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Sexta-feira, 22 Novembro 2024

Abate de árvores polémico. “Câmara não debateu com comerciantes. Só informou o que ia ser feito.”

João Alves, de 29 anos, filho de comerciantes do setor da restauração na Praça D. Maria II, nascido e criado no centro de Vila Nova de Famalicão, está revoltado com o abate de árvores promovido pela Câmara Municipal, no âmbito das obras de reabilitação urbana, que vão custar 8 milhões de euros aos cofres municipais.

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Famalicão

João Alves, de 29 anos, filho de comerciantes do setor da restauração na Praça D. Maria II, nascido e criado no centro de Vila Nova de Famalicão, está revoltado com o abate de árvores promovido pela Câmara Municipal, no âmbito das obras de reabilitação urbana, que vão custar 8 milhões de euros aos cofres municipais.

“A Câmara Municipal apregoa que valoriza o ambiente, diz que quer fazer de Famalicão uma cidade verde e voltada para as pessoas, mas começa a obra deitando árvores abaixo. Não faz sentido. Não sou contra as obras, mas a valorização do ambiente tem que estar inserida no projeto e, na memória descritiva do projeto, não vi menção ao abate que foi feito.”

Em entrevista ao NOTÍCIAS DE FAMALICÃO, João Alves explica por que é que decidiu organizar uma vigília pelas árvores abatidas e considera que houve “má-fé” por parte da Câmara Municipal, uma vez que, “o abate de árvores nunca foi abordado”. E diz mais: “A Câmara Municipal não debateu o projeto com os comerciantes. Eu estive presente e o que fizeram foi apenas informar os comerciantes sobre o que estava decidido e o que iria ser feito até ao final do ano, pois não havia espaço para opiniões ou troca de ideias.”

João Alves estudou até ao 12º ano, trabalha no setor metalúrgico, é sócio do FC Famalicão e afirma que não milita em nenhum partido político. Sobre a mensagem que o abate massivo das árvores transmite às crianças e aos jovens famalicense, não tem dúvidas: “O abate de árvores diz às crianças e aos jovens que o ambiente é descartável e sem valor.”

“As árvores são património da cidade, parte da paisagem e da história. O que poderia ser feito, caso considerassem que algumas árvores estavam demasiado altas ou a representar algum tipo de perigo para as pessoas, era a poda. É isso que se faz em todo lado.”

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO – Afirma-se revoltado com o abate de árvores na Praça D. Maria II, promovido pela Câmara Municipal de Famalicão no âmbito de um projeto de obras de reabilitação urbana. Porquê a sua revolta?
JOÃO ALVES – A Câmara Municipal apregoa que valoriza o ambiente, diz que quer fazer de Famalicão uma cidade verde e voltada para as pessoas, mas começa a obra deitando árvores abaixo. Não faz sentido. Não sou contra as obras, mas a valorização do ambiente tem que estar inserida no projeto e, na memória descritiva do projeto, não vi menção ao abate que foi feito. Para justificar, surgiu o rumor de que as árvores estavam em mau estado. Não me parece. Eram árvores bonitas, fortes e saudáveis. Mas se alegam mau estado, que mostrem uma avaliação a comprovar isso.

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO – Esteve na organização de uma vigília pelas árvores derrubadas, na noite de 23 de outubro. Como foi a adesão dos famalicenses à iniciativa?
JOÃO ALVES: A vigília foi convocada em cima da hora e mesmo assim apareceram várias pessoas. Algumas sabiam do que se tratava, mas a maioria estava a passar, deparou-se com o nosso protesto e decidiu aderir. Havia gente que estava a ver, pela primeira vez, a triste cena do abate das árvores. A maioria das pessoas com quem falámos estava contra; uma pequena parcela manifestava esperança de que, apesar do abate, sejam criados mais espaços verdes. No entanto, na minha opinião, uma coisa não substitui a outra. Mesmo que plantem árvores de crescimento muito rápido quantas dezenas de anos demorará para termos novamente árvores com o mesmo tamanho, porte, beleza e proporcionando a mesma sombra? Nem tudo é substituível.

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO: Numa nota à imprensa, dando conta da realização da vigília, diz que nesta requalificação do Parque D. Maria II, a Câmara Municipal cometeu um ato intolerável. Porquê?
JOÃO ALVES: A Câmara Municipal agiu de má-fé. Na altura em que houve o debate sobre as obras esse tema nunca foi abordado. Falaram basicamente sobre o trânsito, que era uma grande preocupação dos comerciantes. Sobre o ambiente, apenas diziam que iam ser criados mais espaços verdes. O abate de árvores nunca foi mencionado.

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO – Como diz no comunicado à imprensa, a mensagem que o abate massivo de árvores transmite às crianças e jovens famalicenses é preocupante. Porquê?
JOÃO ALVES: Passa a pior mensagem. A mensagem de que o ambiente é descartável e sem valor; que o caminho a seguir deve ser o mais fácil. Atrapalha? Corta-se. Quando deveria ser justamente o contrário, falar sobre a importância da preservação.

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO: Acha que as árvores deveriam ser reenquadradas no projeto de reabilitação urbana?
JOÃO ALVES: Sim, claro. As árvores são património da cidade, parte da paisagem e da história. O que poderia ser feito, caso considerassem que algumas árvores estavam demasiado altas ou a representar algum tipo de perigo para as pessoas, era a poda. É isso que se faz em todo lado, exceto em Famalicão onde impera o pensamento do “quero, posso e mando”. E quem manda decidiu cortar.

“A Câmara Municipal não debateu o projeto com os comerciantes. Eu estive presente e o que foi feito foi apenas informar os comerciantes sobre o que estava decidido e o que iria ser feito até ao final do ano. Não havia espaço para opiniões ou troca de ideias.”

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO: A Câmara Municipal alega que o projeto foi posto à consideração dos famalicenses, que foi alvo de debate público e que todos puderam dar as suas opiniões. Soube disso?
JOÃO ALVES: Não foi um debate público. A Câmara Municipal não debateu o projeto com os comerciantes. Eu estive presente e o que foi feito foi apenas informar os comerciantes sobre o que estava decidido e o que iria ser feito até ao final do ano. Não havia espaço para opiniões ou troca de ideias.

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO: Tencionam ser ouvidos pelos partidos políticos com representação na autarquia?
JOÃO ALVES: Não pensamos nisso. Não temos expectativas em relação ao poder político. Somos um movimento cívico e o objetivo é falar diretamente às pessoas. É espalhar a mensagem: “Não gosta? Tem o direito de reclamar!”

As árvores da zona centrsal do parque da estecionamento da Praça D. Maria II foram todas abatidas. Fotografia NOTÍCIAS DE FAMALICÃO

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO: As árvores foram abatidas e as obras vão demorar um ano a ser feitas. Pelo menos é isso que está no contrato entre o município e o consórcio responsável pela empreitada. O que pensam fazer daqui para a frente?
JOÃO ALVES: Iremos continuar a manifestar-nos contra quaisquer etapas do projeto que signifiquem danos para a cidade. Um dos próximos passos é uma ideia que surgiu durante a vigília: colocar fitas vermelhas no gradeamento de proteção da obra em sinal de protesto.

Um grupo de jovens, liderado por João Alves, promoveu uma vigília de protesto contra o abate de árvores na Praça D. Maria II e no antigo campo da feira.

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO: Já pensaram em formalizar a criação de um grupo ou associação de defesa do património da cidade de Famalicão, nomeadamente ambiental?
JOÃO ALVES: É um caminho possível. Com a vigília deu para perceber que há pessoas com o mesmo pensamento, que é preciso fazer alguma coisa em defesa do ambiente em Famalicão. Portanto, possivelmente, a formalização será o passo seguinte.

NOTÍCIAS DE FAMALICÃO: Já contactaram a Plataforma em Defesa das Árvores e a Quercus? O que é que lhes foi dito?
JOÃO ALVES: Entramos em contacto com essas instituições através das redes sociais, enviamos fotos e denunciámos o que se está a passar em Vila Nova de Famalicão.

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