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Sexta-feira, 22 Novembro 2024
Carlos Folhadela Simões
Carlos Folhadela Simões
Formado em Ciências Farmacêuticas, é professor do Ensino Secundário. Cidadão atento e dirigente associativo.

365 dias e um almirante ambicioso

Eleito figura do ano por inúmeras publicações. Creio que uma distinção merecida. No entanto, com tamanho mediatismo, o agora almirante, Chefe do Estado Maior da Armada, tem dado notas de incongruência com o que dizia pensar há poucos meses.

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Carlos Folhadela Simões
Carlos Folhadela Simões
Formado em Ciências Farmacêuticas, é professor do Ensino Secundário. Cidadão atento e dirigente associativo.

Famalicão

366 dias. Não, não se trata de um ano bissexto . O número refere-se apenas ao facto de estarmos um dia após o primeiro aniversário da administração da primeira vacina. A 27 de dezembro de 2020, António Sarmento, infeciologista do Hospital de S. João, tornou-se o primeiro português, em território luso, a ser inoculado com a tão esperada e desejada vacina.

Em outubro de 2020, na Índia, aparece mais uma variante do Covid, data em que se inicia a denominação com letras do alfabeto grego e assim surgiu a Delta.

A 23 de agosto, a vacina (preparação destinada a gerar imunidade contra uma doença, estimulando a produção de anticorpos) da Pfizer/BioNTech recebe a aprovação final da autoridade do medicamento norte-americana (FDA), tornando-se a primeira vacina contra a COVID-19 para utilização de emergência, a ser oficialmente certificada para as pessoas com mais de 16 anos. No início de setembro, seguiu-se a aprovação pelo Grupo Consultivo Estratégico de Peritos em Vacinação da OMS.

A que foi desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca recebeu a aprovação em janeiro. Em março de 2021, a que foi desenvolvida pela Janssen, farmacêutica que é a subsidiária europeia da Johnson & Johnson, de toma única, foi aprovada. Em abril, a Moderna recebeu o assentimento da OMS. Ficaram adiadas a entrada na Europa das duas vacinas chinesas, a Sinopharm e a Sinovac. Em novembro, a OMS retomava o processo de avaliação da vacina russa, SputniK V.

Também nos países que nos são mais próximos, foi dezembro de 2020 um mês decisivo no primeiro ataque ao novo vírus. Assim seriam vacinados: a 8 dezembro, uma idosa de 90 anos, Margaret Keenan, num hospital em Coventry na região central da Inglaterra; na Alemanha, uma mulher, de Halberstadt, na serra do Harz, com 101 anos ; a espanhola Araceli Hidalgo, de 96 anos, foi a primeira imunizada; Mauricette, uma parisiense de 78 anos foi em quem foi iniciada a imunização em França; já em Itália, foram a enfermeira Claudia Alivernini, o oficial médico Omar Altobelli e a professora Maria Rosaria Capobianchi, os três eleitos para ser iniciada a imunização

De 27 de dezembro de 2020 para cá muita coisa ocorreu. A 9 de julho atingiam-se as 160 mil administrações diárias; a 21 de agosto teve lugar o início da vacinação dos jovens entre os 11 e os 15 anos; a 1 de outubro foram atingidos 85% de vacinados; a 3 de dezembro a DGS emite parecer favorável à vacinação de crianças entre os 5 e os 11 anos que se iniciou a 18 de dezembro; a 12 de dezembro atingiam-se os 2 milhões de vacinados com a dose de reforço, a 3ª; e infelizmente, hoje mesmo batia-se o record de infetados: 17 172 o que pode e deve estar relacionado com o aumento massivo da testagem. Há três dias foi atingido o número total de 1,28M de infetados e de 18 874 casos mortais.

Todos estes números, no que encerram de positivo tiveram um contributo fundamental de um homem, de seu nome, Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo, vice-almirante da Marinha, nomeado a 3 de fevereiro, coordenador da “task-force” da vacinação. A substituição de Francisco Ramos foi uma medida que encontrou aquele que daria um impulso decisivo no combate eficaz e concertado à epidemia.

Personalidade desconhecida da maioria dos portugueses, mas que se tornou marcante desde então. Homem de verbo fácil, pessoa rara e inesquecível, sereno e firme, olhar lúcido, parcimonioso, assertivo. Optou por um estilo coincidente com a sua postura e carreira militar. Camuflado, mas sempre visível na sua ação. Autor de frases que serão por certo recordadas. Postura exemplar nos confrontos com os seus detratores. À data, trememos, mas não tememos. Confiamos e partilhamos o seu esforço. Soube ouvir, analisar e ler a situação do país. Soube ler os sinais. Foi efetivo na consecução do programa que gizou para aquilo a que intitulou de guerra. É, pois, digno dos maiores encómios e cumpre ao país curvar-se perante a sua missão.

Eleito figura do ano por inúmeras publicações. Creio que uma distinção merecida. No entanto, com tamanho mediatismo, o agora almirante, Chefe do Estado Maior da Armada, tem dado notas de incongruência com o que dizia pensar há poucos meses. O almirante tem todo o direito de almejar promover um qualquer movimento cívico, de cogitar uma qualquer candidatura à Presidência da República, de palmilhar os terrenos que bem entenda. Bom seria que tudo a seu tempo, sem deixar transparecer o que parece ser uma sede de protagonismo e de marcar terreno para um futuro próximo.

A 25 de novembro, a África do Sul anunciava o aparecimento de uma nova variante a Ómicron. Desconhece-se se de facto terá tido origem aí. No entanto, e pelos dados atuais, é adquirido que será menos perigosa, mas que terá um maior poder de transmissibilidade. Daí o aumento exponencial de casos em variadíssimos países. Daí a necessidade do reforço de regras e de medidas de contenção.

Portugal, que se encontrava numa situação cimeira no combate à pandemia, substituiu o primeiro responsável pela estratégia montada e implementada no terreno, desmantelou centros de vacinação e, aparentemente, deu a transparecer que as dificuldades estariam ultrapassadas.

Como verificamos, nada mais errado. Atrasámo-nos na 3º dose, assistimos a filas intermináveis para testagem, percebemos a situação caótica das linhas do SNS e somos confrontados com as situações preocupantes das crescentes ocorrências aos serviços de urgência hospitalares. Por que chegamos aqui? Perdemos o norte ou relaxamos? Olhamos para os números e ficamos confortáveis? Ou mais uma vez desleixamo-nos ou precipitamo-nos? Janeiro de 2022 dará a resposta!

Por último e, face à situação que se vive, com inúmeras filas para testagem pelos mais diversos motivos uma nota: deverá o Estado continuar a pagar testes a quem recusou vacinar-se?

Infelizmente teremos ainda assunto para mais uns tempos…

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Carlos Folhadela Simões
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Formado em Ciências Farmacêuticas, é professor do Ensino Secundário. Cidadão atento e dirigente associativo.
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