Há na sociedade portuguesa, muito descrédito relativo à natureza da vida política, que se caracteriza pela má imagem que a generalidade dos cidadãos tem dos governantes e dos políticos, em geral.
Esta situação favorece o aparecimento de movimentos extremistas, que fazendo o discurso que o povo gosta de ouvir, do género os políticos são todos iguais, corruptos e incompetentes e que ganham muito dinheiro, por um lado, ou por outro, dividindo a sociedade entre ricos e pobres, homens e mulheres e brancos e negros, e assim sucessivamente.
Todo este radicalismo começa a ganhar adeptos, perante um povo desiludido com as suas elites políticas. Para já não falar, daqueles que passam diretamente para o clube dos descréditos e irreversíveis abstencionistas. Sinceramente, nem sei o que é pior!
A verdade, nua e crua, é que temos assistido a muita incompetência e comportamentos inaceitáveis por parte de governantes, empresários, centrais sindicais e sobretudo, uma disfuncionalidade e um anacronismo paralisante do sistema de justiça.
Se fizermos uma análise fria sobre a realidade política portuguesa, teremos de reconhecer que os eleitores têm toda a razão em não acreditar nos políticos, porque salvo raras exceções, estes tem tido um desempenho mais a pensar no seu futuro político, do que a pensar nas pessoas, a quem deveriam servir com lealdade e dedicação. Foi assim com Guterres, com Durão Barroso e atualmente com António Costa, mas também poderíamos falar de Paulo Cunha, a nível local.
Este, na justificação que deu para a sua saída, as peças em que, entretanto, colocou no tabuleiro da estratégia partidária, são sinais claros do que acabei de afirmar. Quando alguém deixa a atividade política, o que se aplaude quando é verdadeiro, pois o exercício do poder deveria ser temporário, não deixa a porta aberta para mais nada, cede o seu lugar e funções a outros e, vai à sua vida. Foi isso que fizeram António José Seguro e Pedro Passos Coelho. Não é o caso do atual Presidente da Câmara Municipal de Famalicão.
E sinceramente, repito, não vejo nenhum mal na saída de qualquer governante ou gestor público, no fim de um mandato completo. Também o fiz, aquando de uma Comissão de Serviço, em que poderia concorrer a novo mandato. A questão aqui, só se coloca ao nível de estar a colocar o Município ao seu serviço, pois foram feitas opções em termos de execução de obras, que possivelmente, seria diferente, caso o atual Presidente de Câmara se recandidatasse, ou abandonasse, definitivamente, a atividade político-partidária.
Também nunca adjudicaria tanta publicidade da “Praça”, por exemplo, como não faria tanta publicidade pessoal, em órgãos de comunicação social nacional, porque para eleições municipais, tal não seria necessário. A esmagadora maioria dos cidadãos famalicenses já o conhecem suficientemente bem, por tudo aquilo que realizou, ou não realizou, no fundo, pelas opções que tomou, e por isso a publicidade nacional não seria necessária.
Pois bem, em última análise são sempre os eleitores os responsáveis pela escolha dos governantes que temos, sobretudo quando existem alternativas, o que nem sempre acontece. Mas, pela primeira vez, em eleições autárquicas, em Famalicão, apareceu alguém que pretende ser Presidente de Câmara, sem qualquer ligação partidária ou que, alguma vez, tivesse algum cargo ou função política. Não tem objetivos de se lançar numa carreira política, porque a sua atividade profissional está consolidada enquanto médico, mas está disponível para dar o seu contributo, enquanto cidadão famalicense, para melhorar a qualidade de vida dos habitantes do concelho. Deve ser caso raro, por esse país fora, e revela uma grande coragem e, sobretudo, preocupação com o bem-estar dos demais cidadãos.
Mas temos aqui uma grande desafio, para um candidato “out de box” (fora do sistema), mas também para o eleitor. Temos um candidato que não está disposto a prometer tudo aquilo que os eleitores querem ouvir (porque é sério e não precisa de mentir para ter “futuro político”) e os eleitores podem não achar muita piada à política de verdade e de rigor, porque também não estão habituados.
Este candidato independente não vai prometer pavilhões e piscinas em todas freguesias, nem apoiar todas as associações, sobretudo aquelas que nada acrescentam à sociedade, nem tão pouco prometer lugares ou entrega de obras ou serviços para os amigos e familiares se for eleito para a Câmara Municipal. Um candidato que nunca aceitará cunhas, seja de quem for, porque um cidadão liberal, trata os cidadãos todos por igual.
O eleitor famalicense poderá ficar de facto muito confuso em ter pela primeira vez um candidato que não lhe mente, nem cria falsas expectativas. Este candidato é de assumir compromissos, não de fazer promessas, e o primeiro é para cumprir já em 2022.
Serão devolvidos aos cidadãos famalicenses seis milhões de euros, através do benefício fiscal de IRS de 5% e da redução da taxa de IMI, para 0,3%, o que corresponde a uma diminuição de 14,3%, face ao valor atual. Dando exemplos concretos: um casal sem filhos, com um salário bruto de 1500€ cada e uma renda de 500€, poupa, anualmente mais de 270€. O mesmo casal, se tiver uma casa com valor de 150 mil euros, poupa 75€ em IMI. Parece coisa pouca, mas pode corresponder a um valor acumulado de mais de 350€.
Estamos, no fundo, a transferir para as famílias dinheiro que estas vão usar, maioritariamente, na economia local, melhorando o bem-estar geral, impedindo a Câmara Municipal de desbaratar dinheiro em obras ou apoios, sem qualquer utilidade social. De referir que esta transferência para os munícipes de 6 milhões de euros, corresponde apenas a 4% do orçamento. Quem duvida que não é realista pensar numa economia daquele montante, através de uma gestão séria e rigorosa dos recursos disponíveis?
Em conclusão, o desafio do eleitor famalicense é de ser capaz de mudar o chipe e pensar que é melhor ficar no final de cada ano, com mais umas centenas de euros no seu bolso do que assistir a uma feira de promessas que lhe vão sair caras.
Tenho de acreditar, que os eleitores famalicenses serão capazes de fazer boas escolhas, até porque, tal como o título desta crónica indica, a mesma água nunca passa duas vezes por debaixo da mesma ponte, isto é, pode ser a primeira e a última oportunidade de termos um candidato com estas características. Um futuro Presidente de Câmara que não pretende fazer carreira política nem tão pouco tem clientelas para alimentar, porque é genuinamente independente, sem amarras ou cumplicidades, exceto, as da sua consciência!
Comentários