitadas cerca de 1.500 mortes todos os anos.
No que concerne aos custos, pese a estimativa da OMS, o Programa Nacional de Promoção da Atividade Física revela que, num artigo da revista Lancet publicado em 2016, o custo total da inatividade física em Portugal foi situado entre 210 e 460 milhões de euros, incluindo custos diretos e perdas de produtividade com mortalidade prematura (dados de 2013).
Contudo, apenas se consideraram custos diretos relativos a cinco das 22 doenças e condições que a atividade física comprovadamente previne. E muitos custos indiretos não puderam ser estimados (ex. absentismo, custos com apoio familiar ao doente), como os próprios autores reconhecem.
Basquetebol, futebol, hóquei em patins, voleibol, andebol, futsal, nenhuma modalidade está imune. Nestas modalidades estima-se que foram perdidas 174.000 inscrições. Os jovens sentem-se frustrados. Muitos deles já desistiram. Poderão ou não voltar.
Com dados conhecidos e relativos aos anos letivos de 2016-2017, pela primeira vez, o Ministério da Educação levou a cabo um estudo sobre a atividade física da população escolar. Uma das conclusões mostra que no 1º ciclo, 60% dos alunos faz menos de duas horas de desporto ou exercício físico por semana.
A justificação é o preço associado às atividades desportivas. No que diz respeito aos motivos para não praticar desporto ou exercício físico, a resposta mais comum (26%) é a falta de tempo. E mais de um quinto (21%) dos alunos do 1º ciclo diz que é caro praticar um desporto. A isso acresce a possível falta de disponibilidade dos pais para levar as crianças às atividades desportivas.
Nas escolas toda a gente tem a oportunidade de praticar desporto ou exercício. A frequência das aulas de educação física (Expressão Física Motora) é insuficiente e acaba por ocupar apenas 30 a 60 minutos da semana escolar. O cenário evolui positivamente nos 2º e 3º ciclos, mas o nível de exercício praticado entra em declínio novamente no ensino secundário.
No que respeita ao desporto federado, com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), Instituto Português do Desporto e da Juventude e Pordata, o número de praticantes desportivos federados aumentou de cerca de 266 mil para 668 mil de 1996 a 2018 e de 26,4 % para 64,9 %, de praticantes desportivos federados por mil habitantes.
Em termos de atividade desportiva, a situação é aflitiva e caótica ao nível dos escalões de formação. A falta de competição pode traduzir-se num processo com resultados catastróficos.
Basquetebol, futebol, hóquei em patins, voleibol, andebol, futsal, (…), nenhuma modalidade está imune. Nestas modalidades estima-se que foram perdidas 174.000 inscrições. Os jovens sentem-se frustrados. Muitos deles já desistiram. Poderão ou não voltar. Haverá pais que possam ter contribuído para essa decisão.
Pagar uma mensalidade aos clubes, numa altura de hipotética baixa de rendimentos, mas de indubitável incerteza, sem o que seria expectável, a competição não se afigura aliciante.
Os miúdos voltam a imergir nas tecnologias. Regressam ao sedentarismo, à Internet e à PlayStation. Os clubes veem diminuídas as receitas. O futuro afigura-se incerto.
Dito isto e em jeito de conclusão, percebemos que o valor despendido pelo Estado pela imobilidade dos portugueses é de monta; que mais de metade da população é sedentária; que a atividade física na escola é insuficiente; que o custo da prática de atividade física/desporto tem os seus custos e que o desporto de formação está, no corrente ano, caótico.
Seria importante que o Governo e as autarquias analisassem também este pilar de desenvolvimento e os agentes neles envolvidos. A falência e/ou o desaparecimento de alguns clubes e ginásios poderá estar iminente.
Não estou a advogar atribuição desenfreada de subsídios, mas sim uma análise atempada para uma mudança de paradigma. A dedução em sede de IRS das despesas relacionadas com a atividade física. A dedução do IVA é pífia.
A introdução de novas políticas no desporto português. A articulação entre clubes e instituições de ensino. A existência de um plano a médio prazo, antecipando o que daqui poderá advir.
Será pernicioso para o país e seus cidadãos que possamos diminuir os já fracos resultados que apresentamos relativos ao número de portugueses que são ativos e se exercitam. Não podemos parar! Pela nossa saúde!…
Comentários