Jardinagem de guerrilha – Transformam espaços devolutos, pedaços de solo não aproveitados nas cidades, nas bermas de estradas ou nos parapeitos de prédios, em jardins, espaços verdes, canteiros [ver aqui].
A Alameda Luís de Camões tem nome de poeta e bancos com pinturas inspiradas nos cantos da sua obra e noites animadas por alguma vida boémia.
Foi das primeiras ruas pedonais da cidade e durante muitos anos duas filas de árvores acompanhavam o alinhamento da via, ascendendo assim ao estatuto de Alameda. Os anos passaram e a alameda perdeu algum do seu élan e, quase, todas as árvores.
O Notícias de Famalicão já publicou uma crónica sobre o estado triste a que este espaço chegou, que recomendo a leitura ou releitura – “Alameda Luís de Camões: árvores abatidas, abandono e ervas daninhas”. [ver aqui]
A 8 de Março (por coincidência Dia Internacional da Mulher) um grupo identificado como Okupa Canteiros executou uma ação de Jardinagem de Guerrilha na dita alameda. 15 caldeiras vazias, há anos, foram ocupadas por árvores e arbustos.
Podem dizer-me que o espaço público é de todos e por ser de todos não pode ser apropriado por meia dúzia de ativistas (esta da “meia dúzia” faz-me lembrar alguém…). Mas, dá-se o caso de aquele espaço estar votado ao desleixo há anos. Perante este desmazelo, não terá a cidadã e cidadão o direito, senão mesmo o dever, de agir?
Em muitas cidades desta Europa, com quem nos gostamos de comparar, qualquer recanto serve para trazer um pouco mais de verde. Entretanto, por cá, deitam-se árvores abaixo e cobre-se o chão de betão. Veja-se o caso da Avenida de França, entre a rotunda dos “Pinheirinhos” e a Avenida 25 de Abril, no seu lado poente arrasaram com o arvoredo existente e não sobrou nenhum apontamento de verde.
Aquele troço da Avenida tem quase 30 metros de largura. Do outro lado, um passeio estreito ainda conserva alguns carvalhos. Mantendo tudo como está, será uma questão de tempo para seguirem o mesmo destino.

Como é possível?, com tanto espaço, não se encontrar uma solução que alargue os passeios, que corrija o piso, aumentem o tamanho das caldeiras, reduzam a largura da facha de rodagem e com isso reduzam a velocidade de circulação, retirem parte do alcatrão, mantenham o arvoredo e plantem ainda mais árvores e arbustos. Tornando este arruamento, mais seguro, fresco e aprazível.
Voltando à Jardinagem de Guerrilha da alameda Luís de Camões, as árvores e arbustos não resistiram uma semana. Zelosos por manter a (in)estética daquela rua, uma brigada do Município arrancou tudo. Estranho não fazer o mesmo aos carros indevidamente estacionados no local (trata-se afinal de uma rua pedonal).
O que incomoda não são umas plantas arrumadas, ou desarrumadas, em canteiros. Incomoda é esta anarquia no estacionamento que impede a saudável fruição do espaço público e dificulta ou impede a circulação a pessoas com mobilidade reduzida ou carrinhos de bebé.
Com um pouco mais de verde esta cidade podia ser um jardim. É uma questão de definir prioridades.
Lembram-se da Acácia do Jorge? Isso!
Afinal a culpa não é do homem da motosserra. Vamos ter de subir um pouco mais (na hierarquia) para encontrar a origem do problema.
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